“Senhor, ensina-nos a orar”

             Segundo Lucas, são os próprios discípulos que tomam a iniciativa de pedir a Jesus que os ensine a rezar. Impressionados com o modo como Jesus rezava e tendo presente que “João também ensinou os seus discípulos”, eles sentem e exprimem o desejo de aprender a orar. Em resposta, Jesus propõe-lhes a oração do Pai-Nosso como o modelo de toda a oração.

            A versão de Lucas é muito mais breve do que a de Mateus (Mt 6,9-13). Porém, quando confrontamos os dois textos, verificamos e concluímos que mantêm a mesma estrutura, os elementos essenciais são comuns. Este facto mostra que, mais do que as palavras que devemos repetir, Jesus indica o esquema, o modo, as atitudes e os sentimentos que devem acompanhar a oração, bem como os pedidos e as súplicas que devemos dirigir a Deus.

            Deus, segundo a revelação de Jesus, é Pai, Alguém familiar, próximo e acessível. O homem pode aproximar-se de Deus e dialogar com Ele com confiança e à vontade, tal como um filho com o seu pai. O ponto de partida da oração é a fé em Deus Pai. E a oração só o é de verdade, se for encontro pessoal e filial com Deus. Mas não podemos esquecer que Deus é o Pai celeste, o Deus transcendente e santo. Por isso mesmo, quando rezamos, devemos reconhecer a sua grandeza. Ele merece ser amado, venerado e respeitado por nós.

            O Reino, que Jesus anuncia como Boa Nova de salvação, é o maior dom que Deus tem para nos dar e que nós Lhe devemos pedir. Suplicar: “venha o teu Reino”, implica estar disposto a acolhê-lo em nós e a empenhar a nossa vida para que ele se torne realidade no nosso mundo. Por outras palavras: implica viver em sintonia com a vontade de Deus, realizando a missão que Ele nos confia, a parte que nos compete cumprir nesta terra. Só assim o nosso pedido será sincero e a nossa oração autêntica.

            Na oração, também podemos pedir a Deus, a quem reconhecemos como Pai providente, “o nosso pão de cada dia”. É certo que o nosso sustento não cai do Céu. É necessário o nosso trabalho, o investimento das nossas capacidades e talentos. Precisamos de trabalhar a terra. No entanto, a terra com todas as suas potencialidades é dom de Deus. E dom de Deus é também as capacidades que temos para a “dominar”. Por conseguinte, o nosso sustento quotidiano é um bem que devemos pedir e agradecer a Deus.

            Devemos ainda pedir a Deus, que é Pai rico em misericórdia, o perdão dos nossos pecados. Apresentamos como fundamento do nosso pedido o facto de também nós perdoarmos “a todo aquele que nos ofende”. O nosso pedido só poderá mover Deus a conceder-nos o perdão, se as nossas palavras não forem desmentidas pela nossa vida. Se queremos que Deus seja misericordioso para connosco e nos perdoe os nossos pecados, não podemos deixar de ser misericordiosos e perdoar sempre aos nossos inimigos.

             De imediato, através de uma parábola, Jesus diz-nos que podemos rezar, bater à porta de Deus a qualquer hora. Deus está sempre acordado e disponível para escutar e responder às orações dos homens. Por mais ocupado que esteja com outras pessoas, Deus ouve-nos sempre com toda a atenção, como se não estivesse a atender mais ninguém. Assim, diferentemente do homem da parábola, Deus atende-nos não para se ver livre de nós, para não O continuarmos a importunar com a nossa impertinência. Atende-nos porque é Pai e nos ama.

            Como a um Pai que ama, podemos pedir com confiança. Mas precisamente porque ama, Deus só nos concede aquilo que realmente nos convém e, de algum modo, contribui para a nossa salvação. Jesus aponta o exemplo dos pais. Estes, apesar de por vezes serem maus, não dão coisas más aos filhos em troca das boas que lhes pedem. E muito menos atendem os seus pedidos quando lhes pedem coisas que lhes vão fazer mal. Com os pais, até pode acontecer que estes, porque não amam de verdade e para evitarem chatices, dêem “serpentes e escorpiões” aos filhos. Com Deus isso nunca acontecerá. Jesus não nos garante que Deus nos concederá saúde, facilidades e êxito. A única certeza que nos dá é a de que Deus concede o Espírito Santo “àqueles que lho pedem”. O Espírito que nos conduz à verdade plena de Deus, que nos ajuda a viver e a testemunhar a nossa fé diante dos homens e nos torna capazes de rezar como Jesus nos ensinou.

 

José Martins Almeida