FUNDÃO – UM PREVENTÓRIO

Há mais de sete décadas, a Família Isabel Trigueiros do Fundão construiu um edifício num local paradísico, na saída para o Souto da Casa, com a finalidade de ajudar crianças com problemas sociais e familiares.

Junto a este edifício, e na mesma cerca, funcionou também um centro de apoio ao combate a doenças infectocontagiosas, concretamente um instituto de apoio à tuberculose, que servia a população do concelho fundanense.

Em 29 de agosto de 1947 foi doado a D. João de Oliveira Matos, Bispo Auxiliar da Diocese da Guarda, natural de Valverde – Fundão.

O Venerável D. João Matos fundou em 11 de fevereiro de 1924 a Liga das Servas de Jesus – Instituto de S. Miguel – Guarda. A génese da fundação deste Instituto deve-se ao período histórico que se viviam nos tempos conturbados da I República Portuguesa. Os bens da Igreja estavam a ser vandalizados, expropriados e confiscados.  Para ocupar a falta de serviços de instituições religiosas perseguidas e extintas, D. João criou esta Obra com a particularidade de os seus membros não usarem hábitos religiosos, com um caminho mais aberto para Evangelização, propagação da Fé, fazer o bem, “como violetas a exalarem o seu perfume para a sociedade sem serem observadas, sem dar nas vistas.”

O Preventório de Isabel Trigueiros iniciou o seu funcionamento com Irmãs Religiosas de uma Congregação Espanhola, como atesta uma imagem do Menino Jesus. Num regime de experimentação e talvez por razões de incompatibilidades saíram e D. João de Oliveira Matos entregou os cuidados da Casa às Servas de Jesus, que ali se mantém até aos nossos dias.

Neste edifício eram acolhidas crianças do concelho do Fundão com problemas físicos, debilitadas e raparigas a cargo de outras instituições.

No início do seu funcionamento albergava cerca de cinquenta raparigas e por ela têm passado através destas décadas muitas jovens, que aprenderam a ser mulheres para enfrentar os desafios da vida.

Chegadas com tenra idade, aqui fizeram aprendizagens escolares, tiveram acolhimento e hospedagem para prosseguir diversos cursos profissionais. Aqui encontraram um lugar que as protegia, que lhes dava estabilidade, que nos seus próprios lares não lhes proporcionavam.

A Casa está atualmente ao cargo de três Servas de Jesus: Irene Fonseca, Técnica de Serviço Social, com larga experiência, dez anos ao serviço da Cáritas Diocesana. Não tem qualquer problema em apanhar azeitona, de podar as árvores, de semear e cultivar produtos hortícolas;

Helena Rodriguês há quarenta anos de serviço, em missão. Com ela, muitas jovens aprenderam a arte dos bordados, valores humanos, éticos e familiares. É interessante referir que algumas das raparigas casaram, tiveram filhas e adotaram o nome Helena para as suas recém-nascidas; Maria Josefa Pinto, a cozinheira da Casa, onde faz do velho ditado uma virtude – “cozinhar é amar”… Cozinha com a chama da vida.

Estas três samaritanas estão vinte e quatro horas ao serviço, sem preocupações de horários ou de honorários, com uma dedicação total a quem muito precisa.

Talvez as últimas guardiãs de uma Casa de solidariedade e de amor, a necessitar de apoio da sociedade e dos serviços estatais.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Janeiro/2019