O Jornal do Fundão promoveu uma campanha de divulgação deste importante semanário no mercado do Fundão, no coração de Agosto, junto de feirantes, comerciantes e do público de uma forma geral, cerca de quatro mil pessoas. Neste universo alargado, há quem passeie, quem converse, quem observe, quem discuta, quem encontre um amigo, quem encha o saco de compras.  

O Jornal do Fundão, atendendo ao fluxo migratório nesta época do ano, com as férias de milhares de emigrantes, lançou uma edição especial sobre o tema da emigração. Convém lembrar que há dois milhões e meio de portugueses no estrangeiro. Os itens estavam bem abordados no Jornal: uma breve história da odisseia portuguesa; retratos de uma nova emigração; um olhar dos emigrantes da terceira geração; como concorrer ao programa “regressar”.

Como gosto de participar nestas inciativas, ofereci-me como voluntário nesta acção. Assim, munido de um saco com o Jornal do Fundão a tiracolo, coloco-me à entrada nascente do mercado, junto a um improvisado gabinete de apoio e esclarecimentos aos assinantes, principalmente aos da nossa diáspora.

Inicio assim uma aula prática de sociologia através do contacto directo e informal com as pessoas.

No improvisado guião, pergunto às pessoas se conhecem, se lêem, se são assinantes do Jornal do Fundão.

De uma forma global todos os intervenientes afirmam que conhecem este Jornal. Apenas um estranho emigrante, nascido nas Donas (Fundão), afirma categoricamente não conhecer o Jornal: “Sou francês de Lille”.  

O ÚLTIMO PASTOR URBANO

O ÚLTIMO PASTOR URBANO

Encontro pessoas que há mais de cinquenta anos assinam e lêem o Jornal do Fundão, que o recebem com muito carinho. Em contrapartida, também há outras que desistiram: “fala pouco sobre as nossas terras”. Às vezes acontecem diálogos inusitados:

– Não gosto. 

– Mas já leu?

– Nunca li, por isso não gosto. 

– Não quer dar uma olhadela?

– Não, gosto de não gostar. 

Adiante outro diálogo interessante:

– O Jornal não tem pensadores livres. 

– Pode dar-me um exemplo de um pensador livre?

– Eu. 

Aproxima-se um forasteiro afrancesado, cordão de ouro bem reluzente ao pescoço e andar de gingão:

– Posso oferecer-lhe o Jornal do Fundão?

– Não, obrigado, só leio jornais com anúncios de gajas. 

Segue-se um idoso:

– Já leu o Jornal desta semana?

– Tem poucos mortos.

– Acha que morre menos gente?

– É bem capaz, a medicina está muito evoluída. Eu cá gosto de ver as fotografias da gente que morre.   

–  Não gosta de ver as fotografias da gente que vive? 

– Também gosto, mas conheço melhor os mortos. 

Outro idoso:

– Gostaria de assinar o Jornal do Fundão?

– Leio no café, assim passo melhor o tempo de reformado.

Aproxima-se um indivíduo, olhando para o saco patrocinado pela EDP:

– EDP? Não quero nada com esses gatunos!

Abeiro-me de um sujeito:

– Lê o Jornal do Fundão?

– Não, sou analfaburro. 

– Então talvez não seja má ideia matricular-se na Escola Primária. 

No gabinete do Jornal do Fundão um emigrante dá o bonjour e dispara:

– Venho deitar-me abaixo do Jornal.

Uma senhora da terceira idade:

– Não fui à escola, os pais punham-nos a trabalhar cedo, mas os meus filhos e netos lêem-me sempre o Jornal do Fundão em França. 

Um senhor:

– Gosto mais de ir ao quiosque comprar o Jornal. 

Um rapaz:

– Vou já pagar a assinatura do Jornal do Fundão, faço-o por gosto e para honrar a memória do meu falecido Pai que todas as semanas ansiava pelo Jornal. 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Agosto/2019