FUI À SANTA LUZIA

Há anos prometi que um dia lá iria. Agora, em Setembro de 2018, concretizo esse desejo antigo.

Ainda de manhã, na varanda da casa, observo a parte sul verdejante da Gardunha, mais a poente chega-me o som do ribombar dos foguetes.

Na espera do autocarro municipal, o batuque dos Bombos e o jovem Rancho Folclórico de Silvares, fundado em 1947 por José Valentim; à sua morte sucedeu-lhe na direcção a sua filha Ilda Valentim Mesquita.

Também no Fundão há foguetório a assinalar o feriado municipal. Uma senhora aflita procura a cadelinha, animal de estimação, que com tanto ruído lhe fugiu. Se o PAN sabe que o barulho dos foguetes assusta aos animais, juntar-se-à ao coro para acabar com a pirotecnia nacional.

Divago: lá longe, em Setúbal, dia da cidade e de Bocage, Carlos Martinho, filho de José Alves Martinho, natural da Bismula (Sabugal), recebe a medalha de mérito da cidade setubalense, por décadas ao serviço da Selecção Nacional de Futebol.

Já não se vai como antigamente de carros de bois ou de carroças. Vai-se de autocarro, automóvel e telemóvel.

O recinto do Santuário da Santa Luzia do Castelejo está bem ordenado. Num sector está o mercado, a “Festa Pagã”, no lado oposto o sector espiritual, a vivência da Fé em sintonia de capelas, com destaque para a que recolhe a Santa Luzia. À entrada para este recinto, vejo dois pobres, que com problemas de mobilidade pedem uma ajuda. Muitos desviam-se, mas há sempre alguém que deposita um óbolo, colocando a caridade acima de todas as coisas. O grande Pregador da Festa, Padre Rui Manique, natural de Aldeia de Joanes, bem chama a atenção para a mensagem do Papa Francisco, para os cristãos olharem para a pobreza e para as periferias.

Durante a Eucaristia vão-nos chegando os odores dos churrascos, dos frangos assados, das farturas, das porras e dos churros. O pensamento salta-nos da alma para o estômago.

A procissão em volta do recinto vai cheia de andores. Na retaguarda o andor de Santa Luiza, que lembra um riquixá japonês, baloiçando ao som da centenária Banda de Música, a Filarmónica União Santa Cruz de Aldeia Nova do Cabo (Fundão), acompanhada por tantos santos e santas, algumas Virgens e Mártires… Ficamos imóveis ao canto do Coro Musical: “Avante Santa Luzia…”

Compro numa pequena tenda uma Flor da Santa Luzia, única no mundo, inventada por um casal na Soalheira há mais de cem anos para sobreviver. Com papéis velhos agarrados a um arame, criaram esta flor de várias formas e feitios, que vendiam por mercados e romarias.

Já não encontro à venda aquelas “santinhas de açúcar”, com uma estampa de papel em sua honra, que saboreei nas romarias da Nossa Senhora da Ajuda, na Malhada Sorda ou no Senhor dos Aflitos em Vilar Maior.

À despedida, uma idosa a quem arranjei boleia partilha comigo uma fartura.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Setembro/2018