“Regressaram por outro caminho”

Depois do evangelista Lucas nos ter contado, no dia de Natal, a visita dos pastores, as pessoas mais esquecidas e desprezadas do povo de Israel, Mateus narra-nos, hoje, a visita dos Magos. Estes homens, que se dedicavam ao estudo dos astros, são os primeiros pagãos a conhecer Jesus. Os dois episódios mostram que Jesus se revela e é o Salvador de todos os povos.
Os Magos, interpelados por um sinal celeste extraordinário e interiormente iluminados por Deus, intuem que na terra de Judá acaba de nascer uma criança especial: “o rei dos judeus”. Curiosos e, ao mesmo tempo, persuadidos de que aquela criança tem algo de muito importante para partilhar com eles, partem ao seu encontro. Põem-se a caminho: um caminho longo e desconhecido, um caminho através do deserto, cheio de desafios e privações. Chegados a Jerusalém e desconhecendo o lugar “onde está o rei dos judeus que acaba de nascer”, batem à porta de Herodes. Supõem que um rei deve estar bem informado sobre os grandes acontecimentos do seu reino. Porém, o nascimento de Jesus, contrariamente ao que eles imaginavam, não foi vivido como um grande acontecimento. Pelo contrário, passou quase completamente despercebido aos seus contemporâneos. Herodes é, pois, surpreendido pela pergunta e pela notícia dos Magos.
No entanto, o rei, ele próprio interessado em saber, interroga os sacerdotes e os escribas, homens conhecedores das Escrituras e da expectativa messiânica do povo. Encontram a resposta numa profecia de Miqueias, onde se afirma que o Messias nascerá na cidade de Belém. Os Magos, cheios de alegria, retomam o caminho, chegam ao “lugar onde estava o Menino”, prostram-se diante d’Ele, reconhecem a sua realeza (ouro) a sua divindade (incenso) e a sua condição mortal (mirra).
A luz interior, que receberam na sua terra, impele os Magos a procurar Jesus. Depois, Herodes, os sacerdotes e os escribas ajudam-nos, a seu modo, a avançar no caminho. Mas o que se revela decisivo é a palavra da Escritura. A palavra de Deus é a verdadeira estrela que conduz os Magos até Jesus, permitindo-lhes o encontro pessoal com Ele. Encontro que muda por completo as suas vidas.
Herodes ficou perturbado. Teme que o Rei de que lhe falam venha usurpar-lhe o poder. Por isso, idealiza, de imediato, um projecto para o eliminar. Os tiranos e os ditadores são, quase sempre, homens psicologicamente fracos e medrosos. Por isso mesmo, eles são tão cruéis e violentos. São também particularmente astutos e hipócritas na prossecução dos seus objectivos. Herodes revela toda a sua astúcia e hipocrisia ao manifestar aos Magos o desejo de ir pessoalmente adorar Jesus, quando o que realmente deseja é dar-lhe a morte. Pouco tempo depois, mostrará toda a sua crueldade ao mandar matar todas as crianças de Belém com menos de dois anos.
“Regressaram por outro caminho”. No regresso à sua terra, depois do encontro com Jesus, os Magos seguem por outro caminho. Eles não podem voltar à presença de Herodes, pois ele quer matar o Menino. Mas o facto de desobedecerem a Herodes, no que significa de ousadia em relação ao rei e de amor para com Jesus, leva-nos a pensar que aquele “outro caminho” tem também um alcance de ordem espiritual. Em Jesus, os magos descobrem o verdadeiro Deus de todos os povos, o Salvador de todos os homens. Por conseguinte, voltam para a sua terra com uma nova visão de Deus e com um novo projecto de vida. Assim, Jesus torna-se para eles “o outro Caminho”, o Caminho que estão decididos a seguir, a partir daquele momento.
Tu, que te dizes cristão, por qual caminho segues? Segues pelo outro caminho, o caminho de Jesus, o caminho da verdade e do amor de Deus, o caminho da universalidade da salvação, o caminho que te exige constante conversão e mudança de vida, que abras o teu coração a todos os homens e os ames, apesar de todas as diferenças e divergências que possam existir? Ou preferes permanecer no teu caminho, o caminho das tuas certezas e seguranças humanas, das tuas verdades e preconceitos, do teu comodismo e mediocridade, o caminho à medida dos teus interesses e conveniências, o caminho do sempre assim foi, o caminho das crenças e tradições religiosas que te agradam, o caminho de quem não aceita os desafios e a novidade do Evangelho?

Pe. José Manuel Martins de Almeida