FUNDÃO – O FADO ESTÁ MAIS POBRE

Quando entrei numa loja que vende produtos para a reforma agrária, o proprietário informou-me que acabara de falecer o Mário. Este nome traz-me sempre muitos afetos e saudades. Desta feita deixou-nos o homem do Fado – o Mário que toda a gente do Fundão conhece.  

A primeira atuação do fadista à qual assisti foi há muitos anos, nas Festas Anuais de Nossa Senhora do Amparo, no Parque Desportivo dos Olivais em Aldeia de Joanes.

Sucederam-se outras noites de fado, recordo as realizadas no Núcleo Sportinguista do Fundão, do qual era sócio juntamente com a sua simpática esposa.

Homem solidário, sempre que era solicitado lá ia com o seu Grupo de Fados do Fundão colaborar em ações sociais e humanitárias em coletividades e instituições. Saliente-se que nos últimos tempos participou numa noite de fados no Abrigo de S. José, a fim de angariar fundos para essa instituição de solidariedade social. Foi nesse local que travei melhor conhecimento com este fadista.

Soube que nasceu em Vale Prazeres (Fundão), filho de uma mulher que geria com maestria uma tasca onde não faltava o bom vinho e o belo petisco. O pai era cantoneiro.

Rumou para Angola, percorrendo esse imenso território como delegado de propaganda médica, casando mais tarde com uma jovem alentejana. Com a “exemplar” descolonização, foi obrigado, em 1975, a abandonar esse território e a regressar a Portugal, às suas origens.

Trabalhou na restauração e, em parceria com um irmão, tornou-se proprietário do restaurante “O Casarão”, situado na zona histórica do Fundão. Mais tarde, passou a proprietário único do Restaurante “O Mário´s”, na rua emblemática do Jornal do Fundão. Mudou de residência de Vale Prazeres para Aldeia de Joanes.

No dia 20 de Agosto, aos 69 anos de idade, a doença venceu a sua dinâmica profissional, e a sua voz foi silenciada.

No dia seguinte, na Capela de Santo António no Fundão, decorreram as exéquias fúnebres, com a participação de centenas e centenas de amigos e simpatizantes (lamenta-se, no entanto, que durante as cerimónias religiosas não se tenha guardado o silêncio de devido respeito à sua família.)

No início da Eucaristia, o Grupo de Fadistas do Fundão – com José Manuel Brito e João Salcedas na guitarra e António Duarte Serrão e José Luís Cleto na viola, seus companheiros de vinte anos de atuações – tocou os acordes de Avé Maria Fadista. No momento da Comunhão ouviu-se o Fado Menor e no final da cerimónia litúrgica foi tocado o Fado Solado – A Velha Canoa, que o Mário Silva tanto gostava de cantar.

O Celebrante, Padre Jorge Colaço, não se esqueceu de enaltecer as qualidades do falecido e de transmitir palavras de esperança à família enlutada. Salientou que “ seremos na eternidade o que fomos na terra. Somos convidados a viver a alegria e a felicidade. Continuem a cantar o Fado, porque essa será uma das melhores homenagens.”

O Fado da Derradeira Despedida, que todos um dia cantaremos, foi acompanhado pela nossa comunidade. O nosso Fadista Mário Mendes da Silva descansa em Paz no Cemitério do Fundão.

Guitarras, toquem baixinho…

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Agosto/2015

FUNDÃO – O FADO ESTÁ MAIS POBRE