RECORDAR UMA VIDA CONSAGRADA

No Ano da Vida Consagrada é bom recordar aqueles que se destacaram na sua ação-missão de servir os outros, principalmente aqueles que já partiram.

Em 18 de Maio faria noventa anos o Cónego Mário de Almeida Gonçalves, natural de Pousafoles do Bispo  (Sabugal), alguém que da sua vida vocacional fez caminho ao lado dos outros.

Entre outras funções, foi professor e vice-reitor do Seminário Menor do Fundão e Capelão dos Bombeiros Voluntários do Fundão e da Santa Casa da Misericórdia do Fundão.

Com a morte do Cónego Lourenço Pires, titular do cargo de vice-reitor, foi nomeado para aquele lugar o Cónego Mário, cargo que desempenhou com muita responsabilidade, autoridade e paixão entre os anos 1985 e 2008. Aí manteve residência até á morte.

Segundo testemunho de um ex-aluno, José Patrício, o Cónego Mário, além de filiado na Associação dos Antigos Alunos do Seminário do Fundão, foi o seu grande dinamizador, prestando valiosa colaboração na legalização de uns estatutos próprios integrando sempre os Corpos Gerentes como Vice-Presidente.

Carlos Alberto Abrantes dos Santos Garrido, que diariamente o recebia na Agência dos CTT do Fundão, recorda-o com uma pessoa afável, que cumprimentava todos os funcionários, para os quais tinha sempre uma palavra amiga ou uma graça.

A outra vertente é a sua ação-missão na Corporação dos Bombeiros do Fundão. Não era um assistente, um capelão do faz de conta; estava sempre presente. Iniciou este serviço em 1986 em substituição do Padre José Ferraz, entretanto falecido, cargo que desempenhou até 2008.

Nas comemorações do Aniversario dos Bombeiros do Fundão, proferiu muitas frases marcantes, estão reunidas num Quadro de Frases Guias, exposto nessas instalações. Retirei algumas que me parecem muito significativas: “não são as boas ações que fazem os homens bons, os homens bons é que fazem as boas ações. O Bombeiro tem de ser homem bom…”; “assim como o hábito não faz o monge, também uma farda, um capacete e um machado não fazem o Bombeiro”;” Bombeiro sem abnegação, por amor ao próximo, é abelha sem mel; só gosta de ser Bombeiro, quem se gasta a ser Bombeiro; a meta do Bombeiro que justifica a canseira do caminho”. A sua última mensagem aos Soldados da Paz do Fundão, “o mundo só admira o sacrifício com espetáculo, porque ignora o valor do sacrifício escondido e silencioso”.

Nos aniversários dos ex-alunos, nunca faltou com a sua mensagem pessoal e amiga, encarregando-se de fazer seguir a respetiva correspondência na estação dos CTT do Fundão (alguns esquecem as cartas recebidas e de lhes dar resposta).

Disponibilizou o acesso aos ficheiros dos alunos que frequentaram essa instituição, a fim de elaborar listagens por anos e de salvaguardar a memória futura. Atitude muito louvável porque garantiu o registo de milhares de alunos desde o ano de 1915, ano da criação do Seminário, que faria este ano o seu centenário.

Ao defender a Associação dos Antigos Alunos, granjeou um carinho, colaboração e especial atenção. Foi um grande defensor do Seminário Menor do Fundão, uma mais-valia na formação de futuros sacerdotes para a Diocese da Guarda.

O ex-Comandante dos Bombeiros Voluntários, Luís da Silva Carvalho, num extenso documento sobre as qualidades e atividades do Padre Mário, resumi,” quando o Padre Ferraz faleceu os Bombeiros perderam um Capelão amigo e dedicado e por isso, houve natural preocupação em nomear um Capelão que o substituísse. A amizade que já existia entre mim e o Padre Mário, foi proposto à Direção dos Bombeiros, para pedirmos ao Senhor Bispo a sua nomeação, o que veio a acontecer depois da sua aceitação. O Padre Mário era de um humor arrebatador, um contador de anedotas exímio, proporcionando a cada amigo uma disposição que os levava a não ter vontade de dizer, até amanha Padre Mário. Sempre presente em todos os Aniversários dos Bombeiros do Fundão, em que lia sempre uma frase, a que chamava Veredas da Vida”. Tenho sempre esta, “ QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR, NÃO SERVE PARA VIVER.”

Recolhi o depoimento da Jovem Sandra Maria Jesus dos Reis, do Quadro dos Bombeiros do Fundão, que escreveu,” desde a minha infância tive o privilégio de acompanhar e ser acompanhada pelo nosso Capelão, Padre Mário, pois ele, era o nosso mentor, o nosso tutor, cada vez que tomava a palavra, fosse na Eucaristia, num discurso ou numa conversa informal, o silêncio que se instalava era total, pois todos nós Bombeiros queriam absorver o máximo, cada palavra, de cada frase e de cada pensamento. A sua voz ecoava nas nossas cabeças como um grito de sirene que chamava por nós. Ainda nos momentos de maior aflição ou pânico, são as suas palavras que nos vêm à memória e nos dão tranquilidade e o encorajamento para continuar O Saudoso Padre Mário foi, é e continuará a ser sempre para nó, um rasto de vida e um guia que nos conduz diariamente no socorro e no amor que dedicamos ao próximo.”

A Câmara Municipal reconheceu o seu trabalho na formação de muitos jovens, no serviço espiritual aos Bombeiros, à Santa Casa da Misericórdia, e em muitos outros atos litúrgicos, atribuindo-lhe a Medalha de Mérito Municipal.

Apesar de ter nascido em terras sabugalenses, fez do Fundão a sua terra e aqui descansa em paz.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Maio/2015

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