XXXI – Domingo Comum

“Hoje entrou a salvação nesta casa”

 

            Através da parábola do Domingo passado, Jesus mostrou que o publicano, que é humilde e sincero, que manifesta o seu arrependimento e implora perdão, está mais perto de Deus e da salvação do que o fariseu, que se considerava justo por cumprir a lei e as tradições dos homens, mas desprezava os outros. Hoje, o encontro de Zaqueu com Jesus comprova que os publicanos são mais receptivos e mais permeáveis ao amor e à acção de Deus do que os fariseus. Na verdade, enquanto Zaqeu procura Jesus, O acolhe em sua casa e se deixa transformar interiormente por Ele, os fariseus, considerando-se os detentores da verdade e do bem, murmuram e criticam Jesus, auto excluindo-se da salvação de Deus.

              Hoje a salvação acontece na vida de Zaqueu, “porque Zaqueu também é filho de Abraão”. Zaqueu também está abrangido pela promessa da salvação de Deus, do Deus que ama todos os homens, mesmo os maiores pecadores. A salvação acontece, porque Jesus “veio procurar e salvar o que estava perdido”. Jesus vai ao encontro de Zaqueu, tal como o pastor procura a ovelha perdida e como o pai corre ao encontro do filho que decide regressar, a fim de lhe manifestar o amor misericordioso de Deus.

            A salvação acontece, porque Zaqueu foi ao encontro de Jesus, recebeu-O em sua casa, acolheu-O na sua vida, deixou-se tocar por Ele, aceitou o desafio de uma vida nova. A salvação acontece, porque Jesus não receia aproximar-se dos publicanos e de conviver com Eles. Jesus não teme nem o inibem as murmurações e a desaprovação dos fariseus. Pelo contrário, resiste-lhes com frontalidade, pondo de manifesto as suas contradições. A salvação acontece, porque Zaqueu também não se deixa vencer pelos preconceitos. O desejo de ver Jesus sobrepõe-se a tudo o que as pessoas possam dizer ou comentar a seu respeito. Nesse sentido, ele corre à frente da multidão e sobe a uma árvore.

            Depois, vem o encontro pessoal e íntimo com Jesus. Para conhecer e acreditar, para que a salvação possa acontecer, é necessário escutar, privar de perto, partilhar a vida, abrir a mente e o coração à graça de Deus.

             “Hoje entrou a salvação nesta casa…” . Nesta casa onde, segundo os critérios dos fariseus, Jesus não deveria entrar, a salvação aconteceu na vida de Zaqueu. Deus não se deixa condicionar nem aprisionar pelos critérios dos homens. Os homens não podem impor limites ao amor de Deus! Não podem ser eles a dizer onde Jesus pode ou não entrar, com quem pode ou não conviver, quem é que Deus deve ou não salvar! Por isso mesmo, Jesus salva aquele homem que os fariseus já tinham condenado, que eles consideravam como excluído e rejeitado por Deus.  

            A salvação acontece na vida de Zaqueu e são vários os sinais a testemunhar isso mesmo: a alegria com que recebe Jesus, a confissão das suas culpas e o arrependimento que manifesta, a reparação dos danos causados e a partilha dos seus bens. A salvação gera vida nova, uma nova atitude do homem em relação a Deus, em relação ao seu semelhante e em relação aos próprios bens. Zaqueu, convertido a Deus, torna-se particularmente solidário e generoso em relação aos pobres, aos quais dá metade dos seus haveres.  

             “Hoje a salvação entrou nesta casa”. Também hoje Jesus quer entrar em nossa casa, para que a salvação de Deus seja, hoje, realidade na nossa vida. Jesus continua a assumir como seu dever caminhar ao nosso encontro, entrar na nossa intimidade. Pelo menos tenta por todos os meios, dando-nos a oportunidade de experimentar a força libertadora do amor misericordioso de Deus, porque essa continua a ser a sua missão.

            Tu tens curiosidade e sentes o desejo de ver e conhecer Jesus? E que estás disposto a fazer para que isso aconteça? Queres ver Jesus apenas do alto da árvore ou queres mesmo encontrar-te pessoalmente com Ele? Deixas que Jesus se aproxime de ti, que entre na tua vida, que dialogue contigo e contigo partilhe os seus segredos, a sua vida e o seu amor?

            Queres ver apenas o Jesus do passado, o Jesus das tradições, o Jesus das imagens das Igrejas (o Jesus que não fala nem compromete as pessoas) ou queres conhecer e acreditar no Jesus do Mistério Pascal, o Jesus da Eucaristia, o Jesus do Perdão, o Jesus do Reino de Deus, o Jesus que não deixa ninguém indiferente? Queres apenas ver Jesus ou estás disposto a converter-te a Ele e a segui-l’O?