Chegou-se cedo. Um jovem utente pedia ao responsável pela instituição para lhe fazer o nó da gravata, queria apresentar-se na mais digna postura possível.

Numa organização perfeita e exemplar, com uma assistência numerosa, esgotando a ampla sala, iniciou-se a quarta edição do Fado Solidário do Abrigo de S. José do Fundão. Uma instituição de apoio aos jovens com dificuldades familiares e sociais, que no próximo ano faz sessenta anos, fundada por Monsenhor António dos Santos Carreto. Teve as primeiras instalações no Velho Casarão, na saída Sul do Fundão, na EN18, onde já fora o Seminário Menor da Diocese, actualmente o encerrado Hotel Príncipe da Beira. Ali havia oficinas de marcenaria e carpintaria, alfaiataria, latoaria, entre outras actividades. Estas instituições eram verdadeiras escolas de formação profissional, cujos conhecimentos adquiridos permitiam um futuro risonho e feliz. Cinco jovens desta obra foram meus companheiros de estudos na Escola Apostólica de Cristo Rei em Gouveia, muito bons alunos e grandes jogadores de futebol, integrando a seleção desse estabelecimento escolar. Hoje seriam ídolos da bola.

Mais tarde, o Padre Ferraz ofertou um terreno, junto à Freguesia de Aldeia de Joanes, onde se situam as actuais, modernas e acolhedoras instalações. O Povo tem memória de quem trabalha, que tem e pratica a solidariedade social e humana, atribuindo-lhe o nome da Avenida que liga o Fundão à Aldeia de Joanes.
O espectáculo musical começou com o Hino da Tuna da Academia Sénior do Fundão, sob direcção de José Alberto Freire, entoando cantigas tradicionais portuguesas, algumas de criatividade própria. Ali se ouviram vozes cristalinas do Souto da Casa, Aldeia de Joanes, Alpedrinha e Fundão. Foi um encanto e um privilégio ouvir este Grupo Musical, que foi muito aplaudido.

Seguiu-se a secção dos Fados, atuando em primeiro lugar a Fadista Tânia Patrício. Na guitarra portuguesa estava José Manuel de Brito e na viola João Carvalho. Depois vieram a Daniela Runa, grande fadista, muito aplaudida, Mário Silva, Laura Rodrigues e Ana Lopes, que ficou feliz pelo facto de encontrar a sala cheia em espírito de bem comum e solidariedade.
Terminou a primeira parte do Programa – Fado Solidário -, António Serrão, residente em Aldeia de Joanes, que nos encantou com Fados de Coimbra.
No final de quase duas horas de programa musical, seguiu-se um repasto composto por boa morcela, chouriça assada e queijo do Fundão, iguarias bem regadas com o bom vinho da Adega Cooperativa do Fundão. Cereja no topo do bolo alimentar, um divino caldo verde.
Realçou-se o comportamento dos jovens, devidamente apresentados, que depois de assistirem à primeira parte do espectáculo, colaboraram com os funcionários e ajudaram a distribuir a comida pelas mesas com requinte e bom gosto. Ficou-se com a ideia de que, dado o esmero e prontidão, estávamos na presença de autênticos profissionais do curso de hotelaria e restauração. Parabéns a estes jovens.

Iniciou-se a segunda parte, com a atuação dos mesmos protagonistas e um grande reportório musical.
Já passava da uma da manhã, do dia seis de Dezembro, quando César Fatela – autor do livro “A RAPAZIADA“ sobre a Obra de Socorro Social no Abrigo de S. José e reconduzido há dias para um novo período na direcção -, dirigiu a palavra a todos os presentes, agradecendo a presença de todos, em particular da vereadora Alcina Cerdeira da Câmara Municipal, e a disponibilidade voluntária e gratuita da Tuna da Academia Sénior do Fundão, das Fadistas e dos Fadistas, e dos músicos que os acompanharam.

No final, veio-me ao pensamento como estaria feliz lá no alto o Padre Fernando Antunes Pereira Ferraz, um dos maiores obreiros desta obra de solidariedade social, ao ver celebradas e em marcha as causas sociais pelas quais lutou, nomeadamente o digno acolhimento e reinserção social de jovens desfavorecidos. O Abrigo de S. José revelou um conjunto excepcional de colaboradores, homens e mulheres de grande valor, responsabilidade social e espírito de voluntariado, muito bem acompanhados pelo pessoal administrativo, técnico e laboral, que todos os dias dão o seu melhor pelo direito à felicidade destes jovens.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Dezembro/2014

Capela do Espírito Santo (século XVI)

Capela do Espírito Santo (século XVI)