No cumprimento de ordens de um Bispo Diocesano, que falava, falava, mas poucos o entendiam a sua mensagem, foi nomeado Pároco do Telhado (Fundão), nos anos de 1969 a 1971.
Encontrou uma Freguesia (com a anexa Freixial) de gente que luta pela sobrevivência, na labuta em olarias familiares, na cerâmica, no fabrico de tijolo, no azeite, na pastorícia e na agricultura.
Segundo documentos e a tradição, esta Povoação tem as suas origens no Lugar da Senhora das Carantonhas, onde hoje existe a Capela da Senhora da Rosa, que foi construída nos tempos de D. Sancho I. Também na Freguesia do Telhado têm aparecido muitos vestígios romanos.
Reprodutor de áudioÉ neste cenário populacional, histórico, laboral e religioso, que João Maximino Fragoso, natural de Penalobo (Sabugal), um viveiro de vocações consagradas, toma conta de uma comunidade cristã, com a companhia de seus pais. Neste contexto, visitava com muita assiduidade o meu conterrâneo Padre Manuel Joaquim Martins em Aldeia de Joanes (Fundão). Aqui o conheci, e dada a nossa vizinhança natural e concelhia sabugalense, logo partilhámos amizade. São assim as gentes sabugalenses…
Recordo que o Padre João Fragoso tinha uma enormíssima paixão: esquiar na Serra da Estrela sempre que possível. Duas ou três vezes acabei por lhe fazer companhia, e lá seguimos a caminho do maciço central da Serra, na carochinha, um volkswagen branco, com fitas plásticas de diversas cores no volante. Esforçava-se para que eu aprendesse a navegar naquele mar branco, mas não tinha arte nem engenho para aquelas atividades desportivas, acabando sempre em trambolhão. Arte e engenho eram qualidades do Padre João Fragoso, deslizando com elegância e perícia sobre a neve.
Nada melhor do que ir ao encontro das pessoas que o conheceram, que conviveram: vox populi, vox Dei.
Alzira Morais Henriques Lambelho – Agricultora
“O Padre João em dias de nevão na nossa Freguesia esquiava pelas ruas da aldeia, e o mais interessante é que entusiasmava as crianças a esquiar. Levava-as às costas e ele ali ia na neve. Era um encanto, era muito bonito, o seu entusiasmo e a natureza branca.”
Belarmino Barata Pereira – Vendedor
“Era eu um jovem quando o Padre João veio para o Telhado, substituir o Padre Manuel Salcedas, um homem popular, um jurista e defensor do Povo, que gostava tanto de beber, como de oferecer um ou mais tintos.
O Padre João chegou a levar-me para a Serra da Estrela para praticar esqui. Um dia não conseguimos chegar ao nosso objetivo e tivemos de subir com todo o material desportivo mais de uma hora. No regresso, quis que viesse a esquiar e demorámos menos de cinco minutos. Tive uma grande sensação de liberdade, mas só descansei o coração quando cheguei perto do carochinha sem qualquer problema. Nunca mais pensei andar de esqui, apesar de ter o apoio do Padre João Fragoso”.
Álvaro Rodrigues Raposo – Agricultor
“Chegou aqui no Outono de 1969, estando por cá cerca de três anos. Um dia foi para França para desempenhar funções na Pastoral dos Emigrantes, e nunca mais regressou. O Padre João era um padre desportista, um amante da neve. Nunca conheci igual. Um bom padre…Sabe que tenho cinquenta e dois anos de serviço de sacristão no Telhado, até que há tempos um pároco me faltou ao respeito, esqueceu-se deste tempo e abandonei as funções. Nos tempos do Padre João percorriam-se todas as casas e quintas a fim de se realizar a Visita Pascal. Era um bom homem… A minha vida dava um grande livro…”
Maria Teodora de Sousa Gomes – Utente do Lar o Teto do Telhado
“Fiz o Crisma com o Padre João, que era meu vizinho, na Rua de Santa Luzia do Telhado. Sabe que um dia foi para França e por lá ficou. Passados muitos anos veio ao Telhado e veio cumprimentar-me. Vinha com ele uma senhora e um menino, e, disse-me que agora já não era padre, era o senhor João. Apresentou-me a sua esposa e o seu filho. Eu respondi-lhe que para mim foi e será sempre o senhor Padre João e tem aí duas lindas jóias…”
A D. Maria aconselhou-me a ir visitar a Casa Paroquial, há anos em obras de reparação, onde se assiste à agonia de um confessionário e um andor encostados a uma centenária oliveira. Quem deve estar muito triste e chorosa é a Santa Luzia, na sua Capela sinaleira, cujo culto é mais antigo do que o da Romaria do Castelejo…Muito triste por ver a casa do pastor do seu rebanho naquelas condições. Sinais dos tempos.
Há tempos numa das muitas entrevistas ao escritor António Lobo Antunes, li que “este Papa dá-nos uma imagem humana de Deus”. Também concluo, das opiniões recolhidas e dos contatos, que o Padre João Maximiano Fragoso também nos deu essa imagem humana de Deus.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Janeiro-2015