Não gosto das palavras: «Não sei».

A que horas chegas? Não sei.

A que horas sais? Não sei

Tens saudades minhas? Não sei.

O que precisas? Não sei.

É muito difícil a resolução interior… Não é por mal que não sabemos as coisas… às vezes acontece não sabermos mesmo.

O que sabemos desde sempre é que gostamos que os outros nos entendam, se temos fome, se temos sono, se temos medo, se sentimos saudade… Mas também gostamos que os outros nos entendam sem que seja preciso dizer algo ou emitir qualquer som. Estranha forma de comunicar, esta… A de perceber a necessidade do outro pelo simples olhar.

A maior felicidade que nos podem dar, é o entendimento sem a linguagem. Essa sintonia é perfeita! Sentir sem ouvir, ouvir com o coração, falar com a respiração e pensar com o olhar.

Há quem diga que isto só se consegue com anos de conhecimento, com anos de amizade ou outro sentimento profundo qualquer.

Este entendimento, esta sintonia, consegue-se com a sensibilidade e preocupação com o outro. Se sairmos daquilo a que chamamos «o meu espaço» e olharmos à nossa volta, talvez consigamos sentir o ar da solidão de alguém, sentir o cair das lágrimas da dor de alguém, sentir o aperto do coração da saudade de alguém. É muito importante este entendimento, esta sintonia, de nós para os outros e dos outros para nós.

O ser humano vive preocupado. Com as SUAS contas para pagar, com os SEUS horários, com o SEU sono, com a SUA saúde… e de facto temos que nos preocupar connosco, mas eu acho que a nossa preocupação é tanta que podemos partilhá-la, com quem já não consegue sequer ter preocupação.

Quem não se preocupa consigo próprio, desistiu de viver. E precisa de alguém que, com apenas um olhar, um gesto fraterno, lhe devolva preocupação, lhe devolva força e vida.

Tantos jovens «perdidos» que já não sentem a preocupação por si próprios, que agora se lhes perguntarmos o que precisam vão dizer «Já não sei». Tantos idosos cansados de lutar contra a solidão que, se lhes perguntarmos se querem companhia, vão dizer «Já não sei o que isso é». Tantas pessoas que só precisam de um olhar preocupado para se redescobrirem. 

Para quem não sabe, este é o ano da Misericórdia. Numa pequena pesquisa, encontrei o significado de Misericórdia:

«Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia. A expressão misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). “Ter compaixão do coração”, significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos de alguém, ser solidário com as pessoas.» (http://www.significados.com.br/misericordia/)

Penso ser este o desafio, antever a necessidade do outro, não permitindo o sofrimento profundo. Esta é a verdadeira Misericórdia, esta é a verdadeira essência da humanidade.

Suzana Santos