Almoço com antigos companheiros da Escola Apostólica de Cristo Rei, em Gouveia. A nossa conversa centraliza-se no ensino, na cultura e nos valores morais, humanos e sociais, que nessa casa nos foram ministrados, como alunos, quando somos alertados para a notícia da morte de alguém, cujos familiares conhecemos e trabalham na área social e comercial. Não se sabia a data do funeral, mas depressa uma profissional de uma instituição pública, a que se pediu informação, dá os dados que se necessitavam. Ainda se telefona para amigos, mas não tem tempo para ir, infelizmente é muitas vezes assim, não há tempo, e outros tem quase sempre o telemóvel desligado. Seguiu-se para a localidade do funeral. Quando se chega, muita gente no exterior, mais do que no interior da Igreja, onde já decorre a Eucaristia. Muitos ali ficam no adro, a contar anedotas, a rir-se, a falar de futebol e de mulheres, dos negócios, muitos sem respeito pela dor dos familiares do falecido. Ainda há dias, um Pároco rezava os salmos, à saída da Igreja, teve de parar, apelando para o respeito com os familiares, já que não dão atenção ao ato religioso. Há funerais em que o barulho só é suplantado nas Feiras Anuais de S. Marcos ou de S. Mateus realizadas no Fundão. Neste aspeto é bom lembrar que o silêncio é um elemento necessário e promotor da participação ativa dos presentes, dos fiéis. O silêncio como um fator de comunhão, de partilha com os familiares, com os nossos amigos ou conhecidos defuntos. Entra-se na Igreja. O Sr. Prior, com uma velocidade ultrassónica, lê uma Carta de S. Pedro, canta uma aleluia e segue o Evangelho. Faz tudo, lê e canta. Diz umas breves palavras e, espanto dos espantos, atira-se forte e feio, como gato faminto a bofe, contra alguns, que querem mandar mais que ele, ali na Paróquia.

Diz que já quis abalar e não o deixam. Para as bandas do Sabugal, já não há sacerdotes a fazer funerais, há alguém encarregue desse serviço. Esqueceu-se de referir que “esse alguém “é um Diácono, ordenado pelo Bispo da Diocese. Continua afirmando que não há o direito de levar o morto para uma Capela Funerária. Queria o cadáver na Igreja. Já está velho e cansado, já não tem forças para ir a Capelas Funerárias. Avisa que os seus colegas mais novos que ele, deixaram de fazer esse serviço, já lá não põem os pés. Há aqui alguém que quer mandar mais que eu. Há pessoas que aqui mandam. Enquanto muitos não querem os cadáveres na Igreja, este clérigo quer tê-los lá. Diz que está velho e doente, mas a celebrar as exéquias foi um grande atleta de maratona, com uma velocidade invejável. Para poupar alguns segundos, segue muitos dos seus pares celebrantes, só pronunciou o primeiro nome do falecido. Se o Papa Francisco organizar uns Jogos Olímpicos sobre a velocidade das Celebrações Eucaristias, tem aqui um verdadeiro candidato a títulos olímpicos. Em termos de leitura de textos, se tivesse classificação, dar-se-ia a nota de dez valores, com muita água benta pelo meio. Ainda se queixam das crianças da catequese lerem depressa…

Tem aqui um exemplo a não seguir. Alguém diz que um conhecido assistente da pastoral de saúde da área de Lisboa, nos funerais, aproveita o momento da homília para uma ação catequética e evangelizadora. Segundo a Liturgia da Palavra, a homilia “deve ser como que o anúncio das maravilhas de Deus, na História da Salvação ou do Mistério de Cristo. Deve levar a uma saborosa compreensão da Sagrada Escritura, abrir o espirito dos fiéis e dar ação de graças pelas maravilhas de DEUS, alimentar a Fé dos presentes acerca da Palavra que na celebração, pelo Espirito Santo, se torna sacramento e por fim preparar-nos para uma comunhão frutuosa e convidar-nos a assumir as exigências da vida cristã”.

O Papa Francisco, no Evangelii Gaudium, nº42, diz que a homilia “ deve ter um carater quase sacramental”. Nada de sacramental teve a homilia que o povo ouviu neste funeral, antes um grande puxão de orelhas pelo facto de a urna não estar no templo (Igreja). Estava a escrever este texto e a recordar esta pequena passagem, extraída do romance “ PAI,LEVANTA-TE, VEM FAZER-ME UM FATO DE CANELA” de Manuel da Silva Ramos, onde se lê a insensibilidade do padre que faz o funeral do seu Pai – um alfaiate, samaritano, solidário com tantos necessitados, que trabalhou no Refúgio (Covilhã). O Manel, filho, escreve: “ o funeral foi a uma sexta-feira. A Igreja do Refúgio estava abarrotada de gente. O padre, um inapto, nem sequer falou da personalidade do meu pai. Só de um céu retórico, egoísta, inexistente. Corrigi isto tudo lendo no cemitério um elogio fúnebre ao alfaiate do Refúgio. Um elogio à vida e à generosidade.

” António Alves Fernandes Aldeia de Joanes Maio/2014