XXIV – Domingo Comum

“Encontrei a minha ovelha perdida”

 

            “ Os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem”. Não admira, pois, como os próprios fariseus constatam e confirmam, Jesus acolhia os pecadores e comia com eles. Os pecadores aproximam-se de Jesus, porque antes Jesus se torna próximo deles. Na verdade, conversa e convive com os publicanos e os pecadores, entra em suas casas, senta-se às suas mesas, perdoa-lhes os seus pecados! Deste modo, revela-lhes que Deus os ama e quer salvar.

             A certeza de que Deus não lhes nega o seu amor nem os exclui da salvação sensibiliza profundamente aqueles homens e enche-os de confiança. Por isso mesmo, escutam Jesus numa atitude aberta e sincera, desejosos de entender a sua mensagem e disponíveis interiormente para assimilar e aproveitar tudo o que a eles diz respeito.

             Por sua vez, os fariseus e os escribas murmuram e criticam Jesus. Estes são vítimas dos seus preconceitos – preconceitos que cegam o entendimento, endurecem o coração e escravizam a vontade. Eles não querem ouvir nem entender, muito menos admitir que Jesus tenha algo de novo e de útil para ensinar aos homens. Eles julgam-se os senhores da verdade sobre Deus e do que os homens devem saber sobre Ele.

            O Deus que eles conceberam não é um Deus que se preocupe com os pecadores ou com aqueles que são vítimas das injustiças sociais. Não é um Deus que lhes preste atenção e conviva com eles. Pelo contrário, o Deus que eles conceberam e tentam impor ao povo é o Deus que aprova e defende os privilégios e a moralidade das classes e dos grupos dominantes, o Deus que também exclui e condena todos aqueles que eles rejeitam e a sociedade marginaliza.

            “Encontrei a minha ovelha perdida”. O verdadeiro Deus é o Deus que procura o homem pecador, para dar a este a oportunidade de O encontrar, de O conhecer e do O amar. Desde o início da história, logo após o pecado das origens, Deus coloca-se numa atitude de procura do homem (Gen 1,8-9). Deus vai ao seu encontro, interpela-o, chama-o à razão, anuncia-lhe a salvação futura, de modo a que possa viver animado pela esperança.

            O desejo e a necessidade de encontrar o homem levam Deus, na plenitude dos tempos, a enviar o seu Filho ao mundo, precisamente para procurar todos aqueles que andavam perdidos. Na realidade, Jesus é o Pastor que procura a ovelha perdida e tudo faz para a encontrar, ou seja, para proporcionar o reencontro do homem com Deus.

            Deus procura cada pecador, como se este fosse o único a quem procura, a quem ama e a quem deseja salvar, isto é, Deus faz tudo para que a salvação aconteça na vida de cada homem. E o maravilhoso é que Deus procede assim com todos os homens, com o mesmo interesse, com o mesmo amor, com a mesma paixão e com a mesma alegria.

            “Encontrei a minha ovelha perdida”. A conversão do homem é a alegria de Deus. Sim, o que de mais importante acontece na terra e mais alegra Deus é a conversão do homem pecador. Deus alegra-se e faz festa no Céu, quando o homem se deixa encontrar, tocar, transformar pelo seu amor misericordioso, quando o homem volta a olhar para Ele e Lhe abre o seu coração. Deus alegra-se porque o homem volta a ser sua imagem e semelhança, readquire a sua dignidade e a sua condição de filho.

            Cada um de nós é, hoje, o pecador que Deus ama e procura. A cada um de nós, Deus dá, hoje, todas as oportunidades e todos os meios para O encontrarmos. Deus quer que cada um de nós saboreie e goze com Ele a festa do encontro. E Deus vem até nós através daqueles que nos anunciam a sua Palavra, nos comunicam a sua graça e nos testemunham o seu amor no quotidiano das suas e das nossas vidas. Não privemos Deus e o Céu da alegria da nossa contínua conversão!

            Deus também quer precisar de nós para procurar e encontrar a ovelha perdida. Através de nós, Deus quer ir ter com aqueles que vivem na periferia da vida, aos quais se refere tantas vezes o Papa Francisco. Ir ao encontro daqueles que vivem mais afastados de Deus ou são mais esquecidos pelos homens, dos pecadores e dos que são vítimas dos seus pecados, dos que se colocam à margem do banquete do Reino e dos que estão condenados a viver á margem do banquete dos bens deste mundo. Deus quer encontrar-se com uns e outros. Só a conversão dos primeiros garante e devolve aos demais os seus direitos e o lugar que merecem na sociedade.

Pe. José Manuel Martins de Almeida