XXXII – Domingo Comum

“…para Ele todos vivem”

 

              Os saduceus não acreditam na ressurreição dos mortos e, atrevidos quanto baste, pretendem convencer Jesus da razão da sua descrença. Com esse objectivo, eles contam-Lhe a história da mulher dos sete maridos. Se os mortos ressuscitam, no dia da ressurreição, aqueles sete homens irão reivindicar a mulher como sua esposa, pois todos estiveram casados com ela. Isso provocará uma grande confusão entre eles e não será possível, nem mesmo a Deus, encontrar uma solução justa para o problema. À luz dessa situação, apenas imaginada por eles, parece-lhes mais lógico e mais conveniente que não haja ressurreição dos mortos.

            Os temores e a lógica dos fariseus caem facilmente por terra. Na verdade, “aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento”. A vida no Céu não se desenrola segundo o mesmo modelo, o mesmo tipo de relações e os mesmos critérios da vida na terra. Lá prevalecem o modelo e os critérios do amor de Deus, um amor que se dá e envolve a todos, sem excluir ninguém. Lá amamos como Deus ama.

            No Céu conheceremos e amaremos as pessoas que conhecemos e amamos nesta vida. O Céu não seria Céu, se lá não sobrevivessem o amor e os laços familiares. Porém, no Céu, o amor não se limita apenas à família e aos amigos que aqui temos, mas estende-se e abrange todas as pessoas. Lá viveremos com todos a plenitude do amor de Deus, sem quaisquer conflitos ou confusão. No Céu não há lugar para cenas de ciúme nem para conflitos conjugais! Lá não vai haver disputas entre os homens por causa das mulheres, nem entre as mulheres por causa dos homens.

            E que os mortos ressuscitam, di-lo Deus claramente quando se apresenta a Moisés como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob. Ao identificar-se como o Deus dos patriarcas, no caso dos patriarcas já não viverem, Dus não se convenceram com os argumentos de Jesus e permaneceram na sua descrença. Quem se fecha sobre si mesmo, quem considera apenas as suas razões, quem assume os seus pontos de vista e as suas concepções como verdades absolutas não é capaz de entender as razões de Deus e aceitar a sua verdade. Esses preferem defender teimosamente “a verdade” dos seus erros.

            Bem diferente é a atitude dos jovens judeus que aceitam morrer antes que violar a lei dos seus pais, antes que renegar as suas crenças (primeira leitura). Estes sete irmãos enfrentam corajosamente a morte porque acreditam que esta não constituirá o termo definitivo das suas vidas. Eles confessam: “temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará”. O segredo da sua coragem e da sua determinação reside na fé que têm em Deus, no Deus que ressuscita para a vida eterna aqueles que lhe são fiéis.

             Aquele que realmente acredita e vive com coerência a sua fé é, muitas vezes, incompreendido e maltratado, desprezado e perseguido, excluído e condenado. Mas da mesma fé, pela qual sofre, o cristão tira a força para suportar o sofrimento sem renegar a fé. Mesmo quando sofre por Cristo, o cristão não perde a lucidez da fé, não esquece as razões porque acredita, não deixa de olhar o futuro e de esperar a vida eterna.

            Os saduceus, prisioneiros das suas certezas e das suas verdades, recusam abrir-se aos horizontes de Deus e da eternidade. Vivem felizes na mediocridade do seu presente, não estando dispostos a enfrentar os desafios e as exigências de um futuro eterno.

            Nós acreditamos no Deus dos vivos, o Senhor da vida. Acreditamos em Jesus Cristo e na sua ressurreição. Por isso, acreditamos na ressurreição dos mortos e na vida eterna. É esta fé que nos impele a viver com intensidade o presente e olhar com esperança o futuro – o futuro que vence as próprias fronteiras da morte.

Pe. José Manuel Martins de Almeida