BISMULA – A FESTA ANUAL REGRESSOU ÀS SUAS ORIGENS

No tempo da minha infância havia três festividades religiosas na Bismula, salvaguardando a Páscoa, Dia de Todos os Santos e Natal. A primeira era logo em Janeiro – a Festa de S. Sebastião-, que se prolongava por dois dias. No primeiro dia, na Igreja, em volta de um túmulo fúnebre (recordo a armação de madeira coberta de panos pretos), muitos sacerdotes das paróquias vizinhas cantavam salmos em latim, sufragando as almas dos inúmeros irmãos da Irmandade. No dia seguinte era a Festa ao Mártir S. Sebastião, em cenários menos tristes e pesados.

Seguia-se em Junho, com um carater mais secular, a Festa de S. Pedro – a festa do povo. Dava-se a queimada de um mastro, tronco de pinheiro, enfeitado com rosmaninho. Os rapazes faziam o grosso do trabalho e as raparigas colocavam no topo uma boneca de saias largas que as próprias confecionavam. Na Relva, Ladeira e Praça, acabavam por lhe deitar fogo. Saltava-se as fogueiras e todos se divertiam…

Em finais de Setembro, era a grande Festa Anual a Nossa Senhora do Rosário. Com a emigração da década de sessenta, foi alterada a data para os dias 14 e 15 de Agosto.

Todos os anos eram nomeados os respetivos mordomos, que sentiam muita honra, orgulho e até vaidade por desempenhar tão importante e útil cargo.

Os tempos mudaram, o programa essencialmente religioso do passado foi praticamente diluído nos diversos conjuntos musicais populares e profanos, que custam uma pipa de massa ao zé-povinho. Todavia, por força da crise, aqui e acolá regressou o carácter religioso.

Não me parece por acaso que os mordomos, nomeados para a Festa Anual de 2015, não tivessem querido assumir esse compromisso, desde logo porque é muito difícil angariar fundos para custear as muitas despesas da festividade. Assim, este ano houve menos barulho e mais fé, menos cacofonia, copofonia e mais genuíno convívio.

No dia 13 de Agosto, o Povo Bismulense participou ativamente na Procissão das Velas. No dia 14, deu-se a celebração eucarística e mais um ato de fé – a Procissão do Santíssimo Sacramento com as ruas engalanadas para o efeito. No dia 15, regressou a imagem de Santa Ana à sua Capela, com um grande acompanhamento. Num ambiente rural e natural decorreram as cerimónias religiosas. Apesar de o tempo ameaçar chuva, que bem necessária e desejada é, desta vez a Santa Ana não fez o obséquio, nem o milagre, como tantas outras vezes aconteceu.

O Pároco apresentou uma equipa de jovens (é necessário fazer pontes com os mais novos), que em 2016 vão organizar as Festas Anuais da Bismula. Aqui deixo os nomes dos dez heróis: Marise Salgueiro Pires, Nelson Miguel Tomé, José Pedro Cardoso Dias, Edgar Ribeiro Tomé, António da Graça Batista, Duarte Salgueiro Pires, Gonçalo Filipe Diogo Vicente, Manuel João Tomé, Duarte Fino Carreira Tomé Fernandes e Pedro André Carreira.

Como todos os anos acontece, a Festa Anual da Bismula fechou com chave de ouro. A Junta de Freguesia, num gesto louvável e meritório proporcionou uma sardinhada a todos os habitantes, que desejaram e se apresentaram nas instalações autárquicas, onde decorreu aquele evento gastronómico e de são convívio.

Parti com os sons afrancesados dos muitos jovens que já esqueceram a língua de Camões. No coração os abraços de despedida e na lembrança o burro-despertador, que me acordava todas as manhãs, a zurrar não muito longe do meu dormitório.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Agosto/2015

Foto de arquivo

Bismula - A festa anual regressou às suas origens