MENSAGEM DO BISPO DA GUARDA: QUARESMA 2016

“Quaresma em tempo jubilar da Misericórdia”

Diz o Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma deste ano que ela é tempo favorável para todos podermos sair da alienação existencial própria, graças à escuta da Palavra de Deus e à prática das obras de misericórdia.

Ora a misericórdia de Deus, cujo rosto é a Pessoa de Jesus Cristo, transforma o coração humano e torna-o também capaz de misericórdia, principalmente através da prática das obras de misericórdia, tanto as corporais como as espirituais.

“Não esqueçais os pobres” – foi o apelo dirigido pelo Papa Francisco à cimeira do Fórum Económico Mundial reunida em Davos (Suíça) de 20-23 de Janeiro passado. E acrescenta nesta sua mensagem: “Perante mudanças profundas e epocais, os lideres mundiais são desafiados a garantir que a chegada da quarta revolução industrial, com os efeitos da robótica e das diferentes inovações e tecnologias, não leva à destruição do ser humano”.

Este apelo do Papa Francisco está mais do que justificado, perante duas revelações feitas no referido Fórum. Uma delas é que a quarta revolução industrial, já em curso, vai gerar nos próximos 5 anos, entre os países desenvolvidos e emergentes, pelo menos mais 5 milhões de desempregados. A outra é que as 62 pessoas mais ricas do mundo possuem tanto como metade da população mundial (a mais pobre, logicamente).

Nos dias 3 e 4 de Fevereiro, o nosso clero teve as suas jornadas de formação, orientadas por dois sacerdotes da Ordem dos Pregadores (dominicanos), com a finalidade de preparar o anúncio da misericórdia durante o Jubileu, principalmente nos lugares com os programas jubilares definidos e já anunciados.

Tanto na catedral, que é lugar jubilar para toda a Diocese, como em cada um dos outros lugares jubilares que existem distribuídos pelos arciprestados, há sempre o apelo à prática das obras de misericórdia.

A Quaresma é, por si mesma, apelo especial à nossa renúncia para ajudar a responder a necessidades concretas das pessoas.

Ora o Papa Francisco tem convidado sistematicamente toda a Igreja a olhar para as periferias e a ser uma Igreja em saída ao encontro dessas periferias.

Este ano, com a nossa renúncia quaresmal queremos contemplar duas periferias.

Uma delas está fisicamente perto de nós. Até há pouco, havia um fundo nacional de solidariedade tutelado pela Conferência episcopal, a que, durante vários anos, recorremos para satisfazer necessidades mais urgentes identificadas pela nossa Cáritas Diocesana e pelas Conferências de S. Vicente de Paulo. Esse fundo de solidariedade nacional acabou, mas as necessidades continuam.

Queremos, por isso, destinar metade da nossa renúncia quaresmal deste ano para, através de um fundo diocesano de solidariedade, já que acabou o nacional, podermos continuar a responder a essas necessidades espalhadas por toda a nossa diocese, através da Cáritas Diocesana e das Conferências de S. Vicente de Paulo.

A outra periferia que queremos contemplar com a renúncia desta quaresma está fisicamente mais longe de nós e situa-se em Angola, na missão D. João de Oliveira Matos, no município da Kilenda, Distrito de Quanza Sul, a 380 quilómetros da capital da País.

A escola do ensino básico desta missão, promovida pela nossa Liga dos Servos de Jesus, é frequentada por 300 crianças, muitas das quais não têm possibilidade de fazer uma única refeição por dia. Acrescentam-se a estas as crianças que, nos aldeamentos vizinhos, são visitadas e acompanhadas pela comunidade das Irmãs, a partir da missão D. João de Oliveira Matos. É nosso objectivo poder vir a oferecer uma refeição diária a cada uma destas crianças.

Para esta segunda periferia desejamos destinar a outra metade da nossa renúncia quaresmal. Estamos na quaresma para ir aos fundamentos da nossa identidade de discípulos de Cristo. Não o esqueçamos: a nossa generosidade para com os irmãos será sempre superada pela infinita generosidade de Deus a nosso favor”.

Guarda, 6 de Fevereiro de 2014

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda