V – Domingo Comum

“Faz-te ao largo …”

 

            Depois de ter falado à multidão, que se tinha reunido à sua volta “para ouvir a palavra de Deus”, Jesus dirige-se aos pescadores que estão com Ele no barco. Primeiro, pede a Simão: “Faz-te ao largo”, regressa ao alto mar, lá onde o mar é mais perigoso. De seguida, ordena a todos: “lançai as redes para a pesca”. Após uma noite de total insucesso – a noite é o tempo próprio para a pesca no alto mar – e apesar de já terem lavado as redes, preparando-as para a pesca da noite seguinte, acolhem o desafio de Jesus apoiados unicamente na sua palavra. E o milagre acontece. Em pleno dia, contra toda a lógica da pesca, as redes enchem-se de peixes. A palavra de Jesus é eficaz, Ele é credível e digno de toda a confiança.

            Perante a pesca abundante, que manifesta o poder extraordinário da sua palavra, Simão e os companheiros reconhecem a grandeza de Jesus. Ao mesmo tempo, confrontando-se com Ele, tomam consciência da sua pequenez e condição de pecadores. Mais, consideram que não são dignos que Jesus permaneça com eles. Porém, Jesus não só não está disposto a afastar-se como quer que eles O sigam, que passem a andar com Ele, para fazer deles pescadores de homens, ou seja, continuadores da sua missão.

            Impressionados com as suas palavras e sensibilizados com a confiança que deposita neles, apesar de homens pecadores e simples pescadores do mar da Galileia, eles deixam tudo e seguem Jesus. Sabem por experiência que é difícil e perigoso pescar peixes. Muito mais difícil e exigente será lançar as redes da palavra de Jesus e atrair os homens para o reino de Deus, para a barca da Igreja. Mas como no caso da pesca, em que o milagre deveu-se mais à palavra de Jesus do que ao trabalho dos pescadores, eles sabem que, também nesta nova missão, quem opera o milagre da conversão é a palavra de Deus.

            Por causa da grande quantidade de peixe, os que se encontravam no barco de Simão pediram ajuda aos companheiros que estavam no outro barco. Só com o esforço concertado de todos foi possível recolher e aproveitar todos os peixes. Este pormenor ensina-lhes que, para realizarem a missão que Jesus lhes confia, não pode agir cada um por si, apoiado apenas nas suas capacidades e talentos, mas têm de trabalhar em conjunto e em comunhão.

            Isto é válido para todo o tempo da Igreja. Esta, para realizar a missão de lançar “as redes” do Evangelho e “puxar” os homens para reino de Deus, precisa do contributo e do envolvimento de todos os seus membros. Não basta que cada um faça a parte da missão que lhe toca, mesmo que dê o seu melhor. É necessário que a realize unido e em sintonia com os outros, na dependência e em comunhão com o todo da Igreja.

            “Faz-te ao largo …” Igreja, confia na palavra de Jesus. Liberta-te das tuas certezas e seguranças humanas, das amarras das tuas estruturas de poder e de domínio que te impedem de viveres unicamente apoiada na sua Palavra. Não tenhas medo de arriscar. Avança e sonha os sonhos de Deus. Se Simão e os seus companheiros não se tivesses feito ao largo, se não se aventurassem a fazer aquilo que humanamente lhes parecia inútil, se não tivessem rompido com as suas certezas de pescadores, não teria acontecido aquele extraordinário milagre e não teriam descoberto quem era realmente Aquele que lhes falava.

            “Faz-te ao largo …” Igreja, não tenhas medo do futuro. Deixa que Deus mostre toda a força da sua palavra e do seu amor em favor dos homens. Avança, não tenhas medo de perder títulos e privilégios, não receies ser questionada. Não esqueças que quem conduz a barca e garante a sua segurança é Jesus, precisamente Aquele que te diz “Faz-te ao largo”. Se não te fazes ao largo, se não avanças, se não aceitas os desafios de mudança, se não rompes com o que em ti contradiz a verdade e as exigências da palavra do Mestre, impedes que Deus chegue ao coração de muitos homens e, assim, por tua culpa, muitos ficarão fora da barca.

            “Faz-te ao largo …” Quantos deixam de aceitar e seguir o chamamento de Jesus porque não estão dispostos a correr riscos, a enfrentar novos desafios, a fazer novas experiências. A pesca milagrosa diz-nos que quem segue Jesus e dá ouvidos às suas palavras jamais se sentirá defraudado por Ele. Pelo contrário, permite-nos ser protagonistas com Ele de verdadeiros milagres. 

Pe. José Manuel Martins de Almeida