“ Muito bem, Mestre. Tens razão”

            Pela reacção à resposta de Jesus, ficamos com a impressão que o escriba Lhe fez a pergunta não para ser instruído por Ele, mas para verificar se era realmente um mestre credível, se a sua doutrina era segura, se os homens O poderiam seguir sem correrem o risco de transgredirem a Lei.

            O escriba faz a pergunta, escuta atentamente a resposta e examina minuciosamente as palavras de Jesus. E conclui que Jesus tem toda a razão no que diz, a sua resposta está totalmente correcta: “muito bem, Mestre”. Jesus passou com distinção no exame do escriba! O Escriba concorda plenamente com Jesus. Considera que Jesus tem razão porque o amor, na sua dupla vertente de amor a Deus e de amor ao próximo, é o primeiro, o maior, o mais importante dos mandamentos. Ele é, ao mesmo tempo, a alma e a síntese de todos eles.

            Concorda, porque a resposta de Jesus está em plena sintonia com o Antigo testamento. De facto, Jesus cita o Deuteronómio (6,5) no que se refere ao âmbito e às exigências do amor a Deus, e cita o Levítico (19,18) para exprimir a medida do amor ao próximo. Concorda, porque Jesus fundamenta a prioridade do amor na unicidade de Deus: “o nosso Deus é o único Senhor”. Este é o ponto fundamental do credo (fé) do povo de Israel. Precisamente porque é único, Deus deve ser amado de um modo radical e exclusivo. O amor a Deus deve envolver e comprometer todo o ser do homem: o coração, a alma, o entendimento e as energias.

            “Não estás longe do reino de Deus”. Jesus, por sua vez, também gostou e avaliou positivamente a apreciação que o escriba fez da sua resposta. Gostou da sinceridade das suas palavras e pressentiu que o escriba, para além de saber o que há de mais importante nos mandamentos, se esforçava por viver segundo o espírito dos mesmos. Gostou, de modo especial, que o escriba soubesse e defendesse que o amor é o elemento distintivo e mais valiosos da verdadeira religião. Na verdade, “amar… vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios”. Neste sentido, o escriba como que antecipa a revelação de Jesus sobre o culto que agrada realmente a Deus, o culto “em espírito e em verdade” (Jo 4,23). Finalmente, Jesus deixa bem claro que os mandamentos, rectamente entendidos, conscientemente assumidos e coerentemente vividos, constituem o caminho do reino de Deus, a garantia da salvação eterna.

             “Não estás longe do reino de Deus”. Estás no bom caminho, estás próximo, mas ainda te falta percorrer parte do caminho. Quem está perto da meta, se desiste de correr, não alcança o prémio. É necessário perseverar no amor a Deus e no amor ao próximo até ao fim. Há sempre algo mais a fazer e um modo novo de o realizar. O Reino é um projecto para toda a vida.

         “ Muito bem, Mestre. Tens razão”. Tens o atrevimento e julgas-te no direito de examinares e avaliares os ensinamentos e a vida de Jesus? Qual é a tua atitude e a tua reacção diante do Mestre? Achas que Ele tem razão no que te ensina e te propõe? Consideras que Ele é um Mestre que merece a tua confiança e a quem podes seguir incondicionalmente? Dás-Lhe razão, quando Ele questiona as tuas verdades, as tuas opções morais e os teus comportamentos, os teus pontos de vista? Dás-Lhe razão, quando se mete contigo e exige mudanças na tua vida?

         Dás a razão a Jesus, quando Ele te pede que ames os teus inimigos e que perdoes sem limites a quem te ofende? Ou quando, depois de te perdoar os teus pecados, te diz: “vai e não voltes a pecar”? Aprovas Jesus, quando Ele diz: “não separe o homem o que Deus uniu”? E quando exige aos cônjuges: “não cometerás adultério”?

         Estás, ao menos, interessado em entender melhor as suas razões, as razões da verdade que Ele revela e das propostas de vida que Ele faz? Tens curiosidade suficiente para O interrogar e disponibilidade para escutar a sua resposta, como teve o escriba? Jesus responde às tuas perguntas nas respostas que dá no Evangelho e pode ajudar-te a compreender essas respostas através dos sacerdotes, dos catequistas e outras pessoas, se tu efectivamente quiseres.

         Pelo que conheces de ti mesmo, tendo presente o que fazes e o modo como vives, avaliando as tuas prioridades e os teus ideais, achas que Jesus pode dizer-te: “não estás longe do reino de Deus”? E preocupas-te, ao menos, com isso?

Pe. José Manuel Martins de Almeida