Epifania do Senhor

“Onde está …?”

 

            O episódio dos Magos, apenas relatado por Mateus, revela-nos que Jesus veio para todos os povos e que Deus quer a salvação de todos os homens. Aqueles homens, oriundos do Oriente, representam todos os gentios com os quais, através de Jesus, Deus quer partilhar a sua verdade e o seu amor. Não podia ser de outro modo. Se não fosse o Deus de todos os povos, não seria o único e verdadeiro Deus. Se não amasse todos os homens, Deus não seria amor. Se em seu Filho não salvasse todos os homens, Jesus não seria o Salvador do mundo.

            Este episódio revela também que, para chegar a Jesus e se encontrar com Ele, o homem precisa de sair de si mesmo e, numa atitude de procura interior, tem de percorrer um longo e, por vezes, difícil caminho. É o que fazem os Magos.

            Eles sabem que acaba de nascer “o rei dos judeus”. Não sabem muito bem quem é, mas sentem um intenso e irresistível desejo de O conhecer. Por isso mesmo, põem-se a caminho, decididos a não desistir até O encontrarem. O que os preocupa, nesta sua empresa, não é tanto a distância que os separa da Judeia ou as dificuldades e os obstáculos do caminho através do deserto. O que mais os preocupa é não saberem onde Ele está. Quando batem à porta de Herodes, não se detêm a pedir-lhe informações sobre quem é aquele rei recém-nascido. Apenas lhe perguntam onde está. Mais do que o que lhes podem dizer sobre Jesus, eles precisam que alguém os ajude a chegar até junto d’Ele. O resto, sem dúvida o mais importante, virá por acréscimo.

            No encontro pessoal com Jesus e dando a Jesus a oportunidade de se lhes revelar, eles descobrem quem Ele é, acreditam n’Ele e adoram-n’O. Devem ter ficado maravilhados ao darem conta que aquele rei dos judeus, tão diferente de Herodes e dos outros reis que conheciam, também nasceu e veio ao mundo para eles e para todos os povos da terra. De regresso à sua terra, completamente transformados por aquele encontro divino, eles anunciam esta Boa Nova a todos os seus concidadãos.

            Precisamente porque Deus quer que todos os homens O conheçam e se salvem, o Evangelho de Cristo deve ser proclamado a toda a criatura (Mc 16,15). Assim, quem realmente acredita em Cristo e, por meio d’Ele, faz a experiência do amor sem limites de Deus, participa necessariamente desta missão universal. Por um lado, é chamado e deve sentir-se impelido a mostrar Jesus aos homens. Por outro, deve sentir-se capaz de amar sem excluir ninguém. Certamente, não poderá levar Jesus a todos os homens que O desconhecem. Porém, está ao seu alcance e é sua missão contagiar com a sua fé aqueles que o rodeiam, atraindo-os para Cristo. Do mesmo modo, também não tem a possibilidade de manifestar o seu amor a todas as pessoas do mundo. Vive a universalidade do amor, na medida em que não o recusa a nenhum daqueles que se cruzam com ele nos caminhos da vida.

            Na verdade, a universalidade da fé e do amor vive-se e exprime-se, antes de mais, nas relações com aqueles que nos são mais próximos, com aqueles com quem convivemos no âmbito da nossa vida quotidiana. Com efeito, se não me preocupo com a salvação dos que vivem comigo, como poderei afirmar e alguém poderá acreditar que estou efectivamente empenhado na salvação de todos os homens? Se não amo aqueles que conheço e encontro no dia a dia, como poderei convencer alguém que amo aqueles que não conheço e estão longe? Se não vejo e não sinto como irmão aquele que me é próximo, como poderei dizer com verdade que me sinto irmão de todos os homens da terra?

            “Onde está …?” Os homens de hoje precisam de saber onde e como encontrar Jesus. No caso de muitas pessoas, antes de lhes apontar o caminho, é necessário despertar nelas o desejo e a curiosidade de O conhecerem. Só assim aceitarão o desafio de O procurarem. Os Magos ensinam-nos que não é suficiente o que os outros nos dizem sobre Jesus. É indispensável o encontro pessoal com Ele, deixar que seja Ele a introduzir-nos no mistério da sua vida e a envolver-nos com o seu amor.

            Nós, os que já acreditamos em Jesus, podemos encontrá-l’O quando nos reunimos em seu nome, escutamos o seu Evangelho, O recebemos na Eucaristia, O amamos nos irmãos necessitados. E, na medida em que O acolhemos na nossa vida, os outros poderão encontrá-l’O em nós.

Pe. José Manuel Martins de Almeida