Apesar das minhas dificuldades físicas, marco presença no dia da Festa Anual da minha terra natal, em Honra de Nossa Senhora do Rosário.

À chegada aos limites da freguesia, vejo uma grande tarjeta, com uma frase bem significativa: “ Bismula Saúda-vos – Festas 2013”. Avanço alguns metros e encontro as ruas principais engalanadas, transmitindo aos forasteiros o ambiente festivo que ali se vive. Para celebrar a terra, oiço a Banda Filarmónica de Cortes do Meio (Covilhã), que percorre todas as residências, acompanhada pelos mordomos.

Na Igreja Paroquial, os andores perfilados de Cristo Crucificado, de Santa Ana e da Padroeira da Paróquia estão muito bem adornados. Este trabalho deve-se aos mordomos, suas famílias e a todo um povo, que vive o bairrismo de forma activa.

A Eucaristia inicia-se com o templo repleto de fiéis e muita juventude. O Padre Hélder Lopes dirige-se à assembleia com uma pergunta: “qual a Solenidade de Maria que estamos a celebrar?” Os mais desinibidos respondem prontamente que é a Festa da Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Eu acrescento que felizmente o poder económico-político-religioso ainda não eliminou este dia santo e, por consequência, feriado.

O Pároco refere, e muito bem, que as Festas Religiosas nestas terras da raia são o passaporte e o bilhete de identidade para a eterna recordação: “Não as fazer é perder e esquecer a nossa cultura, a nossa história, a nossa religiosidade; é não respeitar a identidade dos nossos antepassados. Todos os anos, nestas festividades, temos de descobrir a mensagem do Evangelho. Neste Ano da Fé, temos obrigação de procurar a alegria, a partilha, as razões da nossa Fé. Glorificamos o Senhor da Vida para nos dignificarmos enquanto Homens. “

Na Liturgia do dia, oiço a leitura do Evangelho em torno da pergunta: “porque Maria é a bem aventurada, porque é bendita?” As respostas não se fazem esperar e estão bem expressas no Evangelho de S. Lucas. Maria foi escolhida para ser a Mãe do Salvador. Deus tem um projeto para todos nós e, apesar de todos os problemas, a nossa maior vocação é a santidade; salvarmo-nos sermos benditos.

O Padre Hélder Lopes esclarece, ainda, que a Festa da Assunção se iniciou nos séculos IV-V e foi o Papa Pio XII, que proclamou solenemente em 1950, que Maria assunta em corpo e alma à glória celestial.

O Celebrante termina as suas palavras catequéticas com um poema à Virgem Maria da Poetisa Maria de Lurdes Belchior. Muitas pessoas apreciam esta forma de pregação,

Antes de se iniciar a Procissão, participada por todo o Povo Bismulense, são indicados os mordomos para o ano 2014: Domingos Tomé Vaz, António Monteiro Cabral, Manuel Joaquim Tomé, Alexandre Inácio Martinho, José Martinho, Sónia Tomé, Solangue Tomé e Manuel Eduardo Carreira.

Estas Festas são janelas de encontros, reencontros e vivências. As gentes vêm de diversas localidades do País, do Brasil, de Angola, França, Suíça, Alemanha e de outras paragens, onde com trabalho encontraram futuro.

Mário Joaquim Videira, ex-combatente e prisioneiro na Índia Portuguesa, troca abraços com um conterrâneo que não via há sessenta anos.

Também Joaquim Gonçalves, “ Gabiza “, o soldado de máquinas de terraplanagem no Batalhão de Engenharia 447 da Guiné – que prestou serviço militar em rendição individual entre 1969 e 1971-, dá um abraço ao alferes seu conterrâneo. Desde essa data de guerra que nunca mais se tinham encontrado.

Surge Glória dos Anjos Pires Videira, uma “jovem rebelde”, repleta de vida e alegria, que encenou na década de sessenta, no Salão da Bismula, a peça cómica de teatro infantil “O Descasado“, com Manuel José Fernandes e Francisco dos Santos Vaz. Ainda hoje em Carnide (Lisboa), não esquece esta arte. No almoço da festa, conto quarenta e três pessoas à sua volta, escuto-a confessar, ao vasto auditório, que tem “uma saudade em cada esquina, uma recordação em cada rua, uma memória em cada largo”.

Dou um passo e passo uma nota negativa: vejo o depósito do lixo nos currais do lado norte da Igreja Paroquial, e o espaço adjacente com erva e mato por cortar, estranhando que nem na Festa Anual seja limpo. O meu companheiro de viagem, autarca, já me chamara a atenção para esse facto.

 Enquanto a Banda Filarmónica Recreativa Cortense entoa no Recinto das Festas a marcha final “O Gaitinha“, sob a batuta do maestro António Marques, damos os últimos abraços afectuosos, com o desejo de estarmos presentes no próximo ano e trocarmos felicidades até às Festas de 2014, que além de perpetuar uma tradição é um regresso às nossas origens.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Agosto/2013