XXII- Domingo Comum

“Quem se humilha será exaltado”

 

            Durante a refeição, em casa de um fariseu, todos observam Jesus. Por sua vez, Jesus também observa todos os outros convidados. Jesus observa e censura o modo como eles escolhem os lugares e ensina-lhes como se devem comportar nestas circunstâncias. E ao fariseu que O convidou, Jesus indica-lhe o tipo de pessoas que deve convidar para os seus banquetes.

            Jesus mostra ser um observador atento e um interveniente oportuno, porque Ele não via apenas o exterior das acções dos homens mas conhecia também perfeitamente as suas intenções e motivações. Jesus censura e corrige, não porque lhe dá gozo estar no contra, mas porque ama e quer o bem das pessoas. Por um lado, não quer que alguns, com os seus comportamentos e com as suas escolhas, prejudiquem os outros, ocupando os seus lugares e privando-os dos seus direitos. Por outro lado, pretende que os homens superem os seus defeitos e, assim, cresçam como pessoas e alcancem bens mais excelentes.

            Através da parábola, Jesus, de um modo claro e preciso, não só condena o facto de os convidados escolherem os primeiros lugares como os adverte para o perigo dessa escolha. Na verdade, quem os convidou pode exigir-lhes que cedam esse lugar a outro convidado, que ele considere mais digno e mais importante.

            Cada um considera-se mais importante e mais digno do que os outros e, por isso mesmo, considera-se no direito de ocupar o lugar mais honroso e visível. O homem, com muita dificuldade, consegue admitir e reconhecer que alguém seja melhor do que ele. No entanto, o bom senso deve levá-lo a reconhecer que os outros são, pelo menos, tão importantes e têm os mesmos direitos que ele.

            O homem não pode esquecer que ninguém é bom juiz em causa própria. É sensato deixar que os outros, muito mais quando nos encontramos em sua casa, avaliem o que somos e o que valemos e nos atribuam o lugar e a atenção que, segundo eles, merecemos.

             Ao fariseu, Jesus pede-lhe que, em vez dos amigos, parentes e vizinhos ricos, convide para as suas refeições os pobres e os doentes, precisamente aqueles que precisam e que não têm com que lhe retribuir. Não devemos pensar que Jesus queira excluir os parentes e os amigos das refeições festivas. Pelo contrário, a amizade deve ser celebrada e cultivada. E a refeição é um óptimo momento de convívio e de comunhão.

            Jesus pretende ensinar àquele homem e, através dele, a todos nós que devemos fazer o bem a quem precisa e que o bem deve ser feito sem ter em vista a recompensa dos homens, mas em vista da recompensa de Deus. Deixa de ser bem o bem que fazemos, quando o fazemos para satisfazer o nosso ego e não por amor daqueles a quem o fazemos. Quando prevalece o nosso orgulho e a nossa vaidade, não damos a Deus a oportunidade de nos recompensar generosamente “na ressurreição dos justos”.

            “Quem se humilha será exaltado”. Ser humilde é viver iluminado e conduzido pela verdade e animado e impelido pelo amor. Não há humildade sem verdade e sem amor. Ser humilde é reconhecer e aceitar o que somos e o que valemos aos olhos de Deus e graças a Deus. Ser humilde é deixar que Deus actue em nós, permitindo que Ele nos renove e nos ajude a crescer e, ao mesmo tempo, deixar que Deus actue, através de nós, em favor dos outros. Ser humilde é reconhecer que Deus é o autor principal das maravilhas que acontecem na nossa vida e das maravilhas que se realizam por nosso intermédio.

            Os humildes são os preferidos de Deus e são largamente recompensados por Ele. Maria confirma isso, quando diz:” o Senhor…pôs os olhos na humildade da sua serva…e exaltou os humildes” (Lc 1,46.52). E o apóstolo Tiago diz também: “ Deus resiste aos soberbos e dá a graça aos humildes”(4,6). Os humildes têm consciência de que precisam de Deus e, consequentemente, dão a Deus a liberdade para entrar nas suas vidas e os salvar. Então, Deus exalta-os e enriquece-os, partilhando com eles a riqueza do seu coração, comunicando-lhes o seu amor infinito, tornando-os participantes da vida eterna.

            O homem humilde é feliz não em razão do que tem, dos lugares que ocupa, das atenções e reverências que os outros lhes prestam. Antes, ele sente-se feliz pelo que é, pelo bem que faz e, acima de tudo, porque sabe que tem a preferência de Deus e por Ele será exaltado. Enquanto o orgulhoso sobrevive apenas um momento, como a erva do campo que mal desabrocha é cortada e seca, o humilde viverá eternamente.

Pe. José Manuel Martins de Almeida