O padre mais velho do Patriarcado de Lisboa, monsenhor cónego José Amaro, celebrou 100 anos de vida no passado dia 19 de Agosto. O Cardeal-Patriarca aproveitou a data para falar da “caridade que une os membros do presbitério”.
Nasceu a 19 de Agosto de 1911 e foi ordenado sacerdote a 6 de Abril de 1935. O cónego Amaro completou 100 anos de idade e o Patriarcado de Lisboa quis expressar o seu agradecimento ao padre mais velho da diocese. Na Casa Sacerdotal, em Lisboa, a celebração da Eucaristia pretendia não só agradecer a Deus o serviço prestado pelo cónego Amaro à Igreja, como a sua vida centenária. “A longevidade também é um dom de Deus”, sublinhou D. José Policarpo, apontando o sentido daquela festa: “Queremos muito que o senhor cónego Amaro sinta hoje o amor fraterno e a grande amizade do seu bispo – que foi seu aluno –, dos padres do seu presbitério, muitos dos quais ajudou a formar, e também de todo o povo de Deus”.

O cónego José Amaro Teixeira é sacerdote há 76 anos. “O sacerdócio de que nós somos ministros não é uma profissão, é a expressão do amor de Deus pela sua Igreja”, lembrou o Patriarca de Lisboa. Desta forma, em dia de festa, D. José Policarpo não deixou de salientar a importância da unidade. “Na compreensão actual da Igreja, uma expressão maior da caridade – claramente anunciada no Concílio Vaticano II – é a caridade que une os membros do presbitério, a caridade que une o corpo apostólico, sucessor dos apóstolos”.

Durante a Eucaristia, onde participaram muitos padres e amigos, foi ainda lembrada a acção do cónego Amaro como vice-reitor do Seminário dos Olivais. “Queríamos muito que o senhor cónego Amaro se sentisse rodeado do carinho e do amor de toda a Igreja, mas de modo particular do presbitério a que ele pertence e para o qual dedicou grande parte das suas forças, ajudando a formar sacerdotes. Foram tempos grandes, diferentes dos de hoje, com um grande bispo [Cardeal Cerejeira] e um grande reitor do Seminário dos Olivais [Monsenhor Pereira dos Reis] que marcou a nossa tradição espiritual”. O Cardeal-Patriarca salientou depois que o cónego Amaro “ajudou a construir no Seminário dos Olivais uma marca que ainda hoje o alimenta, ainda hoje o orienta e ainda hoje o desafia”.

Uma vida dedicada a formar pastores para a Igreja
O cónego Amaro é o único aluno do Seminário dos Olivais ainda vivo que esteve presente na inauguração deste seminário, em 1931, que este ano assinala 80 anos. Vindo do Seminário de Santarém, lembra-se bem do primeiro dia no Seminário dos Olivais. “Nós chegámos à tarde, chuviscava e a estação de Moscavide ainda não existia. Apeámo-nos na estação dos Olivais e depois cada um seguiu, a pé, com a sua ‘malita’ até ao novo seminário. Ao chegarmos, todos ficámos admirados. As pessoas que por ali moravam ficaram muito admiradas com os padres que haviam chegado”, contou à VOZ DA VERDADE o cónego Amaro, em entrevista publicada na edição de 5 de Novembro de 2006, por ocasião dos 75 anos dos Seminário dos Olivais. E recorda-se bem das aulas. “Nos primeiros tempos, as nossas aulas eram em latim. E os testes eram bem difíceis. Mas saíamos daqui para as paróquias com um ‘fogo pastoral’”.

Sobre o perfil do padre que o Cardeal Cerejeira pretendia imprimir aos seus novos padres, o cónego Amaro assegura: “Queria, certamente, que eles fossem um ‘bocadinho’ como ele: culto, com estudos, e depois um padre piedoso e apostólico”.

No tempo do Concílio Vaticano II, o cónego José Amaro chegou a ser governador do Patriarcado, como o próprio recordou nesta entrevista há cinco anos: “Quando o Concílio se iniciou eu estava em São Mamede. O senhor Cardeal Cerejeira mandou-me chamar e disse-me: ‘Olha, como sabes vai haver um Concílio e todos os bispos têm que ir a Roma. Tu ficas como governador do Patriarcado!’ Eu disse-lhe: ‘Mas… governador? Mas, o que faço eu?’. E ele respondeu-me: ‘Tens todos os poderes que eu tenho, mas não podes mudar os padres de lugar. De resto ficas com a governação da diocese’. A partir daí tinha que ir todos os dias para o Patriarcado para assinar e tratar das coisas”.

Como padre, um terço da vida do cónego Amaro está ligada ao seminário. “Os padres sabem que como vice-reitor fui muito rigoroso. Insistia para que mantivéssemos uma certa linha de disciplina na formação. Aceito que, às vezes, terei sido um pouco duro e, porventura, injusto até em algumas ocasiões. Mas creio que desempenhei bem o meu papel. Como pároco pensei: ‘Eu sou um pastor que não posso impor nada’. Lembro-me que nessa altura até o meu coadjutor me dizia: ‘O senhor cónego é muito diferente do que era no seminário!’ Eu respondia-lhe sempre: ‘Pois, meu caro padre, porque no seminário tinha que dar conta ao senhor bispo da formação dos padres; como pároco tenho que receber e ouvir as pessoas, mas não julgá-las’”.

texto de Diogo Paiva Brandão – Jornal Voz da Verdade