Jesus Cristo é Palavra viva e fonte de vida que destrói toda a espécie de mal.

No primeiro domingo da Quaresma começamos por lembrar a importância de centrar a atenção sobre a verdade da nossa vida e a verdade do mundo para, a partir dela, podermos tomar boas decisões e levá-las à prática.

Todos sentimos a tentação de andar por caminhos que nos situam fora da verdade e mesmo nos conduzem para longe dela. Esses caminhos existem e, algumas vezes até nos são propostos como normais e geradores de felicidade, por satisfazerem apetites e interesses individuais ou de grupo.

Todavia, os factos cada vez mais comprovam que andar por caminhos contrários à verdade ou fora dela é fonte das maiores desordens com prejuízo para a vida das pessoas em geral, principalmente dos mais débeis e menos protegidos.

A palavra de Deus hoje alerta-nos para a sedução que estes caminhos contrários à verdade exercem sobre as pessoas em geral. Não estamos perante nenhuma novidade, pois esta tem sido uma constante na história da Humanidade, desde o seu início, como lembra a leitura do livro do Génesis hoje proclamada.

E Jesus não se quis subtrair à experiência de ser tentado a percorrer esses caminhos desviantes. O texto evangélico diz mesmo que as tentações fazem parte do desígnio de Deus e por isso, Ele é conduzido ao deserto pelo Espírito Santo para ser tentado.

S. Paulo tranquiliza-nos ao garantir que a tentação nunca será mais forte do que a Graça de Deus que ele distribui a todos os que a não recusam. Onde abundou o pecado superabundou a graça, como lembra o Apóstolo.

O mesmo Jesus que venceu as tentações e percorreu sempre o caminho do bem é para nós hoje e sempre a Palavra viva e fonte de vida que vence toda a espécie de mal em nós e no mundo.

Ele é o Verbo de Deus, Palavra viva e eterna, que veio ao mundo enviado pelo Pai para nos fortalecer na verdade. E quando falamos em verdade, falamos da verdade das pessoas, mas também da verdade do mundo e na verdade da história feita de relações entre as pessoas.

A verdade das pessoas consiste principalmente em elas serem criadas por Deus, para viverem no tempo, mas com vocação de eternidade. Sempre que os bens materiais deixam de ser usados como meio e passam a ocupar o primeiro lugar nas nossas intenções e nas nossas práticas  começam os dramas, por esta verdade ser posta em causa. Por isso Jesus lembra hoje no Evangelho que nem só de pão vive o homem. A verdade  do homem e da mulher consiste também em que foram criados para serem senhores e não escravos; mas senhores que respeitam as leis fundamentais inscritas pelo criador na matriz de toda a criatura. E toda a situação difícil por que estamos a passar socialmente exige sobretudo a quem governa que leve muito a sério este elementar princípio. Caso contrário, pode governar, mas governará certamente mal ou seja contra o bem das pessoas. Não basta ter conhecimentos para governar bem. Se assim fosse o nosso país estaria na melhor situação de sempre, pois nunca tivemos tantos doutores como hoje. O certo porém é que na arte de governar precisamos de saber conjugar cada vez mais o conhecimento exacto com a sabedoria dos valores que dão sentido à vida e geram condições de bem estar total para todos.

As tentações que Jesus sofreu também envolveram a relação com Deus. É dado assente de uma sã antropologia que a realização do ser homem e ser mulher não é possível fora desta relação. Porém nós assistimos nas sociedades de hoje a dois tipos de perversão no relacionamento com Deus. Um deles é o silenciamento e mesmo a recusa deste dado incontornável da nossa condição. Sobretudo o mundo europeu, dito evoluído, parece postado em negar toda e qualquer direito de cidadania a Deus e àqueles que teimam em dar expressão pública à relação com Ele. Outro é o aproveitamento da relação com Deus para fins que lhe são totalmente estranhos, como é a utilização abusiva dos sentimentos religiosos das pessoas para acções de violência e mesmo de morte, como infelizmente continua a acontecer.

Que toda esta Quaresma seja oportunidade bem aproveitada para todos restabelecermos a relação com a verdade profunda das nossas pessoas e do nosso mundo e daí tirarmos todas as consequências para o comportamento saudável, pessoal e comunitário.

Para a próxima semana meditaremos sobre “Jesus, Palavra viva que nos transfigura”.

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda.