Sei de antemão que o título oferece desconfianças, mas o texto que se segue dissipa qualquer dúvida.
Nos finais do Século XIX nasceu na Bismula (Sabugal) António Alves Martinho, um dos grandes negociantes da zona arraiana sabugalense de peles, gados e carnes.
Casou com Maria da Piedade Lavajo, de quem teve quatro filhas e seis filhos. Por razões que a razão desconhece, um dos filhos mais velhos, José Alves Martinho, foi forçado a embarcar para Angola em 1920, indo fixar residência no Dango – Nova Lisboa. Mais tarde, juntaram-se o irmão Virgílio Martinho e a sua irmã Amália Martinho, a jovem bismulense mais bonita da época.
José Alves Monteiro organizava a sua vida, no comércio, na compra e venda de gados e nos transportes.
Com a crise resultante da II Guerra Mundial, os negócios, principalmente ligados à frota transportadora, sofreram grandes reveses, sendo forçado a fechar uma atividade, que em tempos anteriores lhe fora muito frutuosa.
Viajou para o Lobito, trabalhou no Porto Portuário. Viúvo, casou de novo em Dango – Nova Lisboa-, com Maria Emília Martinho, uma transmontana, de quem teve uma filha e quatro filhos. Ali nascem-lhe dois filhos. Em 1967, com sessenta e dois anos, numa idade fulcral para a família, aconteceu o seu falecimento. Apesar das dificuldades que este acontecimento acarreta para qualquer família, a viúva conseguiu custear aos filhos, dois cursos de enfermagem, um de medicina e dois de regentes agrícolas.
Com a “exemplar” descolonização, foram forçados a abandonar o território angolano e tentar a sorte em Portugal. Um dos filhos, Carlos Alberto Dias Alves Martinho, com o curso de regente agrícola, não conseguiu trabalho na metrópole, o que o obrigou a voltar a estudar. Os inúmeros currículos e contactos mereceram um silêncio total, talvez por ser mais um retornado.
Um homem com raízes na Beira não desiste à primeira, e perante as dificuldades, com a mãe em Coimbra e o irmão Jaime Martinho como um dos melhores médicos-cirurgiões nos HUC., matriculou-se na Escola Superior de Enfermagem, onde obteve com mérito o respectivo diploma.
Com o Curso de Enfermagem e por acção do falecido irmão Victor Martinho, professor de educação física no Liceu de Setúbal, foi trabalhar para o Hospital de São Bernardo. Disse para si: “Setúbal é uma cidade maravilhosa, lembra-me a cidade de Lobito onde nasci e vivi. Tem rio, mar, serra e principalmente tem pessoas amistosas. É a minha cidade e aqui ficarei…”
Há trinta anos, a convite do seleccionador nacional de futebol, o Professor Carlos Queiroz, integrou os quadros médicos como enfermeiro da Federação Portuguesa de Futebol. Há quase três décadas que trata os “dói-dóis” dos jogadores da Selecção Nacional.
A maior alegria que sentiu como profissional foi ter colaborado para que Portugal fosse campeão europeu em Paris, a cereja no topo do bolo. A pior foi a perda da final da mesma competição em 2004 em Lisboa.
Graças aos prestigiados serviços na Selecção Nacional, foram-lhe atribuídas as seguintes condecorações: Medalha de Mérito Desportivo, Comendador da Ordem de Mérito e Grão Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
Em 1962, Carlos Martinho, com oito anos, visitou pela primeira vez a Bismula, onde tem as raízes paternas, acompanhado pela sua mãe e dois irmãos – Jaime e Armando Martinho. Ficou com uma ideia muito positiva gravada na memória.
Desde que regressou de Angola, já várias vezes visitou a Bismula, mas “as rápidas estadias foram uma desilusão”. Tinha na sua mente de criança uma aldeia que “ agora é uma aldeia completamente descaracterizada, sem pontos de referências, sem quaisquer símbolos. Um casario em ruínas, misturado com construções sem gosto urbanístico, uma igreja destruída, o muro e as amoreiras desapareceram, as pedras do mercado onde estão? Hoje não seria possível tanta destruição patrimonial. Se na estrada e à entrada da freguesia onde nasceu o meu saudoso pai não estivesse uma placa a dizer BISMULA, não acreditava que estava a chegar ao seu berço natal”.
Parabéns ao CARLOS ALBERTO DIAS ALVES MARTINHO pelos sucessos alcançados!

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Agosto/2016

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