FNA – ESCUTISMO NUMA MISSÃO AMBIENTAL

O Núcleo do Fundão da FNA (Fraternidade Nuno Álvares), Escutismo para Adultos, com o apoio da Junta Nacional e integrado num Plano Anual e Nacional de Actividades Ambientais sob o tema “voltar a vestir de verde a Gardunha,” levou a efeito a plantação de cerca de três mil carvalhos na encosta norte da mítica serra, territórios de costumes religiosos, profanos, de ovnis e marcianos.

O Programa indicava o dia 27 de Março para a receção no Seminário do Fundão dos elementos da Direcção Nacional, da Região de Braga representantes de seis núcleos, de Lisboa quatro núcleos, de Setúbal três núcleos, de Vila Real 2 núcleos e da Guarda cinco núcleos, num total de mais de uma centena de escuteiros adultos.

No dia 28 partiu-se para a plantação dos carvalhos, na parte inferior da Casa do Guarda em Alcongosta, onde pela primeira vez se viu um Bispo com a enxada nas mãos, a abrir covas e a plantar carvalhos. É bom vermos alguns dos mais responsáveis da Igreja Diocesana de mangas arregaçadas e ao lado das actividades escutistas.

No intervalo do trabalho, decorreu o almoço partilhado em mesas graníticas que só a Serra da Gardunha oferece, debaixo de castanheiros com ouriços a sorrir para nós. Não faltou o Moscatel de Setúbal e Vinhos Verdes da Região de Guimarães, as doçarias do Barreiro, os torresmos do

Montijo, as punhetas de bacalhau de Braga, o pão e o presunto de Chaves, do Fundão a broa, o queijo, as frutas e mais vinhos, além do apoio logístico e da simpatia.

No final da labuta, houve uma visita explicativa ao Campo Escutista Gardunha no Fundão por parte do Chefe do Agrupamento 120 do CNE (Corpo Nacional de Escutas.) Aguarda-se que se concretize o Acampamento Nacional da FNA no local que reúne melhores condições para esse evento escutista a nível nacional.

Há a realçar a estreita e calorosa ajuda por parte dos Agrupamentos do CNE: o Agrupamento 120 do Fundão no apoio logístico; o Agrupamento 801 de Valverde com a colaboração da sua Fanfarra no desfile nas ruas do Fundão; e o Agrupamento 1335 de Aldeia de Joanes, dispondo das suas vozes e instrumentos musicais na Eucaristia, que religiosamente foi uma das marcas do encontro.

Enquanto se verifica que diversas Regiões do CNE estão de costas voltadas para a FNA – reacções negativas, afastamento do Escutismo de Adultos -, a Região da Guarda dá um verdadeiro exemplo da mensagem escutista de Baden Powell.

No domingo, dia 29, a parte da manhã foi ocupada com Visitas Culturais, sob a dinâmica, ensinamento e orientação do animador municipal Pedro Silveira.

O mapa do itinerário começou na Casa do Barro na freguesia do Telhado, terra de oleiros, onde se cozinhavam os diversos materiais para serviço na alimentação… Ali estão rostos de memórias, objectos, oficinas de olaria. Registei as palavras do Poeta Albano Martins, natural daquele espaço: “pertenço a esta geografia, ao lume branco de resina, ao gume do arado. A minha casa é esta; um leito de estevas e uma rosa de caruma abrindo o tecto do ORVALHO. Vou atrás do carro de feno/vão ali sobre rodas, cortadas rentes os meus dias enxutos.” Ainda deu tempo para visitar um lagar de azeite de varas e ouvir a voz de uma Mulher octogenária que ali trabalhou. Uma Biblioteca Viva.

A segunda etapa foi a Casa do Bombo em Lavacolhos. Num painel de azulejaria encontramos o maior ícone – o TOCADOR DO BOMBO-, da autoria de Carlos Gravito. Fomos recebidos aos sons guerreiros dos bombos.

Segundo o etnomusicólogo Michel Giacometti, que por ali andou: “Aqui se confronta o misterioso poder das leis constringentes e a precária esperança do seu rompimento.” Também Ramon Menendez Pidal se refere ao ”tumulto musical nas festas populares, o meu grande recurso de alegria.”

Não posso deixar de referir dois homens, naturais de Lavacolhos. Américo Simão, tocador e construtor de bombos,  afirmou que “o som estremece o coração” e o etnomusicólogo Carlos Gravito: “o outono binário, em Lavacolhos, é batido violentamente sobre a pele dos bombos como uma antiga marcha guerreira.”

Uma grande parte da centena de visitantes experimentou o bater na pele do bombo e revelou arte musical, principalmente as gentes do Norte do País.

A última etapa tinha forçosamente de terminar na Casa da Romaria de Santa Luzia no Castelejo, com uma fotografia da Amália Rodrigues, sua grande devota, em carro de bois na ida do Fundão para uma das célebres romarias da Beira da Baixa, com a chegada de romeiros de diversos pontos do País

Um painel: “LUIZIR/LUZ/LUZENTE/ILUMINAR/LÚCIA/ILUMINAR/LUCENTE LUMÍNCA/LUZIANENSE/LUSEIRO/LUZIDO… no centro a palavra LUZIA.

Não podia sair daquele espaço sem comprar as Flores de Santa Luzia, um símbolo da Romaria do Santa Luzia.

A pé, como peregrino, subimos ao Santuário de Santa Luzia, sendo recebidos pelo Grupo de Bombos de Lavacolhos e pela musicalidade de vozes femininas no interior da Capela: “Senhora Santa Luzia/Vizinha do Castelejo/Dai-me vista aos meus olhos/Sou ceguinha, não vos vejo.”

Não se deve esquecer o trabalho dos agrupamentos do CNE limítrofes e o Núcleo da FNA do Fundão, e a colaboração do Município Fundanense e da Junta de Freguesia de Alcongosta.

Venham muitas actividades ambientais na Serra da Gardunha. A Natureza agradece.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Novembro/2018

QUOTIDIANOS SETUBALENSES