HOJE SOU EU O CRONISTA

Um dia memorável e inesquecível, não só para mim, mas principalmente para família do Antonio Alves Fernandes.

Normalmente, nestas festas e eventos, é ele que escreve, pedindo-me pontualmente uma ajuda de pormenor. Mas hoje, o principal ator, o “alvo” ou se preferirem o Pai da sua família, era o nosso cronista, o nosso António.

Tal como os “velhotes” dos Marretas, o nosso dueto de “Antónios”, tem viajado nas palavras e no tempo, sempre com a nossa terra do coração por perto.

Talvez por isso a escrita nos une e hoje, o outro marreta, o outro António, tem de fazer a crónica.

Mas afinal o que se passou que deva ficar na história?

Não foi mais que um dia do pai, como tantos outros, em que a família se reuniu e convidou amigos e outros familiares. E, como sempre, neste dia, os filhos brindam o Pai e, desta vez, entenderam fazer-lhe uma festa que ficasse na “memória coletiva”.

A “memória coletiva” é o trabalho que o António (não eu, mas o meu amigo e irmão escuta), tem feito ao longo da sua vida com as cronicas abertas, em discurso direto, e que nos mostram o país real, do homem mais simples à dama mais sofisticada, da festa ignorada ao passeio da fama. Mas o denominador comum é o seu olhar que revela um caracter humano, raro nos dias de hoje, e que tem um suporte de equilíbrio na descrição dos factos que “arrasa” com o “Fernão Mentes Minto”. A sua opinião nunca profana o acontecimento, tornando notável o seu trabalho literário. Mesmo na sua perspicaz capacidade analítica da personalidade do “alvo”, nunca deixa de se posicionar em, pelo menos, duas perspetivas.

Por isso deixa sempre o leitor a pensar, e a imaginar, como terá sido, como será, aquela pessoa, ou mesmo: “nem imaginava tal coisa!”.

Mas uma cronica sobre um cronista é trabalho árduo.

Tudo terá começado com um SMS da sua esposa, a Manuela, mãe dos seus três filhos, Paulo, Emanuel e Mário Tiago, a convidar-me para o lançamento do livro “O nosso Homem”, no dia 19/03/2017, na Associação Recreativa de Aldeia de Joanes. O convite refere que este livro de cronicas e de memórias tem muita gente dentro, sendo por isso uma sincera homenagem a muitos homens e mulheres que se foram cruzando ao longo da sua vida, e que, em face da nossa idade, muitos já terão partido. O convite termina com um profundo agradecimento à minha presença.

Nunca poderia faltar a este evento, viesse o que viesse. E no final explicarei o porquê.

Ainda cheguei antes da hora marcada, 16horas, havendo já uma fila enorme para comprar e autografar o livro do António, ou se preferirem, do nosso homem.

Á boa maneira inglesa, em Aldeia de Joanes, os horários são para se cumprir e o Presidente da Associação Recreativa, deu logo o “toque de marcha” para que os convidados se sentassem de forma a não atrasar o programa.

Na mesa, para além do nosso homem, estavam os filhos Paulo e Mário Tiago, a Manuela, o editor Ricardo Paulouro e o “prefaciante” Manuel da Silva Ramos. O outro filho, o Emanuel, também apareceu momentaneamente e manifestou um profundo agradecimento ao pai que tinha, destacando igualmente, a coragem e força de vida de sua mãe.

Intercalando as palavras da família, referenciando as qualidades de Pai e Marido, suportadas nos textos do livro, surgiam músicas portuguesas lindamente cantadas, e tocadas à guitarra, respetivamente, pela Marta Ramos e pelo José Lopes.

O Antonio, o nosso homem, terminou a sessão com um discurso simples, direto e discreto. Teve de o ler em face do cansaço e da emoção, que viveu neste memorável dia do Pai. Durante a cerimónia ainda se emocionou ao recordar, seu Pai, o nosso sacristão da Igreja dos Grilos e de Santa Maria, em Setúbal, nos longínquos anos sessenta.

O Presidente da Associação, o meu amigo António Sequeira Fernandes, mostrou estar ainda em forma, tendo desempenhado as funções protocolares com a preocupação de cumprir com o programa estabelecido, merecendo uma nota muito positiva.

E há boa maneira beirã não faltou a mesa posta e farta, com todas as iguarias, entretendo os convidados, enquanto o nosso homem, tentava não acabar a tinta da caneta, em face de tantos, mas tantos, livros para autografar.

Não sendo um conhecedor profundo das gentes de Aldeia de Joanes, tenho de realçar que na cerimónia estiveram presentes muitos amigos da terra, inclusivamente um deles meu colega de trabalho, colegas dos serviços prisionais, escuteiros da Fraternidade e do CNE, a Sra Vereadora Alcina Cerdeira, muita gente ligada à cultura fundanense, como alguns leitores do clube da Biblioteca Eugénio de Andrade, e ainda familiares da Manuela, como a irmã o cunhado, também António, os irmãos Francisco, João e Ezequiel, tendo este ultimo trazido a esposa, filha, genro e netos.

As cronicas do António, do nosso homem, são únicas, e por esse motivo, este meu texto, não passa por isso de uma tentativa.

Mas faço-o com humildade e muita amizade.

Ao terminar não posso esquecer, e refletir, que ao longo de tantos anos vivi, e convivi, com a família Fernandes. Desde o tempo em que via atentamente o Sacristão na Igreja de Santa Maria, até às confidências do Joaquim e às repreensões do Francisco (diga-se em boa verdade com muita razão).

Passados tantos anos, com centenas de voltas ao mundo, venho encontrar a 300km do azul do Sado, o nosso homem, que por sinal também é Fernandes.

Coincidência, ou não, o facto é que tudo isto me faz pensar.

Longa vida meu irmão escuta!

António José Alçada

Aldeia de Joanes

Dia do Pai, 19/3/2017