III – Domingo do Advento

“Que devemos fazer?”

            João Baptista, proclamando a palavra de Deus, anuncia a proximidade do Messias e convida os seus contemporâneos a prepararem-se, através do arrependimento, para O acolherem. Muitos sentiram-se tocados pela sua palavra, aperceberam-se que estavam a seguir por um caminho errado, reconheceram a necessidade e a vantagem de voltar para Deus. Viram claro que algo havia a mudar na sua vida, que deviam retomar o caminho de Deus, mas não lhes resultava claro as implicações que isso traria, como é que a conversão se deveria traduzir na sua vida quotidiana.

            Interrogam João, querem saber como corresponder a este novo desafio. João não dá a mesma resposta a todos. Pelo contrário, tem em conta a especificidade de cada grupo de pessoas que se apresente diante dele, procurando fazer-lhes uma proposta ajustada à realidade da situação em que se encontram e vivem.

             À multidão, aos cidadãos comuns e anónimos, João manda repartir o vestuário e os alimentos, dois bens de primeira necessidade, com quem não tem. Mesmo aqueles que têm pouco, que era a maioria, devem partilhar com quem tem menos ou não tem nada. O pouco que eles possuem deve garantir o mínimo que os outros precisam para sobreviver.

            A conversão, o voltar o olhar e o coração para Deus implica a conversão ao semelhante, voltar também para ele o olhar e o coração, estar atento e ser sensível às suas necessidades. A conversão a Deus deve traduzir-se no amor ao próximo. Um amor que, através da partilha, faz viver e devolve a esperança àqueles cuja vida está ameaçada pelas injustiças sociais. Quem deseja acolher o Messias não pode permanecer indiferente e inactivo em relação aos mais desfavorecidos, precisamente aqueles a quem Ele prestará mais atenção.

            Os publicanos eram cobradores de impostos. Extrapolando o âmbito das suas funções, exigiam às pessoas mais do que aquilo que estava prescrito. Por isso mesmo, eram olhados com desconfiança e considerados como pecadores públicos. João convida-os a enveredar pelo caminho da justiça. Não devem exigir o que os outros não têm o dever de dar e que eles não têm o direito de possuir. Se a conversão exige repartir os próprios bens, muito mais proíbe que alguém se aproprie indevidamente do que pertence aos outros.

            Os soldados têm como missão garantir a segurança e estar ao serviço da paz dos cidadãos e dos povos. Não devem pois exercer a violência, muito menos uma violência arbitrária e gratuita, menos ainda exercê-la contra os mais frágeis e desprotegidos da sociedade. João lembra-lhes ainda que o afã de receberem um soldo maior não os deve levar a cair na tentação de denunciarem injustamente seja quem for.

            Há toda uma lógica nas respostas de João: a conversão a Deus exige o amor ao próximo; o amor ao próximo, que vai muito além da própria justiça, é, no entanto, inseparável dela; por sua vez, o amor e a justiça constituem o único caminho que conduz a uma paz autêntica e estável. Com estas propostas, João encaminha as pessoas para Jesus e prepara-as para acolherem o reino de Deus que Ele vai anunciar, cujos valores fundamentais são precisamente o amor, a justiça e a paz.

            “E nós, que devemos fazer?” Hoje, nós não interrogamos João. É de Jesus que esperamos a resposta. Hoje, é Jesus que nos interpela, provoca e questiona. É a Ele que devemos escutar e seguir. Interrogar Jesus sobre o que quer de nós constitui um enorme risco. Jesus pode dizer-nos o que nós não queremos nem nos agrada ouvir; pode exigir-nos mudanças que nós não consideramos necessárias; pedir-nos renúncias e sacrifícios que não estamos dispostos a fazer. Porém, se és sincero na pergunta, então é sinal que confias em Jesus e estás disposto a aceitar o desafio que Ele te faz, seja ele qual for.

            Jesus é mais exigente que João Baptista, porque veio completar a Lei, levá-la à sua plenitude. Por conseguinte, Jesus não te pede apenas que partilhes o que tens. Ele propõe-te que ames o teu próximo como Ele te ama a ti (Jo 13,34). Jesus não te pede apenas que não exijas o que não te pertence. Ele quer que tenhas fome e sede de justiça (Mt 5,6) e estejas disposto a sofrer por causa dela (Mt 5,10). Jesus não te pede apenas que não sejas violento. Ele quer que, como verdadeiro filho de Deus, te comprometas positivamente na construção da paz (Mt 5,9).

Pe. José Manuel Martins de Almeida