2017 – RESCALDOS DA CAPEIA ARRAIANA EM VILA FRANCA DE XIRA

O Nosso Homem, depois de uma longa paragem obrigatória por motivos de saúde, já vai recuperando as forças (graças às boas cerejas do Fundão) e acertando nas teclas do computador.

Nada melhor para um convalescente  do que uma Capeia Arraiana, tal como aconteceu no passado três de Junho, na linda Praça de Touros em Vila Franca de Xira, junto às águas do Tejo.

Chegado cedo, já a azáfama se sente na coleção de materiais e na reconstrução do forcão, peça única no mundo com a qual rapazes e homens valentes enfrentam as investidas do touro bravo. Pouco a pouco, vão chegando os visitantes, do Sabugal dois autocarros, e o restante da população de Lisboa e das suas periferias. Noto que das capeias a que já assisti, esta parece-me a com menor número de pessoas, talvez a maior parte estivesse no Campo Pequeno. Num pequeno desfile, são notórias as freguesias ausentes, contrariando o que estava anunciado.

Muitas famílias levam os seus farnéis, as suas refeições, e como é timbre das nossas gentes repartem as suas merendas.

Interrogo alguns dos passeantes sobre a sua vinda a Vila Franca:

Paulo Carmo – “a minha presença não está ligada à Capeia Arraiana. Sou tesoureiro dos Bombeiros Voluntários do Sabugal e vim aqui como motorista para transportar o pessoal. Não gosto de touros, mas gosto imenso de conviver com todos os meus conterrâneos.”

Uma sabugalense que não se quis identificar “Não ligo a touradas, venho para estar com familiares e fazer convivência com aqueles que aqui se deslocam, neste espaço acolhedorque que nos rodeia”.

Hermínio Brito  – Cerdeira do Côa – “Venho porque faço parte do Grupo Etnográfico do Sabugal e vamos atuar para o público em geral no recinto da Praça de Touros, convidados pela Casa do Concelho do Sabugal de Lisboa, transmitindo alegria tauromáquica”.

Guilherme Teieira – Sabugal – “Tenho treze anos, mas aos dezanove já vinha assistir a este espetáculo. Nunca falhei e não quero faltar. Também participo porque pertenço ao Grupo musical. Tenho a oportunidade de rever amigos e conterrâneos que aqui se deslocam”.

Ana Rasteiro Tomás – Sabugal – “gosto muito das gairradas da minha zona. Quanto às touradas propriamente ditas já não aprecio. A capeia está-me no sangue. Adoro o cerro, ver passar em correrias loucas com os cavalos atrás”.

José Dias – Sabugal – “venho para a festa tauromáquica do nosso concelho que este ano me parece fraca. Estou aqui a prolongar as raízes que recebi dos meus antepassados, muito do agrado dos sabugalenses e de outras populações. Seria bom que este espetáculo se prolongasse por outras paragens, uma oportunidade para que muitas gentes de Portugal ficassem a conhecer”.

José Lucas – Aldeia do Bispo- “É um ato ótimo, todos têm oportunidade de ver esta tradição. Lamento que mais de metade das freguesias do Concelho do Sabugal não participem nas capeias arraianas.”

Entrevistada não identificada – Sabugal –  “não concordo com este evento taurino em Vila Franca de Xira. O local mais apropriado é o Campo Pequeno em Lisboa, muito digno, que chama muita gente. Tenho memória de  ali ver  milhares de visitantes e aqui é uma tristeza.”

Romeu Bispo – Sabugal – “a minha vinda a este local é para conviver, mudar de ambiente, aliviar a mente numa festa taurina única.”

José Moreira – Vale de Espinho – “É um evento lindo, maravilhoso, uma tradição do povo da raia que os jovens das aldeias do Concelho nunca devem deixar extinguir. Apesar de estarem poucas pessoas, sempre há gente que se conhece pela primeira vez.”

João de Matos– Aldeia da Ponte – “Gosto muito de touros. Quanto à minha esposa, é a primeira vez que aqui está, tem aversão a touradas. Vem apenas para me acompanhar”.

Enrique Pais – Vale de Espinho  – “ Só este acontecimento me faz deslocar aqui porque admiro esta atividade, a força em desafiar o touro.”

Jorge Caché  – Vila Boa – “ estou aqui para acompanhar e incentivar  a juventude, para que este evento que herdámos nunca deva desaparecer. Temos de transmitir e dar exemplo das nossas tradições às populações. Lanço daqui um Bem-Haja a todos os ribacôanos que aqui se deslocaram. Estou pela primeira vez, mas em Lisboa seria mais bonito”.

Vasco Manuel Carvalho Ramos – Sabugal – “Amigo, adoro a região arraiana e tudo o que diz respeito às touradas. Bem-Haja a todos. Tenho a oportunidade de realizar convívios, conhecer pessoas da nossa raia e arranjar amizades”.

Já a tarde ia adiantada quando cada um partiu para o seu destino, na esperança de que no próximo ano seja melhor.

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Junho/2017