X – Domingo Comum

“Deus visitou o seu povo”

 

            Jesus vai a Naim, tal como tem passado por muitas cidades e aldeias da Galileia, a fim de proclamar aí a Boa Nova do Reino de Deus. Chega à cidade precisamente no momento em que muitas pessoas saem dela, para participarem no funeral de um jovem. À primeira vista, parece que Jesus chegou na hora errada. A cidade está despovoada, não vai encontrar ninguém disponível para O escutar. Mesmo depois do funeral, as pessoas não estarão emocionalmente capazes de ouvir o pregador. Estarão demasiado chocadas e abaladas com a morte do jovem e a dor da mãe.

            No entanto, ao aperceber-se do que está a acontecer, Jesus intui que chegou na hora certa. Aquela é a situação ideal para revelar o que de mais singular tem para comunicar e partilhar com os homens. Jesus tem diante de si uma mulher viúva que chora a morte do seu único filho. Por um lado, a realidade da morte, a morte de um jovem, o filho único de uma mulher viúva. Por outro, a tristeza, o luto e as lágrimas da mãe que, com o filho, perdeu tudo. Está ali bem patente o drama da existência humana em toda a sua densidade.

            Jesus concentra-se na mulher, olha-a com o coração, compadece-se dela, revolvem-se-lhe as entranhas, sente-se irresistivelmente impelido a fazer algo em seu favor. Algo que lhe enxugue as lágrimas, alivie o sofrimento e lhe devolva a esperança.  Jesus sabe que veio ao encontro dos homens para dar início a um mundo novo, onde “não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor” (Ap 21,4). Sim, Jesus veio vencer a morte, mostrar que há vida para além dela, na eternidade da vida de Deus. Consciente de que este é o objectivo último da sua missão, Jesus dá um sinal à multidão: chama o jovem à vida e entrega-o à mãe. Profundamente humano, mostra também o seu poder divino!

            A ressurreição do filho da viúva de Naim é como que uma figura do verdadeiro milagre da ressurreição do próprio Jesus. Também neste caso, uma mulher viúva, Maria, assiste à morte e sepultura do seu único Filho. Este único Filho, Jesus, ainda jovem., morre condenado injustamente pelos homens. Por sua vez, Deus intervém, ressuscitando-O dos mortos.

            “Deus visitou o seu povo”. Perante o sucedido, os presentes concluem que Jesus pertence à categoria dos grandes profetas e que, através d’Ele, Deus visita o seu povo. O que Jesus faz, a ressurreição do jovem constitui, por si mesma, uma extraordinária pregação e mostra que Ele é um profeta enviado e acreditado por Deus. Ao mesmo tempo, eles recordam que a Escritura só atribui ressurreições de mortos a dois profetas: Elias (primeira leitura) e Eliseu (2Re 4,18-37; 13,20-21). O que Jesus acaba de realizar é, por conseguinte, algo exclusivo dos grandes profetas.

            “Deus visitou o seu povo”. Já antes, Zacarias, no contexto do nascimento do seu filho, tinha proclamado: “Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um Salvador …” (Lc 1,68-69). A ideia de que Deus visita o seu povo está bem patente no Antigo Testamento. Desde logo, o autor sagrado tem subjacente essa percepção, quando informa que Deus “percorria o jardim (do Éden) à frescura do dia” (Gen 3,8). José, filho de Jacob, no seu leito de morte, garante aos irmãos: “Deus visitar-vos-á …” (Gen 50,24.25). As intervenções de Deus na história são entendidas e sentidas como visitas que Ele faz ao seu povo.

            Em Jesus Cristo, Deus visita pessoalmente a humanidade. Sim, através do seu Filho, Deus habita com os homens, vive entre eles, para os redimir e salvar. Compadece-se daqueles que sofrem, suaviza o fardo dos que andam cansados e oprimidos, infunde coragem e esperança aos que andam desanimados. Percorre os caminhos dos homens, faz ouvir a sua voz nas praças públicas ou na intimidade de um lar. Coloca-se ao alcance de todos e ao alcance de todos coloca a sua salvação. O nosso Deus, o Deus da nossa fé, o Deus que interessa aos homens é este Deus que nos visita, que caminha connosco, o Deus que está atento e é profundamente sensível à dor e à miséria humanas, o Deus que anda por onde andam os homens. É aí, no concreto das suas vidas, lá onde são mais patentes os seus problemas e dramas, que Deus visita os homens, lhes manifesta o seu amor e procura mudar as suas vidas.

Pe. José Manuel Martins de Almeida