ALDEIA DE JOANES – JOAQUIM SALVADO RODRIGUES

Numa tarde de sol radioso e primaveril desloquei-me, juntamente com a minha esposa, ao Hospital da Covilhã para visitar o nosso amigo e vizinho – Joaquim Salvado Rodrigues -, doente no terceiro piso. Ali chegados, deparámo-nos com o nosso amigo em estado grave de saúde, direi mesmo em agonia.

Acariciámos-lhe as mãos e o rosto, já não me respondeu a pequenas perguntas, nem um sinal. Saímos preocupados e numa conversa da minha esposa com o Médico e Enfermeiro-Chefe percebi que a situação era muito complicada. Passadas umas horas, chegou a notícia esperada: acabara de falecer o nosso amigo Joaquim Rodrigues.

Não foi fácil a vida deste nosso Homem, nem a do casal Joaquim e Maria Rosa Fernandes. Na procura de melhor vida, emigrou para França. Encontrava-se em terras napoleónicas, quando a sua filha Maria José (Zezinha) faleceu, com a Esposa no Hospital a lutar pela vida. Com tanta dor e sofrimento, nunca mais voltou às terras de emigração, empregou-se na ex-Empresa Lambelho & Ramos Lda. e nas horas vagas dedicava-se à cultura hortícola, na Nave de Cima.

A sua menina de tenra idade, em câmara ardente no lar que a vira nascer, foi esperada por um cordão humano de centenas de crianças – da Catequese, acompanhadas pelas Catequistas, e da Escola Primária com os respectivos Professores -, que em cortejo seguiram para a Igreja Matriz, onde decorreram as cerimónias fúnebres. Naqueles tempos havia uma estreita colaboração entre a Paróquia, a Escola e a População. Todos davam as mãos em solidariedade.

O Pároco – Padre Manuel Joaquim Martins -, um Homem das proximidades e das humanidades, sentiu forte emoção com a partida desta criança tão bela e pura como a flor da cerejeira. Esperava-a, ao longe, o maciço central da Estrela vestida de branco… Há poucos anos, a sua filha Ana Maria (Anita) também partiu…

Quase todos os dias me cruzava com o nosso Homem nos caminhos da nossa pequena agricultura familiar, colocávamos sempre a conversa em dia. Muitas vezes bebíamos um copito da sua pinga caseira, acompanhado por postas de bacalhau, bifanas, entrecosto assado em lume improvisado pelo seu cunhado João, e sempre as saborosas azeitonas com o Pão do seu forno. O nosso amigo Zé da Casa Tininha, depois de visitar a campa da esposa, também nos acompanhava, era um contador de histórias incríveis de caça e caçadores, e à mesa fraterna não faltava o relato das suas aventuras nas Termas da Cúria.

Adorava levantar-me cedo e ver fumegar a improvisada chaminé do seu forno, onde a D. Rosa Fernandes aprendera com a sua mãe – Maria Ressurreição – a arte de amassar o Pão. Nessa paisagem de harmonia, um Homem só podia sentir-se feliz, imaginando as Filhós do Natal, os Bolos da Páscoa e outras doçarias cujos aromas se espalhavam pelo Céu de Aldeia de Joanes.

Sempre que os visitávamos na sua residência, sita na Zona Histórica junto à Capela de Nossa Senhora do Amparo, tinham sempre iguarias em cima da mesa para partilhar.

A D. Rosa Fernandes acompanhava o marido em todos os trabalhos agrícolas. E quantas vezes tive a alegria da sua companhia em viagens da Comunidade de Aldeia de Joanes: Elvas, Évora, Caldas da Rainha, Fátima… Tantas peregrinações de afectos e partilha.

A D. Rosa Fernandes, com a sua voz musical, ainda participou no Grupo de Cantares de Aldeia de Joanes, gravando um CD de melodias regionais e religiosas com o título “Ao Cimo dos Olivais”, e chegou a pertencer ao Grupo Coral da nossa Igreja.

Neste dia de Primavera, desceu à terra mais um amigo.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Março/2018