Com o Primeiro Domingo do Advento, damos início a um novo Ano litúrgico, ao longo do qual voltamos a celebrar toda a história da salvação. Começamos com a preparação e celebração do mistério da Incarnação. O Filho de Deus veio ao nosso mundo, assumiu a natureza humana no seio de Maria e habitou com os homens. Depois, temos o mistério da redenção, centrado na paixão, morte e na ressurreição de Jesus. Estes acontecimentos são celebrados e vividos na expectativa da segunda vinda de Jesus e na certeza de que Ele continua presente, de um modo misterioso mas real, na sua Igreja.
A liturgia chama ao presente os acontecimentos do passado, ou seja, faz acontecer no hoje da vida da Igreja e dos cristãos a salvação de Deus. Ao mesmo tempo, projecta-nos no futuro da história, rumo à sua plenitude. Mais, impele-nos a contemplar e saborear já as realidades últimas. Deste modo, a liturgia, no presente que nos é dado viver, actualiza o passado e antecipa o futuro da salvação.
O Advento precede e prepara o Natal do Senhor. O texto do Evangelho de Marcos, proposto para este Primeiro Domingo, revela-nos que devemos preparar e viver o Natal não tanto como uma mera evocação do nascimento de Jesus, mas, muito mais, tendo no horizonte e como perspectiva a sua vinda gloriosa, no fim dos tempos. É a esta última vinda que Marcos se refere e para a qual nos exorta a estar vigilantes. “Atribuindo a cada um a sua tarefa”. Enquanto aguardamos a vinda do Senhor, temos uma tarefa a cumprir, uma missão a realizar. O tempo da espera é o tempo de seguir Jesus e de O dar a conhecer aos homens; o tempo de O acolher na nossa vida e partilhar com os outros a nossa experiência de fé; o tempo de fazer a nossa parte na construção da sociedade humana segundo os valores do Reino e, assim, ser “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt 5,13.14); o tempo de O amar nos irmãos e, ao mesmo tempo, testemunhar o seu amor por eles; o tempo de apostar no futuro e permanecer firmes na esperança.
Assim acordados e vigilantes, daremos conta que, durante o tempo de espera, Jesus vem ao nosso encontro nos irmãos, torna-se presente quando nos reunimos em seu nome, fala connosco através do Evangelho, oferece-se por nós e a nós na Eucaristia, manifesta-nos o seu amor misericordioso no perdão dos pecados. Numa palavra, Jesus, no hoje da nossa vida, ilumina-nos, santifica-nos e salva-nos. Este vir de Jesus em cada dia confirma a nossa esperança de que voltará na plenitude dos tempos.
Estar acordado e vigilante, porque se aguarda a vinda do Senhor, é a espiritualidade própria do Advento – espiritualidade/Advento que se prolonga por todo o tempo da história. É também a atitude de quem entende o alcance e aceita os desafios do Natal. Esse aproveitará o tempo do Advento para mergulhar mais profundamente no mistério do Deus que se fez homem, sobretudo o mistério do seu amor e humildade. Aproveitará para revisitar e examinar a sua vida, procurando verificar até que ponto se tem deixado encontrar por Jesus e O tem deixado nascer e crescer na sua vida. Será ainda particularmente sensível nos irmãos necessitados, consciente de que eles são o principal presépio em que Jesus se mostra aos homens e no qual os homens o devem procurar e adorar.
“Não se dê o caso que vos encontre a dormir”. Muitos homens e mulheres, mesmo entre os baptizados, encontram-se espiritualmente adormecidos, ou seja, completamente alheados de Deus e despreocupados com as questões últimas da vida. Muitos até sabem alguma coisa sobre Jesus e aceitam a sua dimensão histórica, mas são totalmente indiferentes à sua mensagem e à sua vida. Tanto uns como outros também vão celebrar o Natal. Não, certamente, o Natal de Jesus. Vão, isso sim, celebrar o Natal do consumo, o Natal do Pai Natal. Aproveitam o dia para fazer festa, reunir a família e os amigos e trocar prendas. Esses vivem o seu “advento” a programar a festa, a pensar nas prendas e a fazer compras. Gastarão grande parte do seu tempo disponível a “contemplar” as montras e a “rezar” nas “catedrais do consumo”, despejando aí as suas “esmolas”! Andarão numa roda-viva e divertir-se-ão à brava, mas perderão o que de melhor tem o Natal: Jesus Cristo.

Padre José Manuel Martins de Almeida