HÁ CINQUENTA ANOS…

O escritor Manuel da Silva Ramos recebia o Prémio Literário Novelístico de Almeida Garrett, atribuído por Óscar Lopes, Mário Sacramento e Eduardo Prado Coelho, pelo seu livro “Os Três Seios de Novélia.”

Apanhei o comboio em Santa Apolónia, Lisboa, com destino à Primeira Companhia Disciplinar, demorando mais de doze horas para chegar à terra de Ribeiro Sanches.

Por ter caído ou sido empurrado da cadeira, causando-lhe deficiências físicas e psicológicas, Salazar deixou o comando da Nação e começou a “primavera marcelista”…

A Briosa – Académica de Coimbra-, estreava-se na UFEA, na Taça das Cidades com Feira, eliminatória decidida por moeda ao ar.

Realizou-se na Serra de São Mamede em Portalegre o 13º ACANC do Corpo Nacional de Escutas e o 5º Jamboré.

Iniciaram-se as Festas de Nossa Senhora da Agonia em Viana de Castelo, inspiradoras de um bonito Fado de Amália Rodrigues.

Aconteceu o Maio/68, nascido de uma forte contestação dos estudantes universitários parisienses. Os protestos estudantis estenderam-se às fábricas, sem o beneplácito das forças comunistas, que condenavam o movimento estudantil. As jovens frequentavam cafés, discotecas, vestiam-se de calças, usavam roupas ousadas e conjuntamente discutiam a guerra fria, que se vivia no espaço europeu.

Verificou-se em Portugal uma crise académica na Universidade de Coimbra, manifestações contra a ditadura, guerra do ultramar, guerra no Vietnam.

As tropas soviéticas invadiram a Checoslováquia, sendo assassinada uma jovem que colocou uma bandeira checa num tanque de guerra comunista. Os tanques soviéticos entraram em Praga, para destruir o sonho de Alexander Dubcek, que politicamente estava a construir uma economia, uma imprensa e uma cultura livre. O Regime Comunista Soviético não deixou instalar “as amplas liberdades.”

Estava ainda longe do pensamento do escritor Manuel da Silva Ramos o que viria a escrever: ” Em Portugal no ano 2020, os supermercados tornar-se-ão num refúgio ideal para mendigos, o Alentejo, a Planície Nacional dos Cemitérios e o Norte, a última barricada de vinho que ajuda a morrer. Já nem o fresco da sardinha virtual, coloca os portugueses de joelhos.”

Estavam longe as palavras do escritor e jornalista Baptista Bastos: “ o 25 de Abril foi um dos grandes momentos da Europa no momento do Séc. XX e o maior momento da História de Portugal. Mas é uma revolução perdida.” Também Fernando Dacosta, jornalista e escritor escreverá: “ os jovens de hoje não têm a Guerra Colonial, mas tem a Guerra da Subsistência.”

Também Eugénio de Andrade escreverá: “este país é um corpo exasperado/a luz de névoa rente ao peito/a febre alta à volta da cintura. O país que te falo é o réu/não tenho outro acender o lume/ou colher contigo o roxo das manhãs.”

Estava a embarcar em serviço militar obrigatório com centenas de militares para a Guiné Bissau, em rendição individual, no Paquete Uíge, sendo colocado no Batalhão de Engenharia 447 em Brá.

Fui pela primeira vez padrinho do crisma em Aldeia de Joanes, o que marcou o meu destino.

Descalço D. Eurico Nogueira, entrou numa mesquita em Vila Cabral, no Distrito de Niassa, em Moçambique, falando sobre o apelo de Paulo VI a favor da paz, num território em que as relações inter-religiosas eram amistosas graças à intervenção daquele pioneiro da fraternidade.

Os assinantes do “Jornal do Fundão” cresciam como cogumelos, todas as semanas os números aumentavam. Ontem como hoje, com as novas tecnologias, continua a essência deste Jornal junto das comunidades regionais, nacionais e internacionais.

Os Gaiatos da Casa do Padre Américo actuavam no Fundão, enchendo o Cine Teatro Gardunha, cuja receita foi a favor daquela Instituição dos Rapazes da Rua.

Na agricultura já se falava em mecanizar a vida rural nos campos.

Realizaram-se no Parque Desportivo do Fundão, por iniciativa da ADA (Associação Desportiva do Fundão), as Marchas Populares, apresentadas pelo Professor Sabino Borges de Morais, cujo júri ficou a cargo de Eurico Sales Viana, Prof. Carlos Gama e Dr. José Vasco Mendes de Matos. A multidão ouviu as marchas cantando: “Olhai p`ra tanta beleza/Que deixei um coração/Tu és mais que uma Princesa/Linda Vila do Fundão.” O Presidente da ADF, José Baltazar Dias Mendes, agradeceu o carinho, o entusiasmo do público, das comissões organizadoras das marchas. Luís da Silva Carvalho, em nome da Firma Cartel, entregou a Taça às Marchas de Silvares, o segundo lugar à Marcha de Nossa Senhora da Conceição e o terceiro prémio ao Bairro de Santo António.

Em Castelo Branco, realizavam-se os concursos de vestidos de chita, em que participavam as modistas sem estatutos profissionais.

No Tortosendo começou a funcionar o criado Ciclo Preparatório, de acordo com o ofício nº 3533 de 9/9/1968 do Director Geral dos Serviços do Ciclo Preparatório do Ministério da Educação.

A Escola Industrial do Fundão era frequentada por 520 alunos, e circulava um pedido para ser criada a Escola Comercial do Fundão “numa luta quotidiana, na conquista da cultura, para todo o concelho fundanense.”

Michel Giacometti, como frade franciscano, a quem muitos pediam a sua bênção, percorria territórios da Beira Baixa, Aldeia de Joanes, Souto da Casa, Lavacolhos, Alcongosta Silvares… perguntando, investigando, recolhendo, gravando canções, usos e costumes profano-religiosos.

Abriam-se caminhos da emigração, as pessoas queriam deixar de viver no quase limite da miséria.

Há cinquenta anos ainda estaria longe o pensamento da Ex-Procurador Geral da República Dr.ª Joana Marques Vidal: “surpreendeu-me a dimensão da corrupção em Portugal.”

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Outubro/2018