Na resposta dada ao doutor da Lei, Jesus ensina, por um lado, que o amor ao próximo é semelhante e indissociável do amor a Deus, e, por outro, que o duplo mandamento do amor constitui o resumo de toda a Lei e os Profetas, ou seja, de toda a revelação de Deus. Mais, oferece-nos a síntese e o essencial de toda a vida cristã: acreditar em Deus Pai e amá-lo com todo o coração e, como consequência dessa fé e desse amor, acreditar no homem, reconhecendo que é imagem e filho de Deus, e amá-lo como a nós mesmos.
Na verdade, só quem acredita em Deus Pai e se sente como seu filho, está capacitado para O amar com todo o coração, com toda a alma e com todo o espírito. Por sua vez, só à luz da fé na paternidade divina, o homem consegue reconhecer o outro como seu irmão e, por conseguinte, amá-lo como a si mesmo.
“Amarás o Senhor, teu Deus …” Amar significa, desde logo, acolher Deus na tua vida, deixares-te amar por Ele e consagrar-lhe inteiramente o teu coração. Isto pressupõe que O reconheças como a origem e a fonte do teu ser e da tua vida, a meta última da tua existência. Amar implica aceitar o projecto de vida que Deus sonhou para ti e realizá-lo com empenho e fidelidade. O mesmo é dizer cumprir a sua vontade a teu respeito. Amar passa por gastar tempo com Deus, escutando-O e conversando com Ele na oração, ou indo ao seu encontro na celebração dos sacramentos, sobretudo na Reconciliação e Eucaristia. E, acima de tudo, amas a Deus amando aqueles que Ele ama. O amor ao próximo faz parte integrante e necessária do amor que devemos a Deus.
“Amarás o teu próximo”. Ama o outro como a ti mesmo, porque ele é, tal como tu, imagem de Deus. Deves amá-lo por que ele participa da dignidade do próprio Deus. E deves amá-lo como tu queres ser amado, uma vez que ele é igual a ti. Além disso, ama-o também porque ele é, do mesmo modo que tu, filho de Deus. Este facto faz dele teu irmão, membro da mesma família de Deus. Ama-o ainda, porque Jesus se identifica com ele, ao ponto de considerar como feito a si o que lhe fazes a ele.
“Amarás…”. Amas o teu próximo, deixando que ele entre na tua vida com as suas necessidades e misérias, com os seus problemas e inquietações existenciais; entrando tu na vida dele e partilhando com ele o que és e o que tens, os teus afectos e o teu saber, o teu tempo e o teu silêncio interior, e mesmo a tua fé. Ama-o, permitindo-lhe que ele te ama e te enriqueça com os seus dons. Deixar amar e acolher o amor, reconhecer e aceitar os dons dos outros é um acto sublime de amor ao próximo. Não podemos falar de autêntico amor ao próximo quando o limitamos ao movimento que sai de nós em direcção aos outros, não assumindo que também nós somos indigentes do amor daqueles que precisam de nós.
“ …é semelhante a este”. Amar o próximo é semelhante a amar a Deus. Não admira, pois o próximo é semelhante a Deus, é sua imagem e semelhança! Assim, amando o seu semelhante, o homem está também, de algum modo, a amar o próprio Deus. De resto, o que está em causa é sempre o mesmo amor, que tem necessariamente a sua origem em Deus. O homem é capaz de amar porque Deus o amou primeiro. Graças a este amor, o homem pode amar a Deus com todo o seu ser e amar o próximo como a si mesmo.
“…se resume toda a Lei ….” Os fariseus e os escribas tinham traduzido e concretizado a Lei de Deus numa multiplicidade de preceitos humanos. A maior parte destes contradizia a bondade da Lei de Deus, tornando particularmente gravosa a vida das pessoas. Ao defender o primado do amor, Jesus ensina que as leis só são legítimas se forem expressão do amor de Deus e estiverem ao serviço da pessoa humana. E o cumprimento da lei só santifica e salva se envolver e comprometer o coração do homem.
“Amarás o teu próximo …”. Ama também aqueles que desconhecem ou são indiferentes a Deus, aqueles que nunca ouviram falar de Jesus ou ignoram o seu Evangelho. Ama-os partilhando com eles a tua fé, testemunhando-lhes que Deus dá sentido à tua vida e faz de ti uma pessoa feliz.
No Dia Mundial das Missões, é importante recordar que levar Cristo até à vida dos homens é uma forma privilegiada de amar o próximo. O amor ao próximo é a forma mais convincente de falar de Deus.

Pe. José Manuel Martins de Almeida