Viver a Quaresma em Ano da Fé

A Quaresma é, em cada ano, um apelo especial feito a todos os cristãos e comunidades cristãs para progredirem na renovação da Fé. É mesmo muitas vezes apresentado este tempo santo como sendo o grande retiro do Povo de Deus, preparatório da celebração da Páscoa, em que somos convidados a renovar as nossas promessas baptismais, na Noite Pascal.

A Fé constitui para nós, antes de mais nada, abertura do coração a Deus, à revelação do Seu amor verdadeiramente apaixonado e gratuito, na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E sabemos que este amor de Deus, na medida em que o deixamos entrar na nossa vida, faz de nós criaturas novas, invadidas pelo amor de Cristo e, por ele, mobilizadas para o amor dos irmãos. A experiência do Apóstolo Paulo, quando diz na Carta aos Gálatas “já não sou que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,20) inspira-nos a viver a verdadei­ra conversão que há-de marcar o ritmo da nossa quaresma em Ano da Fé. De facto, precisamos de desimpedir todos os caminhos para deixar que Ele viva em nós e nos leve a  amar como Ele amou. Por isso, a Fé que professamos e celebramos e que alimenta a nossa vida de oração leva-nos a viver como verdadeiros discípulos de Cristo. Não se pode viver a relação com Deus à margem das suas implica­ções na vida da relação com os outros e em sociedade. Sobre a coerência entre a Fé e a moral, ou seja entre a relação com Deus e a relação com os irmãos, diz o Papa Bento XVI: “A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e força que daí derivam para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus” (Mensagem de Bento XVI para esta Quaresma). Contemplação e acção completam-se e exigem-se, assim, mutuamente em todo o processo do nosso verdadeiro crescimento, onde a relação com Deus é decisiva e a partir dela ganha nova qualidade e novo sentido a relação com os outros e comunitária. De facto o vertical da relação com Deus dá novo sentido e nova profundidade ao horizontal da relação com os outros, no amor. Por outras palavras, a verdadeira Fé desabrocha necessariamente em gestos de Caridade.

Dar passos para que a nossa Fé produza abundantes frutos de Caridade é o grande apelo desta Quaresma. E a renúncia quaresmal, que mais uma vez propomos e este ano queremos orientar para fortalecer o nosso Fundo Diocesano de Solidariedade Inter-eclesial, é forma que oferecemos a todos os fiéis e comunidades cristãs para darem cumpri­mento a esta relação entre Fé e Caridade.

Com este Fundo Diocesano de Solidariedade Inter-eclesial pretendemos, por um lado, criar condições materiais para ir em auxílio de paróquias e outras instituições da nossa Diocese que se apresentam com manifestas carências; por outro, dispor de meios para dar resposta a necessidades várias de fora da nossa Diocese sobre as quais nos chegam constantemente notícias e pedidos. Ao constituir este Fundo Diocesano de Solidariedade Inter-eclesial pretendemos que o aprofundamento da Fé para que a Quaresma nos convoca possa traduzir-se em gestos concretos de comunhão desejados pelo próprio Jesus Cristo.

Guarda, 8 de Fevereiro de 2013

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda