Nasceu há cem anos no Souto da Casa (Fundão), oriunda de uma família dedicada ao fabrico de pão para consumo doméstico, mas muito nova assentou arraiais em Aldeia de Joanes, que considera a sua terra natal. Aqui casou com Fernando Nogueira Lourenço, juntaram os seus trapinhos e foram viver para a Quinta da Barrosa, daquela freguesia.
Com alguns hectares e com muito trabalho rural obtiveram o seu sustento familiar, sem necessidade de emigrar. A exploração de uma agropecuária, cultivo de vinha, venda de fruta aos negociantes de Alcongosta, e dois setores fundamentais e grande significado económico, a colheita de cerais e extração de cortiça.
Há cerca de cinquenta anos naquele território com os esforços de Manuel Bernardo de Campos, de João Lourenço Nogueira e outros cidadãos de Aldeia de Joanes, conseguiram a disponibilização de uma parcela para a prática de futebol. Com a contrapartida de uma renda anual, mais simbólica do que real, ali se realizaram inúmeros jogos com as aldeias vizinhas, acompanhados por vinho e uns petiscos, servidos na Adega do proprietário. Fundado o Grupo Desportivo de Aldeia de Joanes, com sede na Casa do Povo/Junta de Freguesia, na Rua do Castelo, equipamento à Ajax da Holanda.
Com a venda da Quinta da Barrosa o futebol acabou em Aldeia de Joanes, apesar de os sinos tocarem a rebate para recuperar este espaço desportivo. Paradoxo dos paradoxos, o atual proprietário é César Brito, oriundo da Freguesia do Barco, uma das grandes glórias do futebol benfiquista e alguns dos seus familiares ali jogaram.
No passado dia 21 de Março, dia mundial da poesia, festejou o centenário do seu aniversário no Lar do Tortosendo, onde se encontra como utente há anos.
Ao longo de uma conversa informal num ambiente familiar é invejável a sua lucidez e clareza de exposição de ideias, despertando-nos a atenção a simbologia dos seus gestos, dos movimentos das suas mãos.
Assim quando nos fala dos seus netos, (quatro) e dos bisnetos (catorze), leva-as junto ao coração, enquanto o seu olhar se reparte pelas diversas fotografias do seu quarto.
Quando fala dos trabalhadores da quinta e lhes ofertava alguns bolos, as mãos imitavam o amassar dos mesmos.
Quando nos fala dos seus trabalhos de bordados e rendas ficamos a saber as técnicas de onde saiam obras perfeitas. “Agora já não faço nada…tanto que eu queria trabalhar.”
Quando nos fala na amizade estreita com as gentes de Aldeia de Joanes, as mãos apertam-se junto ao coração. As suas ligações são tão profundas que manifestou o desejo de ali ser sepultada.
Quando fala do seu passado as mãos estendem-se ao longo do corpo e o seu olhar, vai mais além, um passado que já não se repete.
Quando evoca a morte de um filho e de um genro as mãos tremem e o rosto é invadido pela dor e pelo sofrimento.
Como ficaria feliz esse grande e saudoso ator de nome António Silva de saber que no Lar do Tortosendo, uma senhora que seria concorrente ao falar com os gestos das suas mãos.
No dia 21 de Março, dia mundial da poesia, início da Primavera, Aurora Martins de Campos fez cem anos na companhia dos familiares e amigos. Cem anos são um feito, mas como afirmava o cineasta Manoel de Oliveira, “ o grande feito é o trabalho que se fez.” Quando lhe perguntam o futuro, responde, “ não sei, até que Deus queira, é Ele o Senhor da Vida e a Ele pertence. ”
PARABÉNS, a esta jovem centenária e na próxima Primavera fazem-se votos para a celebração do 101º Aniversário natalício.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Setembro/2016

ALDEIA DE JOANES – MÃOS CENTENÁRIAS

ALDEIA DE JOANES – MÃOS CENTENÁRIAS