Caros padres concelebrantes, estimados seminaristas, caros acólitos, amigos e conterrâneos de Vale de Estrela, amigos de outras paragens da vida.
O que hoje aqui acontece, não é mais do que aquilo que nós fazemos sempre. O que aqui acontece, é o que há de mais elevado. No meio de nós torna-se presente o Senhor de todos os tempos, Jesus Cristo. Com efeito celebramos neste dia e nesta paróquia de Vale de Estrela, um momento especial de acção de graças. Celebramos o momento em que presido pela primeira vez à Eucaristia na minha Paróquia natal. Mas nós não celebramos a mim, não celebramos um homem. Celebramos o sacerdócio de Jesus Cristo e celebramo-lo em Igreja. Celebramos aquela à qual todos nós pertencemos, uma vez que o que é concedido a um em graça beneficia a todos. O serviço e a cooperação de um, manifesta a dignidade e a comunhão de todos. O chamamento e a resposta de vida de um, significa alegria e felicidade para todos.
O Evangelho que escutamos e que escolhi por estarmos em pleno ano litúrgico A e ser Mateus, o evangelista primordial, fala do evangelho e do chamamento de Mateus. E este texto não é substancialmente diferente do relato de chamamento de outros discípulos. Em quase todos os relatos, se fala de homens que estão a trabalhar, a quem Jesus chama e deixando tudo, seguem o mesmo Jesus. Quem são os que Jesus chama?
Os chamados não são super-homens, super-heróis, seres perfeitos e santos, estranhos ao mundo pairando acima das nuvens. Não são seres acima das situações do dia-a-dia, sem contacto com a vida e com os problemas e dramas dos homens e das mulheres. Os chamados são pessoas perfeitamente normais, que vivem uma vida normal, que trabalham, lutam, riem e choram. O Sacerdote é um Homem. Talhado pelo mesmo barro de cada homem, que partilha a mesma sorte de cada homem. Mas o Sacerdote é um homem para que assim se acredite, que a graça de Deus pode ser concedida ao Homem, pobre e realmente Homem.
A relação fundamental de cada Homem com Jesus, expressa-se no evangelho que escutamos através da metáfora do seguimento. Isto significa que segundo o evangelho à verdadeira relação com Jesus e autentica fé, quando seguimos o próprio Jesus. Todos somos chamados ao seguimento de Jesus. É portanto isso que Jesus pede a Mateus, o seguimento. Mas o que significa afinal, seguir Jesus?
Seguir implica manter uma relação de proximidade a alguém, graças a uma actividade ou um movimento subordinado a essa mesma pessoa. Seguir implica por conseguinte uma relação de proximidade e movimento. A proximidade que Jesus deseja é a mesma proximidade que existe entre o discípulo e o mestre. É a mesma proximidade que existe entre os verdadeiros amigos. É a mesma proximidade existente entre o servo e o seu Senhor. É inclusivamente a mesma proximidade existe entre diferentes seres que se amam. Seguir Jesus significa então, estar com Jesus. E este é o destino de cada Sacerdote, viver na proximidade expressa de Deus. Mas seguir Jesus não é somente estar próximo d’Ele. É também movimento, porque não se trata apensas de estar onde Jesus está. Trata-se também de ir aonde Jesus vai. Assim quando Jesus chamou Mateus para que o seguisse o texto do evangelho indica que Jesus passa, Mateus está sentado e ao escutar o chamamento, levanta-se e põem-se a seguir Jesus. Mateus sem objecções e pedidos de esclarecimento, deixa tudo e aceita ser discípulo numa adesão plena, total e radical a Jesus Cristo. Mateus define aqui o caminho verdadeiro do discípulo, é aquele que sendo Homem, na sua vida perfeitamente normal, que se encontra com Jesus, escuta o seu convite e o segue de forma incondicional. O seguimento de Jesus é então ao mesmo tempo, proximidade e movimento com Ele. Aquele que se mantiver quieto, passivo deixar de estar próximo de Jesus. Porque Jesus nunca está parado ou instalado em lugar algum. Jesus passa, fixa o seu olhar em todos nós. Seja qual for a nossa condição e idade, sabemos que Jesus passa perto da nossa vida, que nos olha e dirige a cada um de nós uma palavra de maneira singular. No relato da vocação de Mateus, à no entanto um dado novo em relação aos outros relatos de vocação. É que aqui, aquele que é chamado, é um cobrador de impostos, o ministro das finanças. No tempo de Jesus, os cobradores de impostos, eram pessoas sem qualquer possibilidade de salvação e de relação com Deus, eram gente desclassificada, excluída da vida social e religiosa. Tudo isto nos permite perceber o espantoso da situação criada por Jesus. Ele não só chama um publicano para o seu grupo de Discípulos, como também aceita sentar-se à mesa com Ele, estabelecendo assim laços de familiaridade, de fraternidade e de comunhão. Ao sentar-se à mesa com os publicanos e os pecadores, Jesus está a dizer de forma clara que veio apresentar uma proposta de salvação para todos, sem excepção. O comportamento de Jesus é uma verdadeira provocação. O evangelho evidência que os mais incapacitados para seguir Jesus, não são os pecadores, mas sim as pessoas mais religiosas, são os fariseus, muitos ciosos da sua santidade e fechados sobre si mesmos, numa atitude de auto-suficiência. A mentalidade e o comportamento farisaico, chocaram evidentemente com a misericórdia de Deus, mas mais do que isso, a mentalidade e o comportamento farisaico recusaram-se a aceitar uma nova maneira de viver e entender a relação do Homem com Deus. Não compreenderam que todo o segredo da questão estava em seguir Jesus mais de perto, mesmo aceitando as suas fragilidades e incapacidades.
Neste episódio Jesus ensina-nos com o seu exemplo a estarmos abertos a todos, para ganharmos a todos. Mostra-nos que o diálogo da salvação não está combinado, fechado, nem condicionado pelos méritos pessoais de ninguém. O diálogo da salvação é oferta a todos os Homens, sem qualquer tipo de discriminação. Para Deus o que é decisivo portanto, não é o cumprimento estrito de regras, das leis e dos actos do culto. Para Deus o que é decisivo é estar disposto a acolher a proposta de salvação que Ele faz e entregar-se confiadamente nas suas mãos. Viver uma relação de proximidade e movimento com Jesus é um destino simultaneamente tremendo e fascinante que se destina obviamente a cada ser Sacerdote. Fascinante porque Jesus dá a felicidade. Tremendo porque se trata de um caminho difícil que exige sofrimentos, renuncias, purificações, renovação de vida.
No horizonte da minha missão, não espero encontrar caminhos feitos, terei de faze-los através de montanhas e vales, à força das minhas passadas. Se ponderar esta sorte tremenda e fascinante do Sacerdote poderia ficar perplexo. Mas encontro força na graça de Deus, o próprio Espírito Santo como nos dizia a segunda leitura “vem em auxílio da nossa fraqueza, Ele e não Eu completará o que Ele mesmo começou”. Ele é meu intérprete e intercessor, elevando a Deus o meu coração que Ele também conhece.

Vale de Estrela, 17 de Julho de 2011
Missa de Acção de Graças
Pe Rafael José