0 CICLO DO CARNAVAL – QUARESMA – PÁSCOA

 

Vem aí um ciclo que se repete todos os anos. Proponho que me acompanhem numa peregrinação humana, religiosa e turística com inúmeras referências e percursos.

De norte a sul do País, todos terão oportunidade de participar nesta tríade, onde numa grande calendarização se organizam e misturam manifestações profanas e religiosas. Grandes desfiles e bailes iniciam o Carnaval e alegram a gente durante três dias, de Domingo Gordo até Terça-Feira Gorda. Durante este tempo, damos azo à “Carne“, isto é, cometemos alguns excessos e exageros, e escondemos a nossa identidade debaixo de máscaras e de vestimentas estranhas, em desafio às normas aceites pela sociedade. Também se chama Entrudo, aliás, nos meus tempos de criança não se admitia outra designação para este período. Desconhecia-se a palavra Carnaval. Antes era o Entrudo por um dia, hoje é Carnaval todos os dias e que Carnaval! Nestes tempos de “virtuosos austeros”, não falta matéria-prima para os foliões mijarem de riso e nos resgatarem da malvada seriedade. A sátira mordaz e contundente, como ferramenta indispensável de liberdade e diversão, nunca foi tão oportuna.

A seguir vem o início da Quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas, para nos lembrar que “somos pó ou a pó voltamos”. O riso do Entrudo amarelece um pouco quando recorda os quarenta anos de Êxodo do Povo de Israel e a temporada de Jesus Cristo no deserto. O Povo de Israel padeceu tentações, abstenção e jejum até chegar à Terra Prometida, onde corria leite e mel. Hoje o nosso Povo sofre de iguais ou piores prejuízos, mas só correm enxurradas…

Sabemos que na Antiguidade Pagã e no Antigo Testamento já existia o costume de vestir roupas próprias de penitência; vestidos de “sacos”, também colocavam cinzas na cabeça, expressão de luto e de renúncia.

Em 1091, o Papa Urbano II universalizou este ritual, que já se vinha praticando em muitas igrejas.

Nestes tempos, muitos já optam pela incineração, ficando reduzidos a um vaso com uma pequena porção de cinzas. Nesta época de penitências, e num ano dedicado à Fé, temos de ouvir, acolher e partilhar a Palavra de Deus, principalmente fazer dela acção de caridade. Jejum, oração e esmola devem ser caminhos quaresmais a trilhar na procura do outro, assim como brotar uma vida nova no interior de cada um. Que cada homem possa ressuscitar depois do sacrifício.

Além das atitudes individuais, temos manifestações colectivas na comunidade à qual pertencemos. Não podemos esquecer os rituais religiosos, os momentos de reflexão, as procissões de penitentes, muitos descalços, as procissões quaresmais, as vias-sacras, a Semana Santa em várias cidades, principalmente em Braga. Se dermos uma olhadela pela Beira Baixa, é uma das regiões mais ricas nesse património religioso quaresmal.

Muitas autarquias organizam e promovem programas profano-religiosos, aos quais chamam a Quadragésima. 

A última etapa do ciclo é a maior Festa da Cristandade – A PÁSCOA. Esta Festa era principalmente um rito anual de pastores nómadas, que para celebrar a vida de família e dos rebanhos comiam festivamente um cordeiro. Com o histórico acontecimento do Êxodo, aquele ritual adquiriu um novo sentido e valor, a PÁSCOA passará a ser o memorial de Deus Vivo, o Povo de Israel passou da escravidão para a liberdade, da morte à vida. Ainda hoje os Judeus celebram a sua PÁSCOA em obediência à Lei de Moisés. A PÁSCOA é, pois, a celebração do dom divino da Liberdade.

A PÁSCOA atinge a plena realização em Jesus Cristo Ressuscitado, a Nova PÁSCOA e o Novo Cordeiro Pascal. S. Paulo diz que “ se Cristo não Ressuscitou é vã a nossa Fé e somos os mais miseráveis da terra”. Os cristãos vêem em Jesus Cristo a Nova PÁSCOA, a Libertação da escravidão, do pecado e da morte. Cristo Ressuscitou! Aleluia! Aleluia!

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Janeiro/2013