Aldeia de Joanes, durante o século passado, vivia quase exclusivamente da agricultura, com muita gente assalariada, pequenos e médios agricultores. No entanto, existia meia dúzia de grandes proprietários, situados a norte. A sul sempre esteve a encantadora Serra da Gardunha, com as suas pequenas colinas, mais vocacionadas para a plantação de pomares, principalmente de cerejeiras. Os chamados grandes “ agrários” eram os senhores da Quinta do Serrado, da Quinta do Campo, da Família de Luís Silveira, da Quinta do Prado Infante, da Quinta das Tílias da Família de Armando Carneiro e Quinta da Família dos Paulouros.

Nessa época, Aldeia de Joanes tinha três grandes vetores na economia agrícola: os cereais, o azeite e o vinho. Todas as outras produções – frutos ou vegetais – estavam em plano secundário.

Os cereais estavam no cume da pirâmide e tinham tanta importância social, laboral, humana e musical, que quando o etnólogo Michel Giacometti fez as gravações para o programa televiso “ POVO QUE CANTA”, registou um rancho de gentes de Aldeia de Joanes labutando na ceifa das searas de centeio e nas mondas do milho com os cânticos populares e genuínos destas gentes. Uma ceifeira e aguadeira, que partilhou naqueles eventos, Glória Maria Roxo Campos, hoje com noventa e três anos, num poema satírico e sarcástico, cantarola: “quem tem um forno/ tem um corno/quem tem um forno e um lagar/tem um par/quem tem um forno, um lagar e uma azenha/não há corno que lá não venha”.

As espigas eram malhadas a mangual pelos braços fortes e robustos de malhadeiros, em muitas eiras feitas com barro amassado nos campos das searas ou perto. Recolhidas as sementes, estas eram levadas, por moleiros credenciados pelos muitos anos de bem moer, para as azenhas das ribeiras do Souto da Casa.

No fabrico do pão havia em Aldeia de Joanes três fornos, um particular, propriedade do Senhor Cruz, junto à Igreja Matriz e dois com cozeduras comunitárias, o Forno do Senhor Salvado, na Rua do Alto, e o Forno de Maria Rosa Nunes “a Menina Estela.” Atualmente, com a aquisição, intervenção e recuperação, contando com a ajuda de alguns investimentos, a Junta de Freguesia de Aldeia de Joanes, tem ao dispor de toda a população, o Ex Forno do Senhor Cruz, junto à Igreja Paroquial, em boas condições de funcionamento, um local para boas cozeduras e um espaço pedagógico e cultural para crianças e adultos.

No setor das Padeiras, aquelas que faziam e vendiam pão, encontrávamos a Hermínia Alves Nogueira e a sua irmã Elisa Alves Nogueira; Maria Laura Carvalho, Maria da Conceição Simões “ Doninha”, Ana Silva “ Passa”, Maria do Carmo Nunes, Teresa do Carmo Nunes e Joaquina Cunha.

Estas empresárias de panificação, não tinham uma vida fácil. O Estado Novo decretara quotas no fabrico e quem não cumprisse estas regras, podia contar com coimas muito pesadas e a possibilidade de encerramento das atividades de panívoras. A vigilância era muito apertada. Portanto, o fabrico era quase clandestino, principalmente quando se ultrapassava os índices estabelecidos. Aliás, viviam-se tempos difíceis e de racionamentos em muitos produtos de primeira necessidade.

Para as ajudar no fabrico, havia as Forneiras, as que peneiravam, amassavam, fintavam a farinha, colocavam e tiravam os pães do forno. Aqui ficam os nomes, para não as esquecermos: Maria das Dores Domingos, Rosa Maria Diogo Veríssimo, Maria da Ressurreição Veríssimo e Emília dos Santos.

Entre os grandes compradores, estavam os mineiros da Panasqueira, que tinham de alimentar os seus filhotes. Vinham pela calada da madrugada, em meios de tração animal e humana, senhas e contra senhas, uma pedrinha a bater numa janela, um toque acordado numa porta e aí estavam a carregar sacos de pão.

Algumas Tabernas do Fundão eram abastecidas – a Taberna do Zé do Telhado, o 1º de Dezembro e o 1º Janeiro na Rua da Cale e a Taberna de Santo António, junto à Capela de seu Patrono-, além das vendas no mercado do Fundão, entre ouros sítios.

Hoje os Caminhos do Pão estão praticamente fechados em Aldeia de Joanes e no resto do País. Os terrenos que davam pão, milho, cevada, trigo, estão hoje abandonados ou transformados em coutadas de “coitados”. Assim, os deficits e dívidas públicas continuam a crescer milhões todos os dias. Até quando…

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Setembro/2014