No encerramento das jornadas de formação do Clero

Aos Sacerdotes e Diáconos

Encerramos agora as nossas  jornadas anuais de formação, onde reflectimos sobre caminhos para “retomar a recepção do Concílio Vaticano II na nossa Diocese da Guarda”.

Quisemos olhar para o Concílio Vaticano II na perspectiva de definirmos um programa pastoral para a nossa Diocese, que ocupará os próximos anos, com o objectivo de retomar a sua recepção nas nossas comunidades.

Para isso, nestas jornadas, o nosso olhar foi duplo.

Primeiro, um olhar sobre o que foi a primeira recepção, há 50 anos e período de tempo subsequente. E pudemos contar com duas importantes contribuições para trazer à nossa memória este primeiro olhar. Uma delas foi o testemunho de três intervenientes directos nessa primeira recepção. Outra contribuição foi uma investigação para tese de doutoramento precisamente sobre este tema  e com o título “A recepção do Concílio Vaticano II na Diocese da Guarda”.

Foi para nós importante revisitar esta primavera de esperança que a chegada do Concílio desencadeou também na nossa Diocese. Não deixámos de constatar a principal dificuldade que se colocou nesta primeira recepção e que foi a de mudar as mentalidades, de facto, formatadas em compreensões da Igreja muitas distantes daquela que o Concílio apontou.

A parte final dos trabalhos foi o início de um outro olhar sobre o nosso futuro próximo, em que desejamos retomar a recepção do Concílio Vaticano II  na nossa Diocese da Guarda.

Nesta parte final, para onde quisemos orientar todos os trabalhos, depois de uma introdução sobre aspectos do modelo de Igreja proposto pelo Vaticano II, sacerdotes e diáconos procurámos, em conjunto, caminhos para a elaboração de um plano pastoral capaz de remotivar as nossas comunidades  e a nós próprios, que somos os mais directos responsáveis pela sua condução, para percorrer caminhos deste modelo de Igreja conciliar. Desejo, neste momento, registar algumas ideias que vão contribuir para a definição de objectivos e propostas de estratégias que o nosso plano pastoral há-de integrar e propor para a vida desta diocese nos próximos anos.

Entre elas destaco, agora, as seguintes:

Sentimos necessidade de renovar a linguagem na comunicação com as pessoas. O aproveitamento das homilias e das celebrações litúrgicas, em geral, não está a ter os resultados desejados entre nós. Sentimos que temos de dar mais qualidade às celebrações e também que a Eucaristia, particularmente a dominical, não pode ser banalizada.

Há necessidade de definir e compreender melhor os destinatários da mensagem que se quer transmitir; e nessa linha, crescer na capacidade de adaptar a linguagem aos diferentes destinatários, quer dentro quer fora da Igreja.

Precisamos de continuar a fomentar a fraternidade sacerdotal, que o “Presbiterorum Ordinis” chama fraternidade sacramental também para podermos garantir testemunho credível em todo o processo da revisão das formas de ser Igreja das nossas comunidades, à luz do Concílio.

Precisamos de continuar a promover condições para dar lugar a todos na construção da Igreja, segundo o modelo conciliar. E esse esforço tem de começar por nós prgias capazes de permitir a todo o Povo de Deus da nossa Diocese fazer ouvir a sua vozIgtreja proposto na Lumen Gentium os gruposóprios, enquanto Clero desta Diocese, pois ninguém pode dar o que não tem.

Precisamos de continuar a formar e a dinamizar pastoralmente, a partir do modelo de Igreja proposto na Lumen Gentium os grupos de cooperadores pastorais de cada comunidade ou ligados ao mesmo pároco.

Queremos criar condições e desenvolver estratégias capazes de permitir a todo o Povo de Deus da nossa Diocese fazer ouvir a sua voz sobre as várias preocupações existentes e outras que é preciso estimular.

Também porque o número de sacerdotes tem diminuído nas últimas décadas, impõe-se abrir novos caminhos de pastoreio das nossas co­munidades paroquiais em que se veja claramente a complementa­ri­da­de e a comunhão dos diferentes ministérios ao serviço da comunhão da Igreja. São, por isso, para implementar soluções pastorais em que se confiem aos nossos  diáconos permanentes e mesmo a outros fiéis a responsabilidade directa por comunidades ou serviços pastorais determinados, como prevê o próprio código de direito canónico.

Precisamos de aprofundar o esforço conjunto para a leitura dos sinais dos tempos e integrar o mais possível dados dessa leitura quer na elaboração inicial do nosso plano pastoral quer no decorrer da sua aplicação.

Estas e outras ideias que aguardamos da próxima reunião do Conselho Presbiteral e, a seguir, do Conselho Pastoral Diocesano, hão-de estar presentes no nosso plano pastoral que desejamos venha a marcar a vida da Diocese pelo menos até ao ano de 2016.

 Foi preciosa  ajuda aquela que nos deu o Bispo Auxiliar de Braga D. Manuel Rodrigues Linda, com a apresentação inicial do que chamámos “A árvore do Concílio”, que iremos ter presente em todo o esforço para a retoma da recepção da mensagem conciliar, que, 50 anos depois, longe de ter perdido actualidade, mais a reforçou, dadas as condições da sociedade e da Igreja no momento actual.

Guarda, seminário Maior, 24 de Janeiro de 2013

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

in: http://diocesedaguarda.pt/