Nasceu no coração do Minho, junto ao berço da nacionalidade portuguesa. A perpetuar a sua obra, a sua missão, ali tem uma avenida com o seu nome.

Um dia foi nomeado Bispo Egitaniense, decorria o ano de 1952 e durou até 1960. Durante oito anos dirigiu a Diocese da Guarda, um vasto território, pobre e abandonado pelos poderes políticos da época. À maioria das aldeias ainda não tinha chegado a via do progresso. Faltava electricidade, vias de comunicação, telefone, instalações de saúde, água canalizada, saneamento, as terras estavam no abandono total.

  1. Domingos da Silva Gonçalves, que não tinha a pequena estatura de Zaqueu, não foi forçado a subir a um sicómoro para avistar Jesus Cristo no meio da multidão. Tinha uma estatura acima da média, o que lhe permitia avistar bem o povo que lhe foi confiado. Nesse cenário adverso que encontrou, em condições muito precárias, conseguiu elaborar um bom programa de missão episcopal, adequado às necessidades da população.

O automóvel não chegava à maior parte das paróquias da Diocese e A Sua Excelência Reverendíssima tinha que se deslocar a cavalo.

Em finais de Novembro de 1957, deslocou-se a uma aldeia arraiana, que só beneficiou de luz elétrica, água canalizada, estradas e outras infraestruturas, muitos anos depois do 25 de Abril de 1974. Aí administrava o Sacramento do Crisma a uma quase centena de jovens e apelava aos poderes políticos para a urgência em resolver os problemas da comunidade. Fazia uma viagem de mais de sete quilómetros numa boa montada, um cavalo escolhido entre os melhores da cavalariça, por caminhos de pastorícia completamente enlameados.

Nos preparativos para tão religiosa visita (O Crisma), o Bispo, lembrando-se do acidente de um seu antecessor, que faleceu por ter caído de um cavalo assustado pelo estrondo de foguetes, pediu ao Pároco para evitar uma situação idêntica: “caso aconteça, caro irmão no sacerdócio, vai cair-lhe a Sé da Guarda em cima”. Tudo correu bem, deram-se vivas e tarjetas davam as boas vindas ao “ Representante de Cristo na Terra, Benvindo o que vem em Nome do Senhor”.

Decorriam obras nas ruas da Cidade dos diversos efes, quando os funcionários camarários (que nessa época respeitavam as instituições e as pessoas que as serviam, assim como os servidores das paróquias e afins) alertaram o Senhor Bispo para os perigos de atravessar uma passadeira entre duas valas. Depois de os cumprimentar individualmente, este sossegou-os de que nada aconteceria. Estava enganado e nos primeiros passos caiu, e não foi nada fácil retirá-lo com terra por todos os lados e algumas mazelas.

Um ano antes de um jovem aluno entrar numa Escola Apostólica, recebera o Sacramento do Crisma, na Igreja da sua aldeia natal, sem o jejum normativo. O atraso episcopal foi tal que o jovem se atirou a um prato de carne. Ficou com um grave problema no estômago. Parece que o Espírito Santo saiu da carne que a mãe cozinhara numa panela de ferro para o castigar nas tripas. Mais tarde, o Bispo penitenciou-se: “ menino, não te preocupes, recebeste bem o Espírito Santo, a culpa foi minha que cheguei muito atrasado porque os caminhos são tortuosos e a montada fraca.”

Quando se deslocava ao Seminário Maior, onde se encontravam centenas de seminaristas, as orações eram madrugadoras e muitos pupilos ainda estavam ensonados. D. Domingos entrava, batia as palmas com força e gritava: “ Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!”. Com esse pregão, não havia aluno que pregasse olho.

Numa deslocação a uma paróquia, um residente foi falar com o Senhor Bispo, a fim de saber se as orações que realizava seriam ouvidas por Deus, porque as fazia sempre com a cabeça coberta. O Bispo tranquilizou-o: “também eu faço a maior parte das orações e das celebrações dos actos religiosos com a cabeça coberta”.

De cabeça coberta nas cerimónias mas sempre de coração aberto, este Bispo nunca será por mim esquecido, numa vida consagrada como um dom de Deus, à Igreja e à Sociedade.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Dezembro/2014

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