XII – Domingo Comum

“És o Messias de Deus”

            Após ter estado a orar, Jesus pergunta aos discípulos o que as multidões e eles pensam e dizem sobre a sua identidade. Jesus considera ser este o momento e o contexto oportunos para submeter os discípulos ao exame do conhecimento e da fé. Na oração, mais ainda do que através das palavras e obras, Jesus manifesta a sua íntima relação com Deus e, nessa medida, revela quem Ele mesmo é. Os discípulos, nesta como em tantas outras ocasiões, testemunham a oração de Jesus. O modo como Ele reza impressiona-os profundamente. Tanto assim é que, um dia, depois de O verem rezar, Lhe pedem que os ensine a orar (Lc 11,1-2). É durante a oração que Jesus melhor mostra a sua condição de Filho de Deus e que está na terra para fazer a vontade do Pai.

            Os discípulos sabem o que as pessoas dizem de Jesus. Conhecem as várias opiniões que circulam entre elas. É fácil, podemos mesmo dizer que há uma certa predisposição para reter e divulgar o que os outros dizem sobre terceiros. Mas Jesus não se contenta com esse tipo de conhecimento. Pede aos discípulos que digam o que realmente pensam a seu respeito. Isto é mais difícil, porque exige mais e compromete mais. Exige estar atento ao que Jesus diz e faz, ao modo como Ele vive. Exige perscrutar para além das palavras, ver para além das aparências, meditar no coração, abrir-se à graça (ajuda) de Deus. E compromete mais, porque tem implicações na vida pessoal. O homem deve assumir as consequências e agir em conformidade com o que diz. Neste caso concreto, com o que diz em relação a Jesus.

            Os discípulos, mais do que as outras pessoas, estão em condições e têm a obrigação de conhecer Jesus. Na verdade, eles vivem e convivem todos os dias com Ele. Não só escutam a sua pregação e presenciam os seus milagres como também O vêem rezar e partilham outros momentos da sua vida privada. Mais, em particular, Jesus explica-lhes o que antes dissera às multidões, responde às suas perguntas e esclarece as suas dúvidas, ajuda-os a penetrar no mistério da sua vida e missão.

            “És o Messias de Deus”. Os discípulos vão notando que Jesus tem uma grande afinidade com Deus. Quando reza, evidencia uma surpreendente familiaridade com Ele. Por sua vez, os seus ensinamentos revelam que conhece bem a vida íntima de Deus. Algo que não podia ter aprendido de outros mestres. Finalmente, as suas obras, como a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e o perdão à mulher pecadora (Lc 7,36-50), provam que tem um poder muito semelhante ao de Deus.

            Jesus é o Messias de Deus, ou seja, Aquele que Deus envia para cumprir as suas promessas de salvação. Não é o messias temporal e político, que muitos judeus queriam e esperavam. Ele não vem restaurar a independência do povo e garantir a sua supremacia sobre os outros povos da terra. O Messias de Deus tem outra missão e para a realizar “tem de sofrer muito, ser rejeitado … tem de ser morto e ressuscitar”.

            Na hora em que os apóstolos O confessam como o Messias de Deus e para que não tenham ilusões nem alimentem ambições humanas, Jesus diz-lhes claramente que a sua missão de Messias passará pelo sofrimento e morte. O Messias de Deus, o Messias que vem salvar os homens, o único verdadeiro Messias, será morto pelos homens e ressuscitado por Deus.

            Quem confessa que Jesus é o Messias de Deus e se dispõe a segui-l’O é chamado a identificar-se com Ele no mistério da sua paixão, renunciando a si mesmo e tomando a cruz todos os dias. Renunciar a si mesmo, vencer o egoísmo, estar interiormente livre, ter lugar no coração para Jesus e para os irmãos, dar a primazia ao Reino de Deus, estar preparado para sofrer por causa do Evangelho

            Quando nos pede para abraçar a cruz, Jesus não está a pedir que amemos ou procuremos directamente o sofrimento e as situações difíceis da vida. Ele apenas nos pede que aceitemos positivamente o sofrimento e as dificuldades que o anúncio do Evangelho comporta, permanecendo-lhe sempre fiéis.

            O caminho de Jesus é o caminho da cruz, do amor sem limites nem condições, do serviço humilde e desinteressado, do gastar e perder a vida em favor dos outros. O caminho da cruz, por ser o caminho do amor, é o único que garante ao homem a salvação, a vida de Deus. Por isso mesmo, não podemos anunciar Cristo sem a sua cruz nem O podemos seguir sem carregar a nossa!

Pe. José Manuel Martins de Almeida