SOUTO DA CASA – UMA HOMENAGEM

Em boa hora aceitei o convite da Junta de Freguesia do Souto da Casa (Fundão), em homenagem ao Padre Alberto Neto, que decorreu a 24 de Setembro, na localidade do seu nascimento.
Na década de setenta tinha lido algumas notícias deste sacerdote, principalmente pelo “Caso da Capela do Rato”. Voltou a ser notícia quando em 6 de Julho de 1987, perto de Setúbal, foi encontrado o seu corpo junto a uma valeta da estrada de Águas de Moura, com indícios de ter sido assassinado. Dias depois foi sepultado no Cemitério do Souto da Casa, com um grande acompanhamento dos seus paroquianos de Rio de Mouro, onde era Pároco e Professor.
Despertou a minha curiosidade e, para um conhecimento mais aprofundado, adquiri em 1989 o Livro “ PADRE ALBERTO – Testemunhos de uma voz incómoda – Capela do Rato (68-73) ”, com a coordenação do Padre Peter Stilwell. A maior parte do seu conteúdo é preenchida por algumas homilias, poemas e linhas de pensamento, que todos os cristãos deveriam ler e meditar, pois trata-se de mensagens evangélicas de um HOMEM e de UM SACERDOTE invulgar.
A brochura de homenagem está muito bem elaborada, apresenta-nos a biografia do Padre Alberto Neto, algumas frases, excertos das suas homílias, poemas e termina com a recitação de um texto publicado em 1952 na Novellae Olivarum – Revista dos Alunos do Seminário de Cisto-Rei dos Olivais, cujo título é “ Como o povo sente e vive a Quaresma.” Pedro Miguel Salvado, Diretor do Museu do Fundão, apresenta-o desta forma: “ PADRE ALBERTO NETO: UM OLHAR SOBRE A TRADIÇÃO DA SUA TERRA,” despertando em cada um de nós a consciência de que se fugirmos da terra, da nossa terra, fugimos sempre da Esperança, enraizada nesses tempos da Quaresma”.
A sessão evocativa da memória do Padre Alberto Neto decorreu na Capela de S. Gonçalo, iniciada pelo Coro da Academia de Música e Dança do Fundão, que cantou dois poemas da autoria do homenageado: Hino da Esperança e Pensamento de Deus.
A Presidente da Junta de Freguesia, Maria das Dores Ladeira, deu as boas vindas e salientou que estavam a realizar um gesto de reconhecimento pelas obras religiosas e sociais por onde passou, principalmente em Rio de Mouro (Sintra). Foi um exemplo de cidadão, teve a coragem de defender a liberdade, partilhava a escola para todos e a paz. Na Capela do Rato em Lisboa, criou um espaço, para que um grupo de cristãos refletissem sobre a paz, no caso concreto contra a Guerra nas Antigas Colónias. Este homem tem as raízes das gentes da rama do castanheiro e as nossas gerações devem conhecer melhor a história e a generosidade do nosso conterrâneo.
O Presidente da Câmara Municipal do Fundão salientou que é sempre bom recordar os valores da nossa terra. Não só o património construído, mas acima de tudo o património das personalidades, que valorizam as nossas comunidades. O Padre Alberto Neto era um homem de pensamento, de ação, de compromisso, de uma missão, de uma missão profética. Defendia valores nas temáticas da educação, na paz. Promoveu uma vigília pela paz na Capela do Rato, que teve na história o seu peso, foi um marco simples, mas muito significativo, de tolerância, partilha e cultura espiritual.
Padre Alberto Neto foi um homem com uma leitura da educação e da religião muito progressista e inovadora.
Guilherme Oliveira Martins, numa mensagem vídeo, salientou que o Padre Alberto foi um professor próximo dos alunos, um orientador, um pedagogo, um cidadão, um sacerdote empenhado e envolvido na linha de uma Igreja pós Concilio Vaticano II, com grande abertura.
Na prática ensinava os sinais dos tempos.
O Cónego António Janela, que acompanhou o Padre Alberto Neto na Pastoral Familiar, viu sempre nele um ser para os outros, um discípulo do Padre Américo, um mestre, um profeta, um metodólogo, um amigo…
Fernando Paulouro, ex-diretor do Jornal do Fundão, disse que “este era um pequeno tributo de gratidão para uma personagem simples, mas com dimensão global e diversificada. Salienta-se a ação cívica, cultural e eclesial. O pensamento do Padre Alberto é atualizado e atualizante, que diria hoje sobre a fome, os refugiados, a crise em Portugal? Foi alguém que nos ensinou sempre a pensar acima das nossas possibilidades. A liberdade para ele era a medida de todas as coisas. Viu a escola como um espaço de liberdade e de cultura. Um homem de grande solidariedade. Contribuiu para um Portugal do futuro”.
Algumas pessoas que conviveram com o Padre Alberto Neto transmitiram as vivências pessoais, salientando as qualidades do homenageado. A ex-Presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro, referiu as grandes obras sociais nascidas do dinamismo deste sacerdote.
Também o atual Presidente enviou uma mensagem muito significativa, em que salientou que o Padre Alberto Neto também pertence a Rio de Mouro onde deixou obra e estima.
O Jornalista Jorge Salvador de Sande e Castro Wemans, fundador do Jornal O Público e ex-Diretor da RTP, discípulo do Padre Alberto, além das referencias familiares muito próximas, referiu que além das muitas qualidades, tinha uma que é importante sublinhar, “não perdia tempo, não perdia um segundo com as más-línguas, com a maledicência, com trás e leva.”
Seguiu-se a celebração da Eucaristia em memória do Padre Alberto Neto na Igreja Matriz do Souto da Casa, presidida pelo representante do Bispo Diocesano, Cónego Matos, coadjuvado pelo representante do Patriarcado, Cónego, António Janela, Pároco local, Padre José Luís Farinha, Pároco de Rio de Mouro, Padre Carlos Gonçalves e Padre Casimiro Mendes Serra.
Na toponímia do Souto da Casa foi inaugurado um largo com o nome de Padre Neto, com uma frase: “ OS HOMENS QUE PASSARAM A VIDA A DAR-SE AOS OUTROS FICAM SEMPRE.”
Seguiu-se uma romagem ao Cemitério local. Junto à campa do Padre Alberto Neto, além de algumas orações, o Grupo de Cantares do Souto da Casa cantou um poema do próprio: “NÃO FIQUEIS TRISTES, EU VOU PARTIR MAS VOLTAREI.”
A Homenagem terminou com um concerto “A ALEGRIA DA MÚSICA”, na Igreja Paroquial, atuando a Academia de Música e Dança do Fundão e o Eng.º José António Feu (PEPE), aluno e utente do Lar na Rua Casal Ribeiro em Lisboa, dirigido pelo Padre Alberto Neto, contou algumas vivências pessoais com esse Padre, que lhe pediu para dar explicações de matemática e física a alguns jogadores do Sporting Club de Portugal e, assim, entrava facilmente no Estádio José Alvalade. Cantou e tocou cinco poemas da autoria do homenageado, que mereceram uma grande ovação.
A este propósito estranha-se que ninguém da Direção do Sporting tenha estado nesta homenagem a um homem que também foi dirigente.
É difícil esquecer esta jornada tão rica de conhecimentos e emoções no Souto da Casa.
ALBERTO NETO, onde quer que esteja, estará feliz em comunhão com as gentes que sempre amou, as gentes que sempre apoiou.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Setembro/2016

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