NATAL 2019 I MENSAGEM DO BISPO DA GUARDA

É Natal

Vamos ao Presépio
Entrámos no mês do Natal.
E, de repente, tudo, à nossa volta, mudou de cor, com a memória a transportar-nos àquelas pessoas e àqueles ambientes que mais marcaram e continuam a marcar as nossas vidas.
Tudo isto acontece, porque houve um Menino que nasceu em Belém, há dois mil anos, fora da cidade e numa manjedoura.
O Papa Francisco, logo no 1º dia do mês do Natal, resolveu deslocar-se ao lugar onde foi construído o primeiro presépio, há 800 anos e, a partir de lá, dirigir ao mundo uma mensagem sobre o que significa este “Sinal Admirável”.
Diz-nos ele que este é um sinal admirável, porque nos anuncia o mistério profundo da Encarnação do Verbo e sobretudo constitui sempre uma forma genuína de propor, com simplicidade e beleza, a Fé Cristã. Manifesta a ternura de Deus, porque o criador resolve descer até à pequenez da criatura. É, por isso mesmo, apelo a seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, a exemplo de Jesus e a encontrá-lo nos irmãos e irmãs mais necessitados.
O Presépio coloca-nos também diante do encanto da Sagrada Família, modelo de todas as famílias chamadas a ser santuários da vida e do amor.
Falando de famílias, falamos da fonte da vida; vida que começa pe­que­nina, cresce, desenvolve-se até à maturidade; vida que passa por etapas variadas, como são a infância, a adolescência, a juventude, a idade adulta, até ao termo natural da existência sobre a terra.
Todas estas etapas são importantes, mas algumas requerem mais atenção, porque envolvidas em maior fragilidade e dependência, como são sobretudo as do princípio e do fim.
Às vezes, surge a tentação do abandono e até mesmo da rejeição das pessoas, sobretudo na primeira e na última das etapas da vida, ou porque vêm incomodar ou porque passaram a ser um peso.
A mensagem do Menino de Belém é clara e diz-nos que a vida é sagrada em todas as suas etapas. Por isso, quer o aborto quer a eutanásia ou quaisquer outras formas de atropelo à vida não podem ter lugar em sentimentos verdadeiramente huma­nos.
Mas não basta recusar teoricamente os atropelos à vida. Precisamos de saber organizar-nos para darmos respostas convincentes às necessidades variadas que se multiplicam à nossa volta. Entre as respostas mais ajustadas estão as instituições de apoio social, geralmente de iniciativa privada, que têm acordos de cooperação com a administração pública.
Todos conhecemos a importância destas instituições nos nossos meios, principalmente por duas razões. Uma delas é que as populações, percentualmente mais envelhecidas do que nos grandes centros, precisam delas. A outra é que em muitas das nossas terras elas são a única oferta de emprego.
Mas a verdade é que elas estão a passar por dificuldades acrescidas, principalmente devido às exigências da legislação em vigor e porque as reformas dos seus utentes, em geral, são muito reduzidas e têm diminuído no seu poder de compra. Por sua vez, os apoios estatais, de facto, têm diminuído igualmente, mesmo quando os montantes se conservam os mesmos, sabendo nós que os encargos não param de subir.
O que tem acontecido é que muitas destas instituições estão hoje a viver de poupanças próprias, que puderam fazer quando os apoios eram mais significativos
É chegado o momento, por isso, de a tutela do Estado dialogar a sério com estes serviços e considerá-los caso a caso, para ajudar a encontrar caminhos de sustentabilidade, onde eles já não existem ou estão em perigo.
Este é, de facto, um caminho de cooperação que tem história feita entre nós, com resultados muito positivos e que a população precisa de que não seja interrompido.
O Natal e a mensagem de Belém, ao colocar os mais pobres no centro das nossas atenções, exige que não fiquemos parados mas nos esforcemos conjuntamente por procurar as soluções mais ajustadas.
Que a bênção do Menino de Belém seja o grande presente do nosso Natal.

12.12.20
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda