“Vinde ver”

João Baptista, na presença de dois dos seus discípulos, apresenta Jesus como “o Cordeiro de Deus”. Já antes, quando Jesus veio ao seu encontro para ser baptizado, tinha exclamado: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”(Jo 1,29). Ao identificar Jesus como “o Cordeiro de Deus”, João tem certamente presente e inspira-se no cordeiro pascal dos judeus.
Na última ceia que celebram no Egipto, os israelitas, por ordem de Deus, imolam um cordeiro e com o seu sangue pintam as ombreiras das portas das suas respectivas casas. Quando passa pela terra do Egipto, para ferir todos os seus primogénitos, ao ver o sangue, o Senhor passará ao largo, poupando os primogénitos dos filhos de Israel (Ex 12,1.14). A partir daquele acontecimento, ao qual está indissociavelmente ligada a saída do povo de Israel da terra Egipto, o cordeiro passa a ser sinal de salvação e de libertação.
Jesus é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” enquanto oferece a sua vida, derrama o seu sangue e morre na cruz para redimir o homem, libertando-o da escravidão do pecado e reconciliando-o com Deus.
“Eis o Cordeiro de Deus”. A estas palavras, os dois discípulos deixam João Baptista seguem Jesus. Seguem-no, certamente, com muita curiosidade e, ao mesmo tempo, com alguns receios e temores. Quem será afinal este novo Mestre e que terá de especial para ensinar aos homens? Que quererá e fará de nós? Que riscos correremos indo atrás dele? Que futuro nos garantirá? Ficaremos melhor com Ele do que com João Baptista? Todas estas inquietações, eles as revelam na pergunta: “Mestre, onde moras?”
Jesus não quer discípulos a qualquer preço. Pelo contrário, quer seguidores conscientes e livres. Por isso, interpela-os com a pergunta: “que procurais?” O que vos leva a seguir-me? Qual é a vossa motivação? E qual é o vosso objectivo? O que pretendeis e esperais de mim? Seguis-me, porque João concluiu a sua missão e não tendes mais nada que fazer nem tendes mais ninguém com quem ficar? Ou porque, tendo ouvido o que João disse a meu respeito, quereis realmente conhecer-me e ser verdadeiramente meus discípulos?
“Vinde ver”. Ser discípulo implica aceitar o desafio de seguir por um caminho desconhecido e abraçar um novo projecto de vida. É preciso caminhar com Jesus, ir vendo e descobrindo quem Ele é, o que Ele tem para dar aos homens, o que tem para lhes propor e pedir. Ser discípulo de Jesus exige segui-lo sempre, percorrer todo o caminho e permanecer com Ele até ao fim.
“Vinde ver”. Jesus não dá certezas antecipadas nem promete proveitos humanos. Quem O segue não pode esperar uma vida cómoda e fácil, nem ambicionar riqueza, fama e poder. O próprio Jesus – Ele que é o Filho de Deus – escolheu o caminho da humildade e da pobreza, considerando-o o mais adequado para amar e servir os homens.
A riqueza que Jesus tem para oferecer àqueles que O seguem é o Reino de Deus e a vida de Deus que Ele tem em si para comunicar, com generosidade e abundância, a todos os homens.
Aqueles dois discípulos seguiram Jesus. O primeiro contacto foi extraordinariamente positivo. Naquela mesma tarde, André vai partilhar a sua experiência com o irmão e leva-o até Jesus. Jesus tinha-o seduzido e conquistado e havia de seduzir e fascinar também Simão Pedro e, depois dele, muitos outros.
Eles seguiram Jesus e permaneceram com Ele até ao fim, mesmo depois de constatarem que Jesus não garante grandezas e riqueza, poder e fama, títulos e privilégios humanos; mesmo depois de verificarem que Jesus não tinha onde reclinar a cabeça e que era incompreendido e rejeitado por muitos dos seus contemporâneos; mesmo depois de ouvirem a Jesus que é preciso deixar tudo para O seguirem e que o maior no Reino de Deus é aquele que se faz servo de todos; mesmo depois de eles próprios começarem a ser caluniados e perseguidos por causa do Seu nome.
Permaneceram com Ele e continuaram a sua missão, porque descobriram e acreditaram que Jesus é realmente o Cordeiro de Deus, o Salvador do Mundo, a ressurreição e a vida dos homens; porque verificaram e reconheceram que só Ele tem palavras de vida eterna e só a Sua verdade liberta e salva o homem.

Pe. José Manuel Martins de Almeida