12 anos ao serviço da Diocese da Guarda, no exercício do Ministério Episcopal

 

Faz hoje 12 anos que cheguei à Diocese da Guarda, como Bispo Coadjutor, nomeado ainda pelo Papa S. João Paulo II.

Fui muito bem recebido, apesar do frio que se fez sentir naquele dia e na semana que se lhe seguiu, durante a qual, nas minhas deslocações pela Diocese, cheguei sempre casa com temperaturas negativas, compensadas, é certo, pelo forte calor humano que encontrei nos sacerdotes e nos fiéis em geral.

 

É este o momento para dar graças pela forma como o próprio Deus tem actuado em favor do seu povo, através do ministério que me confiou; mas também tempo para fazer revisão das opções feitas e  das iniciativas desenvolvidas; revisão principalmente sobre os objectivos definidos e atingidos ou não e sobre a forma como foram reunidos os meios humanos e materiais necessários para dar vida à nossa comunidade diocesana.

Nesta minha revisão diante da Diocese, vou fixar-me no tempo que decorreu desde o último 16 de janeiro (2016).

 

  1. Ao longo deste ano, a minha grande preocupação, como a de todo o nosso presbitério e outros agentes pastorais foi a de preparar o melhor possível a nossa assembleia diocesana, que, por graça de Deus, já tem as suas três sessões marcadas para os meses de Abril, maio e junho próximos.

Nesse sentido, procurámos fazer um esforço concertado para reflectir com todo o Povo de Deus, mas principalmente com os nossos mais directos colaboradores, as formas como estamos a celebrar a Fé, tal como nos dois anos anteriores tínhamos feito em relação à catequese e à nossa experiência de sermos Igreja. Pedimos que se fizessem chegar ao secretariado diocesano da coordenação pastoral as reflexões feitas nos diferentes grupos e instâncias de cooperação pastoral com os nossos párocos. Chegaram algumas reflexões, embora não com o número que nós desejávamos. Isto demonstra que temos de continuar o esforço de educar para a participação na vida das comunidades, a começar pela elaboração dos respectivos projectos e programas.

Nomeámos a Mesa da Assembleia Diocesana, com a missão de reunir todos os dados das reflexões feitas e elaborar o “Instrumentum Laboris” (documento de trabalho) preparatório da assembleia. Este documento foi, graças a Deus, já elaborado e apresentado à Diocese no dia 1 de outubro passado.

Pedimos que o mesmo “Instrumentum Laboris” seja trabalhado pelos conselhos pastorais arciprestais e também pelos colaboradores mais directos de cada pároco e que o resultado desse trabalho seja enviado à Mesa da Assembleia diocesana. Está em curso este processo para, com base nos seus resultados, serem elaboradas as proposições que serão presentes às 3 sessões da assembleia diocesana.

Estão definidos os delegados à mesma assembleia, pedindo-lhes nós que também se empenhem em reflectir o “Instrumentum Laboris”.

Distribuimos pela Diocese um formulário de oração a pedir a bênção de Deus para esta nossa assembleia, esperando que ela seja rezada regularmente em todas as comunidades paroquiais e outras.

Em todos este processo quisemos responder ao apelo do Papa Francisco que, na “Evangelii Gaudium”, nos desafia a fazer caminhada sinodal, apelo que remonta ao Concílio Vaticano II, que, também no processo de preparação desta assembleia quisemos revisitar.

Que o Senhor nos ajude a aproveitar esta oportunidade para juntos discernirmos bem os apelos do Espírito para o presente e o futuro próximo da nossa diocese.

 

  1. O Jubileu da Misericórdia convocado pelo Papa Francisco para comemorar o cinquentenário do Concílio Vaticano II motivou um programa abrangente que tocou todos os nossos arciprestados e paróquias. Definimos as Igrejas Jubilares dentro da Diocese. Para além da Sé Catedral da Guarda, Igreja Jubilar para toda a comunidade diocesana, indicou-se uma Igreja jubilar em cada um dos 15 arciprestados. Decidimos que em cada uma destas Igrejas e a partir dela houvesse um programa jubilar anunciado em todas as Igrejas do arciprestado. Com esse programa quisemos oferecer às pessoas em geral lugares e tempos de atendimento pelos sacerdotes, com ou sem sacramento da reconciliação. Quisemos que houvesse celebrações eucarísticas regulares, rotativamente presididas por cada um dos padres do respectivo arciprestado, com pregação centrada nas grandes preocupações do Jubileu sobre as quais foi indicada documentação apropriada; que houvesse tempos fortes de oração pessoal e comunitária, incluindo adoração eucarística e peregrinações. O sentido da peregrinação, o valor da indulgência ligada ao Jubileu e a prática das 14 obras de misericórdia, de acordo com as indicações da bula “Misericordiae vultus” foram sempre os assuntos tratados nos diferentes programas jubilares.

Cada arciprestado organizou pelo menos uma peregrinação jubilar presidida pelo Bispo Diocesano, em que se valorizaram os símbolos jubilares da peregrinação e da indulgência, com as condições requeridas e se fez o apelo para que as 14 obras de misericórdia – 7 corporais e 7 espirituais – façam parte dos programas de vida pessoal, familiar e mesmo comunitária.

Fizemos na catedral com a devida solenidade abertura e encerramento do ano jubilar.

 

  1. Durante o ano de 2016, no mês de março, o Papa Francisco presenteou-nos com mais um documento de decisiva importância para a vida da Igreja e da sociedade em geral. Trata-se da exortação apostólica “Amoris Laetitia” (A alegria do amor), com suas orientações pastorais sobre a Família, resultantes do trabalho de dois sínodos convocados pelo mesmo Papa, um em 2014 e outro em 2015.

Esta exortação apostólica é um documento programático, que exige muito sobretudo de nós sacerdotes para atendermos bem as famílias, nas diferentes situações em que se encontram. Conjugando as preocupações deixadas por esta exortação com as do “motu proprio” do mesmo Papa intitulado “Mitis Judex Dominus Jesus”, sobre processos de declaração de nulidade matrimonial anteriormente publicado (2015), sentimos que a nossa pastoral familiar tem de fazer esforço para se renovar. Por isso, depois de informação geral dada a todos os sacerdotes e diáconos, entendemos que devíamos oferecer-lhes uma formação mais detalhada e aprofundada sobre os assuntos tratados nestes dois documentos, em ordem a que a nossa pastoral ordinária os possa ter em conta nas circunstâncias diferenciadas de cada uma das famílias e também para que a pastoral familiar como tal possa aperfeiçoar as suas respostas às novas situações sobretudo as que aparecem envolvidas  em maiores dificuldades.

Por isso, nos dias 2 e 3 de fevereiro teremos connosco três professores do Instituto de Ciências da Família da Universidade de Salamanca para nos ajudarem a perceber mais e melhor os novos problemas da vida em família e a descobrir caminhos de acompanhamento devido a cada caso.

 

  1. Uma outra preocupação que nos acompanhou ao longo deste ano e vai continuar foi a procura de formas renovadas de responder convenientemente ao cuidado pastoral das nossas paróquias e conjuntos de paróquias.

Isto, quando diminui o número de sacerdotes, isso é verdade, mas quando também temos um número significativo de diáconos permanentes que queremos valorizar cada vez mais; e já começámos a formação de um novo grupo.

Além disso, foi nosso propósito, ao longo deste ano, lançar em todos os arciprestados a formação de coordenadores de assembleias dominicais na ausência do presbítero e, com essa finalidade, já temos definido e aprovado um programa que deve ser cumprido em quatro momentos, para formação doutrinal e prática destes coordenadores.

Também sentimos a necessidade de diversificar as respostas pastorais de acordo com os contextos diferenciados que temos. Por isso, começámos já a desenvolver esforços para termos programas específicos de pastoral de cidade.

É nossa sensação que há serviços, sobretudo na área da formação, incluindo a catequese, que precisam de ser centralizados no arciprestado.

Para termos uma pastoral que responda à proposta de caminhada sinodal que nos é feita, nomeadamente de forma insistente pelo Papa Francisco, precisamos que funcione em cada arciprestado o seu Conselho pastoral Arciprestal e que cada pároco tenha também o seu conselho, com o qual partilha preocupações e que o ajude a tomar as decisões que se impõem.

Começam, assim, a desenhar-se algumas formas de renovar a nossa prática pastoral que hão-de conduzir à desejada reorganiza­ção da Diocese, a qual, como é óbvio, nunca estará feita em definitivo.

Perante estes e outros desafios pastorais, ao longo deste ano, cresceu em nós a convicção de que só uma saúde muito forte dos nossos padres e dos outros agentes pastorais pode dar resposta adequada ao que legitimamente exige a nossa pastoral.

E quando falamos em saúde, queremos referir-nos à saúde física, mas também e sobretudo à saúde espiritual e àquela que se reflecte nas boas relações e na cooperação que tem de existir sobretudo em presbitério, com expressão visível em cada arciprestado, onde a jurisdição que cada pároco tem sobre a sua ou suas paróquias precisa de ser bem conjugada com a vontade de dar colaboração aos outros párocos e seus serviços. Estou convencido de que precisamos de saber conjugar cada vez mais e melhor, na nossa vida sacerdotal, dois princípios – o da jurisdição e o da cooperação.

Sinto que também os serviços diocesanos, nomeadamente secretariados, movimentos e obras de apostolado precisam de cuidar a saúde do seu dinamismo, ajustando continua­men­te as suas formas de actuar à realidade pastoral da nossa Diocese, sempre em mudança.

Tenho consciência de que precisamos de continuar a criar mais e melhores condições para que as 25 comunidades religiosas presentes na nossa diocese, a que acrescentamos as comunidades da Liga dos Servos de Jesus, possam cumprir plenamente o seu carisma específico ao serviço da pastoral diocesana. Os variados contactos que mantive com elas, ao longo deste ano, permitem-me dizer que temos, de facto, um grande potencial de dinamismo evangélico entre nós que está longe de ser plenamente aproveitado.

 

  1. Refiro agora alguns acontecimentos que marcaram especialmente a vida da Diocese, neste último ano.

 

Para além das iniciativas ligadas ao Jubileu da Misericórdia e das acções integradas na preparação da assembleia diocesana, a que já fizemos referência, lembro as seguintes:

 

5.1. Houve três Irmandades da Santa Casa da Misericórdia que celebraram cinco séculos de vida, na nossa Diocese – as do Fundão, Gouveia e Sabugal.

 

5.2. A Fazenda da Esperança, criada, na nossa diocese, no arciprestado de Celorico da Beira (paróquia de Maçal do Chão) há 4 anos – Abril de 2012, depois de alguns percursos sinuosos com várias dificuldades felizmente ultrapassadas, parece ter encontrado um caminho positivo. Durante o ano de 2016, houve diálogo muito sério com os responsáveis por este serviço, que começou no Brasil e ganhou dimensão internacional. E começaram a aparecer sinais de esperança.

Trata-se de um serviço que pode ser oportunidade de recuperação para muitos que entraram por caminhos desviantes, mas também centro de espiritualidade para todos os que o desejarem aproveitar.

        

5.3. Foi importante a preparação e a participação na Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia (Polónia) na última semana de julho, que contou com mais de sete dezenas de participantes da nossa Diocese coordenados pelo Rev.do Padre Rui Miguel Manique Nogueira. Houve preparação e envio no Santuário de Nossa Senhora das Dores do Paul presidida pelo Bispo Diocesano, o qual também se deslocou a Cracóvia, em nome da Conferência Episcopal Portuguesa, para orientar três catequeses com grupos juvenis de língua portuguesa.

 

5.4. Dando continuidade a iniciativas do género em anos anteriores, a Diocese da Guarda recebeu, na última semana de Agosto e na Serra da Estrela, um grupo grande de famílias numerosas vindas de vários pontos do país, sobretudo Lisboa e Porto, para “um verão diferente”. Foi uma semana com programa variado de contactos com os segredos da serra, de acções de formação, e momentos fortes de espiritualidade. O Bispo diocesano viveu com eles uma tarde, tendo presidido á Eucaristia e participado numa das suas acções de convício e formação.

 

5.5. Foi muito esperançosa  participação da nossa Diocese no IV Congresso Eucarístico Nacional realizado em Fátima no mês de junho. O número de participantes coordenados pelos Rev.dos Padres António Luciano dos Santos Costa e Luís Miguel Pardal Freire, representou bem a forte ligação da nos­sa Diocese à adoração eucarística e esperamos que im­pul­sione a futura realização de um novo congresso euca­rístico diocesano entre nós.

 

5.6. A Missão D. João de Oliveira Matos, criada em Angola pela Liga dos Servos de Jesus, com a presença permanente e comprometida de duas irmãs da mesma Liga, manteve uma escola a funcionar com 400 alunos, a qual se afirmou pela qualidade dos serviços prestados, durante o último ano lectivo, junto das outras escolas e da tutela local para o ensino. Isto, apesar de alguns problemas surgidos, logo no início do ano, que levaram ao afastamento compulsivo, pela via dos tribunais locais, do director e director adjunto.

A cooperação com a FEC (organismo da Conferência Episcopal Portuguesa) em ordem à formação de professores teve os seus efeitos positivos, os quais são reconhecidos pela tutela local do ensino. A deslocação que o Bispo diocesano lá fez, no ano de 2015, pretendeu abrir caminhos com vista a esta cooperação.

Para além da escola, a Missão D. João de Oliveira Matos tem tido participação importante nos trabalhos pastorais da paróquia local, com as suas muitas comunidades espalhadas por área bastante extensa. Destaca-se o trabalho na cate­quese, incluindo preparação de catecúmenos adultos para o baptismo.

 

  1. Acontecimentos que aguardam o nosso empenhamento durante o ano de 2017

 

6.1. O primeiro deles é a realização da assembleia diocesana em três sessões. Dela esperamos sugestões reflectidas para definir os caminhos pastorais que a nossa diocese há-de percorrer nos próximos tempos.

 

6.3. A celebração do centenário das aparições de Fátima é outro acontecimento que nos há-de mobilizar. O nosso movimento “Mensagem de Fátima” vai fazer-nos a suas sugestões e nós estaremos atentos. A vinda da imagem peregrina para percorrer o arciprestado de Seia, a partir do mês de março é importante contributo.

 

6.3. A peregrinação nacional de pessoas com deficiência a Fátima, em junho próximo, é outro acontecimento em que desejamos marcar presença. A nossa Diocese já tem estado envolvida nos retiros de doentes, em Fátima, idos  de diferentes paróquias nossas; agora queremos que o esteja também nesta peregrinação.

 

Enquanto revemos o passado recente de há um ano a esta parte, pedimos a bênção de Deus para estes e outros eventos que temos em agenda.

 

16.1.2017

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda