Sinopse

O olhar de Carolina, uma simples criança mas um tormento para os pais. Nunca parava quieta, nunca seguia as regras, as classificações na Escola um desastre. «Porquê Carolina, tens um comportamento que envergonha todos nós!»

De facto, Carolina via diferente dos demais. Detestava seguir as normas, as leis, os regulamentos. Mas, em casa, escondendo os deveres escolares aos pais, desenhava e escrevia como ninguem. Pois, mas era como ela queria. Não como o professor exigia!

Horas de levantar para ir para a Escola. A cabeça pesava mesmo. «Logo hoje vou ter matemática, que detesto. Maldito quem inventou aqueles números e contas!»

Mãe chata não parava de berrar para se despachar. O atraso na chegada à aula, eram uns pontos a menos. «Será que oiço trovoada? Sinto água no corpo que quase me afogo!». O Pai também entrou na dança da pressa. Aquela voz de tempestadade abafavam os gritos da Mãe, enquanto se banhava.

«Nunca mais vejo o mundo côr de rosa, com as bonecas a sorrirem na paz, com música a aconchegar o frio que está lá fora!»

Era assim que pensava no carro, enquanto a Mãe enviava-lhe recados, para ter atenção a isto, ou aquilo ou aqueloutro.«Que saco, isto da escola. Não entendo nada, não posso falar com a Bruninha, nem o Professor me liga quando pergunto algo.»

«Sim Mãe, não te preocupes hoje porto-me bem. Adeus. Beijinhos!»

Foi andando para a sala de aula, meio ensonada. Era muito gozada pelos colegas pela sua inocência. Dizia o que via e muitos coleguinhas troçavam dela. Na realidade não sabia mentir. Por isso quando na redacção, ou no desenho, o Professor dava um tema, tinha dificuldade em expôr a sua ideia. Sentia a contrariedade daquela imposição, que muitas vezes era coisa ruim ou de velho.

No meio da gritaria da aula, antes de chegar o Professor, este dia, sentia necessidade de ficar só e olhar para a janela, onde via ainda a luz do nascer do sol. Naquele contraste viu a sua boneca preferida a espreguiçar-se no jardim da escola e a dizer «adeus». O tom rosa do vestidinho contrastava com o verde da grama e o laranja do ceu fez-lhe abrir os olhos:

«Se tivesse a câmara de fotos do Pai!»

Acorda com o silêncio da chegada do Professor: «Carolina, Carolina, acorda e senta-te por favor. Vamos começar a aula!»

A Matemática hoje seria substituida por uma redacção de tema livre.

Do seu jeito, com os olhos temerosos pergunta baixinho ao Professor, se pode escrever o que vê. Toda a turma ri, mas o Professor acalma a gozação e responde logo afirmativamente.

«Livre é livre. Agora nada de disparates!»

Era seu dia de sorte. Olha bem para o quadro negro e vê-o branco, misturando-se com a parede. O Sol já raiava e inundava toda a sala fazendo sombras no chão castanho. Mas o fato negro do Professor constratava bem com o branco que já via. Tudo aquilo lhe fez lembrar um chapeu, para se proteger do sol, com tons de branco e negro.

Escrevia, escrevia que o Professor até notou. Com um sorriso envergonhado, e sempre com a insegurança do castigo, sente vontade de continuar. Nem parecia a mesma. Sossegada, silenciosa e concentrada.

Quando a Mãe a foi buscar quis ver a caderneta. Estava lá uma bolinha verde. Sinal que se tinha portado bem. Estava sempre com bolinha laranja e vermelha. A Mãe a felicitou e deu-lhe um grande abraço:

«Porque não és sempre assim, filha?»

A sua vergonha não a deixava falar. Apenas pediu um chocolate como recompensa.

Em casa mostrou ao Pai a caderneta. O Pai brincava.

«Foi sorte, enganaste o Professor.» E rui-se!

Nem os parabéns. Nem um abraço. O Pai às vezes era mau! Mas muitas vezes o via-como um Rei que sabia de tudo! E dava guloseimas às escondidas da Mãe.

Mas subitamente toca o celular da Mãe. Era o número do Professor.

«Não fiz nada Mãe, juro. Portei-me bem!»

O medo da criança alimentava a ansiedade da Mãe. O Pai fugiu porque preferia nem saber.

«Boa noite Carla. Hoje a Carolina escreveu uma das melhores redacções que li desde que sou Professor. Parabéns!»

@aalcada

O olhar de Carolina

Comporta, 17/07/2020