Nota pastoral sobre a Semana dos seminários

Padres para testemunhar a alegria do Evangelho

 

De 9 a 16 deste mês de Novembro celebra-se a semana nacional dos seminários.

            Desde há cinco séculos a esta parte que os seminários são os instrumentos de que a Igreja se serve para selecionar e preparar os seus padres. Por isso, o seminário é considerado a menina dos olhos de cada Diocese e mesmo frequentemente chamado o coração da Diocese.

            A nossa Diocese da Guarda teve o seu primeiro seminário em 1601, na sequência das recomendações feitas pelo Concílio de Trento. Este seminário foi utilizado até à revolução de 1910. Sensivelmente duas décadas depois, passámos a ter o nosso Seminário Maior com as instalações que actualmente possui. Paralelamente tivemos primeiro o Seminário Menor do Mondego, que também foi compulsivamente retirado à Diocese com a mesma revolução de 1910 e, a partir de 1915, para substituir este, o Seminário Menor do Fundão.

            Agora, a nossa Diocese é servida pelo Seminário Maior interdiocesano sediado em Braga, junto da Faculdade de Teologia, pelo Seminário Menor, este ano colocado na Guarda, e pelo Pré-Seminário ou Seminário em família.

            Assistimos, assim, sobretudo nas últimas décadas, a profundas mudanças nos nossos seminários. Permanece, isso sim, a vontade de que a formação sacerdotal seja cada vez mais o serviço de qualidade que a Igreja pretende e as comunidades cristãs e a própria sociedade precisam.

 

            Precisamos de padres que sejam, de verdade, testemunhas e anunciadores da alegria do Evangelho. E o seminário há-de saber prepará-los para esta missão. Por isso, mais do que um espaço físico, o seminário tem de ser, em primeiro lugar, a comunidade dos discípulos que se entusiasmam a aprender com o Mestre e se deixam conduzir por Ele. Sendo assim, o seminário tem de ser primeiro que tudo comunidade que reza e ensina a rezar saboreando a riqueza da santificação dos diferentes momentos do dia, principalmente através da Liturgia das Horas. Há-de ser comunidade que aprende na escuta atenta da Palavra e recebe da Eucaristia diária o alimento necessário para a caminhada da Fé. Pede-se-lhe também que ajude cada um a despertar para a consciência das suas capacidades e limitações e mesmo dos erros que é necessário corrigir.

            E porque do Padre se espera que seja homem de Deus e conhecedor dos mistérios da Fé e da beleza do Evangelho que é chamado a anunciar, ele tem de ser perito em humanidade. Por isso, o Seminário há-de ser também o espaço onde se cultivam as virtudes humanas, tais como a cooperação, a sinceridade e transparência de vida, o sentido da partilha, a experiência de vida comunitária, o gosto pelo trabalho e mesmo pela disciplina de vida pessoal.

            A formação teológica é importante dimensão da formação sacerdotal, que, nas actuais circunstâncias, também condiciona a vida do Seminário. Assim, houve tempos em que cada Diocese, com seu seminário, podia organizar de forma autónoma os estudos teológicos para os seus futuros padres. Isso deixou de ser possível e, por consequência, o nosso Seminário Maior tem de estar sediado fora do espaço físico da Diocese e em parceria com mais três outras dioceses, junto de um centro da Faculdade de Teologia da Universidade Católica.

Trabalhamos para que esta nova condicionante do nosso Seminário Maior seja também uma nova oportunidade, nomeadamente para aprofundar conhecimentos, alargar relações e partilhar experiências.

 

            Precisamos de padres verdadeiramente apaixonados pela pessoa de Cristo e pelo seu Evangelho; e também decididos a dar a vida para que a alegria do Evangelho e a salvação nela implicada cheguem aos homens e às mulheres do nosso tempo. Padres que sejam autênticos discípulos e pastores, segundo o coração de Cristo. Este é o perfil do padre que o seminário deseja preparar e oferecer às comunidades.

            Por sua vez, das mesmas comunidades é legítimo e cada vez mais necessário esperar estreita cooperação para se promover uma pastoral das vocações sacerdotais adaptada aos novos tempos.

            Sendo assim, é muito louvável a existência de grupos de oração pelas vocações sacerdotais em diferentes paróquias. Onde não existem estes grupos de oração e apoio às vocações é bom que se criem, sendo recomendável que valorizem, por exemplo, tempos fortes de adoração eucarística na primeira quintas-feira de cada mês.

 

            Diz o Papa Francisco, na sua mensagem para o dia mundial das missões deste ano, o seguinte: “Em muitas regiões do mundo escasseiam as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Com frequência, isso fica-se a dever à falta de um fervor apostólico contagioso nas comunidades, o que faz com que as mesmas sejam pobres de entusiasmo e não suscitem fascínio”. Pede-se por isso, às nossas comunidades redobrada colaboração com o nosso Pré-seminário ou Seminário em família, quer para descobrir e indicar os possíveis candidatos ao seminário, quer solicitando a sua participação em acções que possam fortalecer a Fé e o entusiasmo apostólico das mesmas.

            Por sua vez, o Pré-Seminário há-de saber oferecer às comunidades um programa de formação e acompanhamento para os que se dispõem a fazer caminhada vocacional. Tal programa incluirá acções de sensibilização das comunidades com vista ao despertar das vocações sacerdotais, mas sobretudo encontros regulares de formação com possíveis candidatos ao seminário e contactos regulares com eles, pelos meios considerados mais convenientes. Fará acompanhamento cuidadoso daqueles que já se sentem mais declaradamente chamados a fazer o seu discernimento vocacional, e isto de forma adaptada às diferentes idades e circunstâncias.

 

            Finalmente, todos sabemos que os nossos seminários são escolas que vivem do exclusivo contributo material da Diocese e das Famílias. O ofertório das diferentes comunidades cristãs no dia dos seminários tem sido um bom sinal da responsabilidade que graças a Deus elas já manifestam para com o Seminário. Precisamos de o completar com algumas bolsas de estudo que possam vir a garantir a sustentabilidade deste serviço fundamental para a vida da Diocese. E também graças a Deus que já temos alguns sinais de boas vontades que vão nessa direcção.

            Para terminar, demos graças a Deus pelos pastores que ele continua a oferecer-nos para nos conduzirem à fonte da Sua Palavra e ao banquete da  Eucaristia. Peçamos pelos pastores que já o são, para que sejam cada vez mais santos e dedicados ao Ministério que o Senhor lhes confia e para que outros se decidam a percorrer o mesmo caminho da santidade e entrega generosa ao serviço da Igreja no Ministério Sacerdotal. Que a protecção materna de Nossa Senhora seja o conforto dos sacerdotes e dos que se preparam para o ser.

            Guarda, 30 de outubro de 2014

            + Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda