Bispo da Guarda: 13 anos de serviço da Diocese.

 

Faz hoje 13 anos que cheguei à Diocese da Guarda, como Bispo Coadjutor, nomeado ainda pelo Papa

S. João Paulo II.

É este o momento para dar graças pela forma como o próprio Deus tem actuado em favor do seu povo, através do ministério que me confiou; mas também tempo para fazer revisão das opções feitas e das iniciativas tomadas; revisão principalmente sobre os objectivos definidos e atingidos ou não e sobre a forma como foram reunidos os meios humanos e materiais necessários para dar vida à nossa comunidade diocesana.

Nesta minha revisão diante da Diocese, vou fixar-me no tempo que decorreu desde o último 16 de janeiro (2017).

Ao longo deste ano, a minha grande preocupação, como a de todo o nosso presbitério e outros agentes pastorais foi a nossa assembleia diocesana, que, por graça de Deus, se cumpriu em três sessões, nos meses de abril, maio e junho. Elaborou-se o instrumento de trabalho (“Instrumentum laboris”), que foi analisado e comentado nos conselhos pastorais arciprestais e no conselho pastoral diocesano, como também no conselho presbiteral. Constituiu-se a mesa desta assembleia diocesana, que, a partir dos contributos recebidos das várias reflexões feitas sobre o instrumento de trabalho, elaborou as propostas das proposições que foram apresentadas, discutidas e votadas na assembleia. Para esta assembleia diocesana foram convocados 220 delegados, que se pretendeu serem representantes de cada conjunto de paróquias confiado ao mesmo pároco, dos diferentes secretariados e departamentos da pastoral diocesana, dos diferentes movimentos, serviços e obras de apostolado existentes na Diocese, dos vários níveis etários que compõem as nossas comunidades cristãs e ainda com alguns representantes da sociedade civil.

A assembleia diocesana realizou-se em três sessões, nos dias 29 de abril, 20 de maio e 17 de junho, respectivamente. Na primeira sessão, os delegados pronunciaram-se sobre o modelo de Igreja recomendado pelo Vaticano II e que queremos ser, sendo aprovadas 20 proposições. Na segunda, aprovaram-se 33 proposições sobre a Palavra de Deus na vida pessoal e das comunidades e sobre a responsabilidade de evangelizar. Na terceira sessão, os delegados pronunciaram-se sobre a celebração da Fé e sua renovação e aprovaram 36 proposições.

Após a assembleia, a grande preocupação do Bispo Diocesano, assim como dos sacerdotes, dos diáconos e outros agentes da pastoral passou a ser o esforço de promover a recepção destas proposições nas várias comunidades da Diocese. Nesse sentido apontou a sessão extraordinária da mesma assembleia realizada em 5 de outubro passado e agora está a constituir a razão das visitas pastorais em curso que o Bispo Diocesano faz a cada pároco e seu conjunto paroquial. Está prometido que este ano pastoral encerrará com a apresentação á Diocese de uma carta pastoral, em que o Bispo indica prioridades pastorais e traça linhas de rumo para a pastoral diocesana nos próximos anos.

A reorganização pastoral da Diocese é outro assunto ligado à assembleia diocesana, mas que já nos preocupa desde há alguns anos. Nesse sentido foram feitas consultas variadas, tendo havido pronunciamentos dos arciprestados e também do Conselho Pastoral Diocesano. A pedido da assembleia, foi constituída uma comissão diocesana com o encargo de elaborar uma proposta de reorganização pastoral da Diocese. Foram-lhe entregues todos os dados existentes fruto das consultas várias anteriormente feitas e está-lhe pedido que essa proposta de reorganização tenha em conta conjuntos de paróquias, cada um deles confiado ao mesmo pároco que devem evoluir para constituírem unidades pastorais, arciprestados que tenham condições para serem verdadeiras instâncias de pastoral intermédias entre a Diocese e as Paróquias, secretariados e departamentos da pastoral da Diocese, assim como o funcionamento da Cúria Diocesana. Esta proposta de reorganização será oportunamente sujeita ao Conselho Pastoral Diocesano e ao Presbiteral e ainda ao Colégio de Consultores da Diocese, antes de ser aprovada e promulgada.

A Pastoral familiar motivada pela exortação apostólica “Amoris Laetitia” do Papa Francisco, fruto dos trabalhos de dois sínodos, em 2014 e 2015, que foi publicada em março de 2016, como não podia deixar de ser, esteve também no centro das nossas preocupações. Por isso, orientámos as jornadas de formação do clero realizadas nos dias 2 e 3 de fevereiro, para este assunto. E pedimos ajuda ao Instituto Superior de Ciências da Família da Universidade Pontifícia de Salamanca, que nos enviou três professores. Deste trabalho resultou um conjunto de orientações pastorais para o acompanhamento das famílias, que agora precisamos de, com o empenho de todos, pôr em prática.

A aplicação da concordata, acordo entre o Estado Português e a Santa Sé, assinado em 2004, que regula as relações entre as instituições da Igreja e as instituições civis foi também objecto de estudo pelo nosso clero. Para o orientar tivemos, durante um dia, connosco dois peritos vindos de Lisboa que nos ajudaram a clarificar pontos concretos da relação das nossas instituições canónicas com os órgãos da sociedade civil, nomeadamente em duas áreas – a fiscalidade e os acordos para serviços determinados, principalmente com a segurança social.

2017 foi o ano do centenário das aparições de Fátima. A vinda do Papa Francisco nos dias 12 e 13 de maio foi o ponto alto que a nossa Diocese também viveu intensamente e com grande entusiasmo tanto pelos que puderam deslocar-se a Fátima acompanhando o Bispo Diocesano quer por outros que o não puderam fazer, mas acompanharam pela comunicação social. A Casa Abrigo da nossa Diocese, em Fátima como também a Casa de Nossa Senhora do Rosário de Fátima da Liga dos Servos de Jesus não tiveram mãos e medir para acolher os peregrinos. A canonização dos dois pastorinhos Francisco e Jacinta ficou na nossa memória. Para marcar o simbolismo deste centenário esteve também entre nós o Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, no dia 4 de novembro, a pronunciar uma conferência, dentro da jornada promovida pelo Movimento Mensagem de Fátima da nossa Diocese.

A Escola da Missão D. João de Oliveira Matos, em Angola, promovida pela Liga dos Servos de Jesus exigiu especial atenção quer do Conselho da Liga quer do Bispo Diocesano. Algumas dificuldades surgidas no ano lectivo anterior levaram o Bispo Diocesano e a Coordenadora Geral da Liga dos Servos de Jesus a deslocar-se a Angola, no mês de março, durante uma semana, para dialogarem “in loco”, quer com as duas irmãs da Liga que a acompanham de perto, quer com algumas autoridades locais ligadas ao sistema da educação escolar, quer sobretudo com o Bispo da Diocese de Sumbe. No diálogo estabelecido com este ficou claro o que pretendemos desta Escola, a saber, que seja uma Escola Católica, que se afirme pela qualidade do ensino, também porque a Escola do Magistério local a escolheu como lugar de estágio para os futuros professores, que possa primar por uma boa organização que promova o seu corpo docente, sobretudo através da formação permanente e ainda que os pais e encarregados de educação se sintam devidamente correspondidos na confiança que depositam na Escola. O Bispo de Sumbe concordou em assumir a condução do processo desta escola enquanto escola católica e, de imediato, comprometeu-se a nomear um director capaz, que também corresponda aos requisitos colocados pela lei local em matéria de educação escolar.

 

Lembramos agora alguns acontecimentos marcantes deste ano

7.1 O primeiro deles foi a ordenação sacerdotal de um novo padre para a nossa Diocese, o Rev.do Padre Bruno António. Consideramos este o sinal por excelência que o Senhor nos dá de que continua a acompanhar-nos e a velar pelas nossas comunidades.

7.2 A realização de dois cursos de cristandade, um de homens, com 17 cursistas e outros de mulheres com 19. Como sabemos, o movimento dos cursos de cristandade marcou profundamente a espiritualidade e o apostolado na nossa Diocese. Durante vários anos esteve adormecido. Esperamos agora a sua revitalização.

7.3 Foi assinado com a Direcção Regional da Cultura do Centro o acordo para a construção do órgão de tubos da Sé da Guarda. Está neste momento a ser constituída a comissão de acompanhamento deste processo que esperamos venha a dotar a nossa Sé deste valioso instrumento para a dignificação do culto, mas também para bem da cultura na nossa cidade.

7.4 Também se iniciou diálogo com a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela com vista a estabelecer um acordo que permita por um lado completar a inventariação do nosso património de arte sacra e por outro elaborar roteiros e outras formas de fazer a sua apresentação para poder ser fruída por quem nos visita. O nosso museu de arte sacra na Guarda, assim como outros espaços museológicos também de arte sacra que já temos espalhados pela Diocese e mais alguns que desejamos criar são importantes pontos de apoio neste projecto de valorização da nossa arte sacra.

7.5 Assinalámos, em data oportuna, o centenário do nascimento do Bispo D. Manuel Damasceno que foi Bispo de Angra do Heroísmo, com a colaboração da Câmara Municipal da Covilhã, sua terra natal, e de familiares do mesmo.

 

Acontecimentos que prevemos para o ano que vem

8.1 Esperamos concluir este ano pastoral, conforme está pedido e também prometido, com uma carta pastoral em que o Bispo Diocesano indica um conjunto de opções pastorais realizáveis   que possam marcar o futuro próximo da nossa Diocese, tendo em conta as proposições da assembleia diocesana.

8.2 A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Manteigas celebra 400 anos de existência, durante o ano de 2018.

8.3 O Sínodo sobre os jovens, a Fé e o discernimento vocacional, marcado para outubro próximo, desafia a nossa pastoral e, por isso a formação permanente do clero que temos marcada para os dias 6 e 7 de fevereiro próximo vai centrar-se na pastoral juvenil e para orientar esta formação convidámos peritos ligados aos Salesianos, cujo carisma é mesmo a educação da juventude.

8.4 No horizonte da nossa pastoral para este ano continuam as orientações sobre acompanhamento das famílias saídas das jornadas de formação do clero do ano passado, completadas por indicações sobre o mesmo assunto vindas tanto da Conferência Episcopal como dos encontros regulares dos Bispos do Centro.

8.5 Não temos ainda no nosso Seminário e mesmo no Pré-Seminário os candidatos de que precisamos. Por isso, o assunto das vocações sacerdotais tem de continuar a preocupar muito as nossas comunidades, com seus agentes pastorais, mas principalmente os sacerdotes do nosso Presbitério, em permanente diálogo com os sacerdotes do Seminário e o Director do Pré-seminário. Este é sempre assunto presente em todas as visitas pastorais que o Bispo Diocesano está a fazer a cada pároco e seu conjunto paroquial sobre a recepção da Assembleia Diocesana.

8.6. Para responder às necessidades pastorais das nossas comunidades cristãs precisamos de continuar o esforço de conjugar da melhor maneira o trabalho dos nossos sacerdotes entre si e com os diáconos permanentes, mas também com os vários ministérios laicais, exigindo-se especial empenho na preparação dos leigos para os vários serviços que lhes são pedidos.

 

Partimos para o novo ano muito confiados no conforto que o Senhor da Messe não nega a quem se dispõe a segui-lo com Fé e entrega decidida. E contamos com a bênção maternal de Maria Santíssima.

 

Guarda, 16 de janeiro de 2018

 

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

 

(Texto proferido a 16/01/17 às 19:30h em igreja paroquial da Cogula.)