Bispo da Guarda: mensagem para a quaresma em 2015.

Fortalecer a nossa responsabilidade missionária contra a globalização da indiferença O Santo Padre, o Papa Francisco, na sua mensagem para a Quaresma, alerta-nos sobre o que ele chama a globalização da indiferença.

Ora, a Quaresma é o grande retiro do Povo de Deus. E um retiro é sempre tempo para fazer revisão das atitudes fundamentais da nossa vida, nesta caso, das atitudes que nos aproximam ou afastam uns dos outros, tanto os que estão perto como os que estão longe.

Vamos, assim, ter pela frente 40 dias de preparação para a Páscoa, em que nos queremos deixar interpelar pela pessoa de Cristo e o Seu Evangelho sobre a nossa Fé e as suas consequências na vida pessoal e da sociedade.

Jesus Cristo, desde a sua encarnação, é o braço estendido de Deus ao encontro de toda a humanidade; e a Igreja tem o encargo de o tornar bem visível, diante do mundo, para salvação de todos.

Para cumprir este mandato, ela tem de aprender a viver menos para si própria e mais voltada para fora, ao encontro do mundo e das pessoas, a quem se destina a Boa Nova de Cristo.

É certamente por isso que o Papa Francisco, na sua mensagem para esta Quaresma, insiste em que “cada comunidade é chamada a atravessar o limiar que a coloca em relação com a sociedade circundante, sobretudo com os pobres e com os incrédulos”. Isto, porque, continua ele, “a Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens”.

Para dar expressão a esta responsabilidade missionária queremos valorizar, especialmente nesta quaresma, o Centro Missionário D. João de Oliveira Matos que a Liga dos Servos de Jesus está a promover em Angola, na Diocese de Sumbe.

Este Centro Missionário para já é uma escola que funciona desde há um ano a esta parte, mas pretende ser muito mais do que isso. Já foram ensaiadas algumas experiências de catequese e formação de adultos, que queremos continuar a desenvolver. Desejamos que ele possa vir a ser cada vez mais a expressão privilegiada da responsabilidade missionária da Diocese da Guarda, que tem notável história de ligação a congregações e institutos missionários, principalmente pelo elevado número de missionários e missionárias que daqui partiram.

E para valorizar esta presença da Diocese da Guarda em terras de missão, neste caso em Angola, procurámos ajuda junto da FEC – Fundação Fé e Cooperação, criada em 1990 pela Conferência Episcopal Portuguesa, no âmbito das comemorações dos 5 séculos de evangelização das terras descobertas pelos portugueses, a qual se dispõe a dar-nos duas preciosas cooperações.

Uma delas é organizar, com apoio garantido no local, um programa de formação complementar dos professores da Escola do Centro Missionário D. João de Oliveira Matos. A sua experiência, ao longo de 25 anos nesta área da formação de professores, através dos PALOPS, sobretudo na Guiné, dentro do espírito e das orientações da Escola Católica, é para nós importante. A outra é ajudar-nos a organizar programas de formação de adultos adaptados às situações locais. No horizonte fica ainda a possibilidade de implementar connosco um outro programa de sensibilização sobre direitos humanos, à luz da Doutrina Social da Igreja, que já está a ser experimentado em algu¬mas zonas de Angola.

Este conjunto de iniciativas, precisamos de as desenvolver também com a cooperação dos serviços da Conferência Episcopal de Angola (CEAST), sobretudo com o departamento da Escola Católica e com o máximo aproveitamento dos serviços diocesanos da Diocese de Sumbe. E para isso contamos também com a sua preciosa ajuda.

Como expressão da nossa solidariedade para com os muitos e valiosos serviços realizados pela FEC, através dos países de língua oficial portuguesa, com destaque para a Guiné/Bissau, vamos destinar-lhe, este ano, a nossa renúncia quaresmal.

Lembramos que o Centro Missionário D. João de Oliveira Matos, em Angola, está num município com 100 000 habitantes, sem qualquer estrada asfaltada e com todas as carências que possamos imaginar, sobretudo de energia eléctrica e água potável. Sendo assim, a nossa aposta missionária é mesmo na periferia das periferias.

Deixemo-nos acompanhar pela oração do Papa Francisco, quando diz, ao terminar a sua mensagem: “Amados irmãos e irmãs, nesta quaresma desejo rezar convosco a Cristo: fac cor nostrum secundum cor tuum – fazei o meu coração semelhante ao vosso”. E acrescenta: “teremos, assim, um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo, nem cai na vertigem da globalização da indiferença”.

Guarda, 7 de fevereiro de 2015

Manuel da Rocha Felício, bispo da Guarda