Solenidade de Cristo Rei

“… para dar testemunho da verdade “

 

             No contexto do seu julgamento, diante de Pilatos, Jesus assume-se claramente como rei. Porém, faz questão de se afirmar como um rei muito diferente de Pilatos e de todos os outros senhores da terra. Jesus é um Rei que não se impõe pela força nem tem um exército para O defender, não habita em palácios nem tem criados para O servir, não usa títulos honoríficos nem reivindica privilégios, não ambiciona riqueza nem exige a submissão do povo.

             Jesus é um Rei diferente e exerce a sua missão de um modo muito diferente dos homens que mandam neste mundo. Ele veio “a este mundo para dar testemunho da verdade”. Jesus veio ao mundo para revelar a verdade de Deus aos homens e para que os homens, conhecendo a verdade, descubram o sentido da vida e alcancem a graça da salvação. Enquanto Pilatos age contra a verdade, condenando Jesus apesar de saber que Ele está inocente, Jesus está disposto a morrer pela verdade. Pilatos age contra a verdade para defender os seus interesses e salvaguardar o seu poder. Jesus dá a vida pela verdade, pois só a verdade liberta e salva os homens.

             O autor do Apocalipse diz-nos que Jesus é “Aquele que nos ama, que, pelo seu sangue, nos libertou do pecado” (segunda leitura). A força e a essência do poder de Jesus são o amor. A sua relação com os homens é sempre baseada no amor. Através da verdade e do amor, Jesus procura cativar a mente e o coração dos homens. A verdade e o amor são as grandes armas deste Rei. São também o programa da sua vida e missão.

            Jesus é Rei, mas o seu poder não é como o de Pilatos. Ele está diante do procurador romano como um criminoso, acusado pelos seus concidadãos, despojado de qualquer poder. No entanto, tem poder suficiente para enfrentar Pilatos, para lhe dizer a verdade. O poder da verdade e a liberdade de quem é da verdade fazem de Jesus um homem mais poderoso do que Pilatos. Pilatos tem poder, está ali em nome do imperador, mas tem medo dos judeus, tem medo de fazer justiça, de cumprir a sua missão, tem medo de perder o seu poder. É um homem que tem poder, mas não tem liberdade!

            “Aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Se Pilatos fosse um homem sério e sincero, se procurasse a verdade e a colocasse acima dos seus interesses pessoais, escutaria a voz de Jesus, o mesmo é dizer, entenderia as suas palavras, descobriria a sua identidade, reconheceria a sua inocência e não O condenaria. Com efeito, aqueles que são autênticos e desejam chegar á verdade, esses escutam Jesus, descobrem que Ele é a Verdade, fazem d’Ele o Caminho das suas vidas, aceitam-n’O como Rei, deixam que Ele reine nas suas vidas, que torne efectivo o reino de Deus no mundo dos homens.

            “Aquele que é da verdade… “coloca a verdade acima das suas conveniências e dos seus medos, é capaz de se sacrificar pela verdade. Aquele que ama a verdade defende a verdade mesmo em seu próprio prejuízo. Aquele que é da verdade não renega a verdade, mesmo quando é perseguido por causa da verdade do Evangelho.

            Mas, quem é da verdade? Quem está disposto a escutar a voz de Cristo e a seguir fielmente a sua palavra? Quem está disposto a colaborar com Cristo, de alma e coração, para que o seu Reino abranja todos os homens e todos os povos da terra? Estamos seduzidos por Cristo e por este projecto salvífíco de Deus ao ponto de lhe subordinarmos todos os nossos interesses e ambições humana?

            Quantos, em nome de uma falsa fidelidade à Igreja, desfiguram a verdade de Cristo?! Quantos, na Igreja, sobrepõem as “verdades” dos ensinamentos e das tradições dos homens à verdade do Evangelho?! Quantos não acomodam a verdade à moda ou à medida dos gostos dos ouvintes, para conseguirem a sua admiração e os seus aplausos? Quantos outros não calam a verdade, para poderem subir e ser “reis” dentro da Igreja?! E quantos não vivem como reis e senhores deste mundo, a pretexto de serem “servidores” do reino de Deus? Se na nossa vida não transparece a simplicidade e a humildade de Jesus, também não transparece a sua verdade e o seu espírito de serviço.

            Por conseguinte, se queremos que Cristo reine, deixemos que seja a verdade da sua palavra e a força do seu amor a inspirar os nossos projectos existenciais, os nossos pensamentos, a nossa vontade, os nossos desejos, os nossos sentimentos e as nossas acções.

Pe. José Manuel Martins de Almeida